É oficial: agora, todas as unidades federativas do país possuem casos confirmados da Covid-19, doença causada pelo novo coronavírus (SARS-Cov2). A informação foi divulgada pelo Ministério da Saúde na tarde do último domingo (22). Até o momento, o Brasil registra mais de 40 mortes e mais de 2 mil casos confirmados da doença. No DF, quase 200 pessoas testaram positivo para o novo coronavírus.
A fase de transmissão sustentada da doença ocorre quando o vírus já circula livremente e há transmissão de uma pessoa para a outra sem que haja vinculação com países infectados anteriormente ao Brasil ou com indivíduos infectados provenientes do exterior. O Ministério da Saúde utilizou o termo “transmissão comunitária nacional” quando declarou, na última sexta-feira (20), que reconhece o problema em todo o país, embora nem todas as regiões apresentem o mesmo nível de transmissão.
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O professor Wildo Araújo, epidemiologista do colegiado de graduação em saúde coletiva da Faculdade de Ceilândia (FCE/UnB), explica que, quando se fala em transmissão comunitária, significa que os casos já estão acontecendo nas comunidades, ou seja, uma pessoa infectada passa para outra no local em que convivem. “É a transmissão sustentada que se dá em determinada comunidade ou localidade. Não se dá dentro das unidades de saúde, se dá dentro das casas das pessoas, ou nos ambientes de trabalho, ou devido a quaisquer relações interpessoais que o paciente infectado tenha tido.”
Segundo Araújo, na fase de transmissão sustentada já não é possível criar elo entre indivíduos que vieram de fora do país infectados com a doença e pessoas que possam ter sido contagiadas na própria comunidade.
“É quando se perde a cadeia de transmissão, hipótese a partir da quarta geração de casos”, declara. “Por exemplo: um homem vem de fora do país com o vírus, chega em casa e contagia a esposa (segunda geração). Ela sai para trabalhar e passa para algum colega (terceira geração), o qual, ao chegar em casa, infecta outro membro da família (quarta geração).”
O docente ressalta que é importante as pessoas cultivarem hábitos de etiqueta respiratória permanentemente, tanto para se prevenir como para evitar a transmissão de doenças como a Covid-19, causada pelo coronavírus.
“Não é algo a ser aplicado apenas no caso da Covid-19, é para ser algo do dia a dia: ao tossir, usar o canto do braço flexionado, e não as mãos, para não espraiar gotículas no ar, protegendo não só você, mas também as outras pessoas; lavar bem as mãos com água e sabão, sempre que possível; usar lenço de papel e descartá-lo em local adequado [com tampa]. São procedimentos muito simples, que deveriam ser feitos já há tempos, e que favorecem à menor dispersão de vírus respiratórios e também reduzem a infecção de outras pessoas”, orienta.
Wildo Araújo acrescenta que, em tempos de transmissão sustentada, deve-se intensificar esses cuidados e, ainda, evitar aglomerações desnecessárias, evitar contato com população sob risco aumentado, lavar as mãos com frequência ou usar outros antissépticos como álcool em gel 70%.
VÍRUS NAS SUPERFÍCIES – O SARS-Cov2 sobrevive por períodos diversos em locais diferentes, como na roupa, no corrimão de metal do ônibus, no brinquedo de plástico, na porta de madeira. De acordo com artigo publicado em The New England Journal of Medicine, o novo coronavírus pode permanecer ativo por até 72 horas no plástico; já em partículas minúsculas de saliva, sobrevive por até três horas (veja arte).
“Depende da superfície, pois são diferentes e podem reter mais ou menos moléculas orgânicas”, explica o professor Bergmann Ribeiro, virologista do Instituto de Ciências Biológicas da UnB (IB). “Como o vírus possui uma cobertura de gordura, chamada envelope, ele é sensível a substâncias que degradam gordura, como sabão ou detergente, solventes orgânicos apolares (com afinidade para gordura), hipoclorito de sódio (água sanitária) e álcool.”
