ADMINISTRAÇÃO SUPERIOR

Em entrevista à UnBTV, professora eleita pela comunidade para o quadriênio 2024-2028 compartilha planos para temas estratégicos da Universidade

 

A Universidade de Brasília está sob nova direção: Rozana Naves assume a reitoria para o ciclo 2024-2028. A docente já foi diretora do Instituto de Letras (IL) e esteve à frente do Decanato de Administração (DAF) e da coordenação do Programa de Pós-Graduação em Linguística (PPGL/IL). A cerimônia simbólica de transmissão de cargo ocorreu na quinta (21). A nomeação da Presidência da República para o início do mandato foi publicada no Diário Oficial da União em 22 de novembro.

 

A UnBTV entrevistou a nova reitora para um vislumbre das primeiras medidas de sua gestão. Temas como autonomia e modernização universitária, condições de trabalho dos servidores, formação de equipes, integração dos campi, divulgação científica e desenvolvimento sustentável estiveram em pauta. É possível assistir à entrevista em vídeo ou ler a transcrição a seguir.

 

UnBTV: O que te motiva para o desafio de assumir o cargo de reitora de uma das universidades mais importantes do Brasil?

 

Rozana Naves: É um desafio enorme. A Universidade de Brasília tem um conjunto de docentes, técnicos, estudantes que nos motivam a pensar o país do futuro, como queria Darcy [Ribeiro]. Nosso programa [de campanha] foi muito pautado nesse desejo de recolocar a Universidade de Brasília no centro das discussões importantes para o país e para o mundo. Temos a previsão de trazer para a Universidade de Brasília uma nova vida em termos de esporte, arte, cultura e relacionamento com a cidade e com o Distrito Federal. Também queremos trabalhar muito na perspectiva da pesquisa e da inovação nos temas que são importantes para a humanidade neste momento, em particular, as questões da emergência climática e o desenvolvimento da inteligência artificial.

 

UnBTV: Nos últimos anos a evasão universitária cresceu, ao mesmo tempo em que o ingresso de estudantes caiu. Que medidas você pretende implementar para poder atrair os jovens para a universidade pública e permitir que eles permaneçam?

 

Rozana Naves: A atração dos jovens passa por diversas dimensões. A gente tem, em primeiro lugar, que reforçar o nosso contato com a educação básica. Isso envolve estratégias de ampliação da participação da sociedade no universo da UnB, trazendo a juventude para os campi, para além do momento da Semana Universitária. Essa vai ser uma prioridade na nossa gestão.

 

Ampliar e modernizar os laboratórios de graduação e, com isso, modernizar a própria estrutura dos currículos de graduação com novas perspectivas de utilização de metodologias ativas também torna os currículos atraentes e pensa as profissões do futuro. Com isso, a gente entende que o jovem deve se interessar mais pela instituição.

 

Paralelamente, é preciso que a Universidade dialogue com o Ministério da Educação na construção da nova política nacional de ensino de graduação, que está sendo discutida. É preciso uma participação ativa nossa e nas questões de permanência também. Agora que a gente tem uma nova Política Nacional de Assistência Estudantil [Pnaes], [devemos] pensar alternativas não só de bolsas de assistência, mas de outras formas de atividade que mantenham o estudante na Universidade durante o período do seu curso.

 

UnBTV: Qual é a sua avaliação sobre o Programa de Gestão e Desempenho (PGD) na instituição? Há uma pretensão de ampliá-lo?

 

Rozana Naves: O Programa de Gestão e Desempenho, na minha avaliação, é um modelo de trabalho que veio para ficar. A gente não tem perspectiva de retorno à presencialidade total, porque parte do desempenho pode, sim, ser muito bem desenvolvida nessa modalidade remota. A gente viu isso com a pandemia [de covid-19], fizemos uma experimentação. Claro que o modelo era diferente, porque a gente estava em um remoto emergencial, mas é preciso consolidar agora as bases para uma Universidade que funciona presencialmente, mas que pode desenvolver suas atividades administrativas de forma remota.

 

É um modelo que precisa ir passando por avaliação, como qualquer política pública, mas eu penso que é muito difícil voltar atrás, porque trata-se da modernização das formas de trabalho, da relação entre o trabalho presencial – que é necessário, porque a gente trabalha com interação, com ensino –, mas podendo ser realizadas atividades administrativas à distância.

 

UnBTV: Uma promessa de campanha foi desburocratizar sistemas. Como isso vai ocorrer e qual é a importância de simplificar os trâmites?

 

Rozana Naves: Agora, durante o processo de transição, constituímos um grupo de trabalho para tratar justamente dos processos de pesquisa e inovação, na perspectiva de compreender como os fluxos foram se burocratizando ao longo do tempo e de entender como, mantendo a segurança jurídica, poderemos eliminar algumas etapas. Temos tido contato na Procuradoria Federal, com pessoas que estão estudando o tema na perspectiva jurídica, e no nosso grupo de trabalho, com pesquisadores que estão na linha de frente da pesquisa e da inovação. Ou seja, estamos ouvindo a comunidade para fazer ajustes no fluxo dos processos.

 

Para além disso, temos observado que há uma profusão muito grande de editais, o que é muito bom. Mas, na medida em que a gente consiga desenvolver programas conjuntos, com relatos que visem a esse desenvolvimento do país e do mundo e da Universidade de Brasília integrada a essas pautas, a gente entende também que o número de prestações de contas, de inclusão de documentos nos sistemas, pode ser bastante reduzido.