A frequência com que se deve limpar ou desinfetar o ambiente depende do movimento de pessoas entrando e saindo: mais movimentação sugere maior frequência também.
“Como esse vírus é novo, estamos – há menos de três meses – conhecendo seu comportamento no ser humano com os dados de infecção em outros países”, pontua o virologista.
Até onde se sabe, as estimativas indicam que uma pessoa com Covid-19, geralmente, transmite a doença para mais três pessoas. Para se ter ideia, é mais do que no caso da gripe comum (influenza), em que a taxa é pouco maior do que um, e menos do que o apresentado no caso da catapora, cuja taxa de transmissão é pouco mais do que sete. “Mas o coronavírus SARS-Cov2 é contagioso o suficiente para se espalhar rapidamente”, alerta Ribeiro.
Com relação à letalidade e à cura desta doença, o mundo está descobrindo agora. O professor esclarece que o que se sabe até o momento, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS) deriva de 55.924 casos de infecção na China. Esses dados apontam que o período de incubação, aquele em que o vírus se replica nas células da pessoa até gerar a doença é de um a 14 dias, sendo que a média para aparecimento de sintomas pós-infecção é de cinco a sete dias.
“A maioria das pessoas infectadas com SARS-Cov2 tem doença leve e se recupera”, afirma o docente. Aproximadamente 80% dos pacientes confirmados em laboratório tiveram doença leve a moderada, que inclui casos de não pneumonia e pneumonia, 13,8% tiveram doença grave e 6,1% apresentaram quadros críticos.
“Teremos mais detalhes depois que passar essa pandemia e os dados forem analisados pelos cientistas”, conta Bergmann Ribeiro.
Formalmente, a fase de recuperação de uma epidemia em um país se dá quando há redução da incidência de casos ao longo do tempo, ou seja, quando começam a diminuir os números de casos novos e não há mais transmissão sustentada da doença.
UNIVERSIDADE EM AÇÃO – A UnB, por meio do Comitê Gestor do Plano de Contingência em Saúde da Covid-19 (COES) e com suporte da Sala de Situação da Faculdade de Ciências da Saúde (FS), da Faculdade de Medicina, dos institutos de Psicologia (IP) e de Ciências Biológicas (IB) e do HUB, além de representantes das principais unidades administrativas, tem trabalhado intensamente para monitorar, diariamente, dados, evidências e estudos científicos sobre a pandemia para atualizar a comunidade acadêmica com informações seguras.
Formado por 22 especialistas em epidemiologia, virologia, infectologia e imunologia, servidores técnico-administrativos e discentes dos quatro campi, o comitê foi criado sob a presidência do Decano de Assuntos Comunitários (DAC), professor Ileno Izidio da Costa, em articulação com a Diretoria de Atenção à Saúde Comunitária (Dasu/DAC), sob direção da professora Larissa Polejack.
Vinculado ao Gabinete da Reitora (GRE), compete ao Comitê realizar ações, orientações e prestar consultoria à Administração Superior da Universidade de Brasília, de forma sistematizada e especializada, acerca de ocorrências relacionadas à Covid-19 na UnB, em consonância com as diretrizes da Organização Mundial de Saúde, do Ministério da Saúde, da Secretaria de Saúde do Governo do Distrito Federal e do Plano de Contingência da UnB, que é atualizado constantemente.
Além das ações voltadas à Universidade, o comitê tem atuado junto aos órgãos do Distrito Federal e do governo federal no entendimento do atual contexto da pandemia. Documentos, sites e recomendações de autoridades públicas e da Universidade sobre o assunto estão disponibilizados no portal da UnB. A comunidade acadêmica também pode buscar essas informações e orientações pelos e-mails da COES (Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.) e da Sala de Situação da FS (Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.)
Há ainda um canal tira-dúvidas com perguntas e respostas sobre as alterações de funcionamento da Universidade de Brasília durante o enfrentamento da crise.
A UnB foi uma das primeiras universidades no Brasil a se organizar para monitorar a epidemia. A Sala de Situação da FS acompanha o avanço do coronavírus desde o último mês de dezembro.
NOVO CORONAVÍRUS – O novo agente (SARS-Cov2), que faz parte de uma família de (corona)vírus que causam infecções respiratórias, foi descoberto em 31 de dezembro de 2019, após casos registrados na China da doença Covid-19 (“Covi” significa coronavírus, “d” de disease – doença, em inglês – e 19 é o ano em que surgiu, em referência a 2019).
Segundo o Ministério da Saúde, os coronavírus humanos foram isolados pela primeira vez em 1937. No entanto, apenas em 1965 foram descritos com a nomenclatura coronavírus, em decorrência do perfil observado na microscopia, que parece uma coroa.
Geralmente, infecções causadas por essa família viral causam doenças respiratórias leves a moderadas, semelhantes a um resfriado comum. Porém, alguns coronavírus podem causar doenças graves com impacto em termos de saúde pública, como já verificado com a Síndrome Respiratória Aguda Grave (SARS), identificada em 2002, e a Síndrome Respiratória do Oriente Médio (MERS), detectada em 2012.
O Ministério afirma ainda que a maioria das pessoas tem contato com os coronavírus comuns ao longo da vida, mas crianças pequenas são mais propensas a se infectar com eles, sobretudo com os tipos alpha coronavírus 229E e NL63, beta coronavírus OC43, HKU1.
REMÉDIOS E VACINA – Até hoje, ainda não há um medicamento recomendado pelos órgãos de saúde para evitar ou tratar o novo coronavírus. Existem vários laboratórios de universidades e de empresas privadas com pesquisas em desenvolvimento quanto a diversas drogas e possíveis vacinas. Os cientistas usaram a informação sobre a sequência do genoma do vírus, disponibilizada rapidamente, para começar tais atividades.
Há estudos considerados promissores no meio científico para o combate à Covid-19, mas a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) é categórica ao não recomendar ainda a utilização das substâncias em fase de testes; alerta, ainda, que a automedicação pode representar grave risco à saúde.
Veja no vídeo produzido pela UnBTV sobre o que ocorrerá depois da crise:
Confira a cronologia de publicações da UnB sobre o coronavírus:
>> Ato da Reitoria cria Comitê de Pesquisa e Inovação para enfrentamento da emergência de saúde pública decorrente do coronavírus
>> Informe sobre suspensão do calendário acadêmico
>> Nota de esclarecimento sobre caso de Covid-19 de estudante da UnB
>> Diretores discutem possibilidades para o calendário acadêmico
>> Ato vincula COES ao Gabinete da Reitora
>> Conheça as fases de uma epidemia e saiba como se prevenir
>> Chefe de gabinete elucida questões sobre funcionamento administrativo da UnB
>> Especialistas orientam sobre medidas para proteger a população do coronavírus
>> Recomendações oficiais do Comitê Gestor da UnB (COES) sobre o novo coronavírus (SARS-Cov2) e a Covid-19 (doença instalada)
>> Informe sobre funcionamento administrativo da UnB no período de suspensão de atividades acadêmicas presenciais
>> Prorrogação do período de suspensão das atividades presenciais
>> Nota do Comitê do Plano de Contingência em Saúde do Covid-19 atualiza informações
>> Informe sobre suspensão de atividades presenciais na UnB
>> Informe sobre coronavírus e atividades acadêmicas
>> Nota do Comitê do Plano de Contingência em Saúde do Covid-19
>> Com aulas prestes a começar, comitê instituído para monitorar o Coronavírus na UnB dá instruções
>> Diretores recebem orientações sobre prevenção e contenção do Coronavírus
>> Nota sobre as ações de prevenção na UnB