 

Então, é por essa linha que a gente pretende atuar e, sobretudo, distinguindo instrumentos internacionais, tipos de instrumentos legais que são assinados, porque, assim, poderemos elaborar um processo mais customizado e com menos carga de trabalho para os docentes e também para os técnicos que dão suporte a essas atividades.

 

UnBTV: Como está o processo de composição das novas equipes de gestão?

 

Rozana Naves: A gente tem conversado com as unidades. Os últimos 60 dias foram de muitas visitas, de muito contato com grupos diferentes em determinados setores. A gente está fazendo um processo de transição gradual. Vamos primeiro substituir os decanos – com base em critérios que a gente tem dito técnicos, mas também de representação: pessoas que têm diálogo com os órgãos externos que nos apoiam, como Capes [Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior], CNPQ [Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico], FAPDF  [Fundação de Apoio à Pesquisa no DF] ou contatos no governo. É importante essa relação da Universidade com o poder público, mas sem deixar de lado o conhecimento técnico sobre a área. Nesse sentido, a gente vai fazer primeiro a substituição da equipe central e, aos poucos, vamos seguir no diálogo com as unidades, fazendo a substituição dos demais gestores. Prometemos diálogo e assim está sendo feito.

 

UnBTV: Quais são os seus planos para melhor integrar os campi?

 

Rozana Naves: Essa integração passa por uma transversalidade de ações que podem ser direcionadas por meio de editais, pela possibilidade de mobilidade dos estudantes. A gente falou muito de trazer de volta o transporte intercampi durante a campanha. Essa é uma das prioridades da gestão. Se tudo der certo, a gente quer começar o primeiro semestre letivo de 2025 já com o intercampi de volta, com uma política definida. Sobretudo, queremos transversalizar, como eu disse, a área de esportes, arte e cultura – deixar de concentrá-la aqui no Darcy [campus Darcy Ribeiro] e levar essas atividades também para os [outros] campi, em integração com os territórios de Ceilândia, Gama e Planaltina, de maneira que a gente consiga atrair também aquela população local para dentro da Universidade.

 

UnBTV: Em tempos de emergência climática, quais são suas propostas para a questão ambiental?

 

Rozana Naves: Manter o fluxo de modernização. Transição energética da Universidade de Brasília segue sendo uma pauta, está na ordem do dia. As usinas fotovoltaicas precisam estar em operação. Isso tem um impacto importante também para o orçamento da Universidade: vai reduzir nossa conta de energia, assim esperamos. E a gente tem outras ações que também são prioritárias e que vão colocar a Universidade de Brasília no contexto da discussão sobre emergência climática. Uma delas é a criação do Instituto do Clima. Logo que a gente possa, a gente vai constituir um grupo de trabalho com parceria governamental para alavancar esse instituto. Vamos também criar o selo nacional de eficiência energética, voltado para a área da educação. Então, há várias propostas de incentivo e de promoção do desenvolvimento ambiental sustentável que a gente quer capitanear, não só localmente, nacionalmente também.

 

UnBTV: E quais são as propostas para a pós-graduação e para a pesquisa?

 

Rozana Naves: A pós-graduação vai passar agora por uma grande reforma nos seus processos de avaliação. Isso tem sido discutido na Capes. A gente tem acompanhado bem de perto as discussões e pretendemos também, junto à comunidade acadêmica, trazer essas novidades. O grande diferencial, nos parece, é voltar para a qualidade da produção em pesquisa e pós-graduação. Hoje a nossa avaliação é muito quantitativa, essa é uma questão que está sempre colocada à prova. Então, ter um olhar qualitativo para a nossa produção, pensando também a internacionalização da Universidade, das pesquisas e, para além disso, tratar a comunicação científica como um dos elementos que aproximam a universidade da sociedade, para além de contribuir enormemente para os indicadores da pós-graduação. Estamos com planos de discutir, inclusive com a UnBTV, com a Secom [Secretaria de Comunicação da UnB], quais formas e que modelos de comunicação integrada a gente pode fazer para contribuir com os programas de pós-graduação nas divulgações das suas pesquisas e dos seus resultados.

 

UnBTV: Como garantir a autonomia universitária, tanto acadêmica como financeira?

 

Rozana Naves: Na nossa concepção, a autonomia universitária interna, acadêmica, passa por abrir a discussão sobre as políticas internas para a comunidade, ou seja, implementar de forma direta o modelo de gestão participativa que a gente propôs na campanha. Então, também vamos constituir um grupo de trabalho para desenvolver esses mecanismos de planejamento, de orçamento participativo, que vai nos garantir uma autonomia na utilização dos recursos. De outro lado, é preciso pautar a autonomia universitária nos fóruns externos, desde Andifes [Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior] até o Governo Federal, junto ao Ministério da Educação e ao Ministério da Gestão e Inovação de Serviços Públicos, para que a gente possa exercer essa autonomia na sua integralidade.

 

*com informações da UnBTV.

 

ATENÇÃO – As informações, as fotos e os textos podem ser usados e reproduzidos, integral ou parcialmente, desde que a fonte seja devidamente citada e que não haja alteração de sentido em seus conteúdos. Crédito para textos: nome do repórter/Secom UnB ou Secom UnB. Crédito para fotos: nome do fotógrafo/Secom UnB.