INOVAÇÃO

UnB, Fundação Hemocentro de Brasília e Secretaria de Saúde do DF buscam voluntários que tiveram a doença moderada

Plasma sanguíneo de pessoas recuperadas de Covid-19 pode ser solução para combater o novo coronavírus. Foto: André Borges/Agência Brasília

 

O plasma sanguíneo de pessoas que foram infectadas pelo novo coronavírus e já se curaram pode ser a solução para melhorar a situação de atuais pacientes com a doença na forma moderada. Pode, ainda, ser o caminho para cientistas encontrarem a cura para a Covid-19 e também a prevenção, por meio do desenvolvimento de novos medicamentos. Estas são hipóteses que o professor da Faculdade de Medicina da Universidade de Brasília André Nicola deseja comprovar.

 

Ele coordena um projeto de pesquisa desenvolvido em conjunto entre UnB, Fundação Hemocentro de Brasília e Secretaria de Saúde do Distrito Federal, que busca 250 voluntários para participar do ensaio clínico.

 

“Planejamos coletar plasma de 50 doadores. Isso será utilizado para tratar cem pessoas com Covid-19, que serão comparadas a outras cem pessoas que não receberão o plasma”, conta o docente.

 

Segundo Nicola, pesquisas com plasma de convalescentes para terapia da Covid-19 também estão sendo desenvolvidas em outras localidades, como Rio de Janeiro (HemoRio), São Paulo (Hospitais Albert Einstein e Sírio-Libanês), Ribeirão Preto (USP) e Santa Catarina (Hemosc).

 

Embora todos estejam testando a segurança e a eficácia da técnica, o projeto desenvolvido pelos três órgãos em Brasília tem alguns diferenciais.

 

“No ensaio clínico, nosso foco é em pacientes com Covid-19 moderada. Tem toda uma explicação biológica que nos leva a acreditar que o plasma possa ser mais eficaz em um momento da doença em que o paciente ainda não esteja tão mal”, pontua Nicola.

 

A expectativa é que aqueles que recebam o plasma não evoluam para formas graves da doença ou mesmo se curem – resultado positivo não só para cada uma dessas pessoas, mas também para a saúde pública do país. Afinal, menos doentes evoluindo para formas graves significa menor demanda de leitos de UTI e de respiradores, o que desafoga o sistema de saúde.

Professor André Nicola, da Faculdade de Medicina da UnB, coordena projeto de pesquisa que envolve também Hemocentro de Brasília e Secretaria de Saúde do DF. Foto: arquivo pessoal

 

Outro diferencial do projeto, segundo o professor, é a proposta de fazer testes com os anticorpos do plasma dos doadores em laboratório. “Em vez de simplesmente coletar o plasma de um doador e injetar em um receptor, propusemos fazer uma série de testes com esse plasma para quantificar os anticorpos contra o novo coronavírus. Há algumas evidências de que isso possa nos ajudar a só transfundir o plasma de quem produz muitos anticorpos contra o vírus”, declara.

 

Além disso, UnB, Hemocentro e Secretaria de Saúde do DF pretendem também avançar em desenvolvimento tecnológico, a partir do ensaio clínico proposto.

 

“A ideia básica é usar o material colhido dos doadores para gerar um tipo de substância chamada anticorpo monoclonal, que é a base de vários fármacos que estão no mercado hoje em dia. Após seu desenvolvimento, é possível produzir milhares ou milhões de doses desses anticorpos, que podem ser usados para tratar, diagnosticar ou mesmo prevenir a doença em pessoas com alto risco, como profissionais de saúde”, explica André Nicola.

 

Em resumo, a intenção é usar o plasma para resolver a questão mais imediata dos pacientes com Covid-19 moderada e desenvolver anticorpos monoclonais para resolver o problema do novo coronavírus a mais longo prazo.

 

Normalmente, o desenvolvimento de novas drogas leva aproximadamente dez anos e custa por volta de um bilhão de dólares. Em época de pandemia, entretanto, foi possível diminuir esse tempo. “Não dá para saber quanto tempo poderá levar ainda, mas talvez uns três anos, pelo menos, na nossa realidade brasileira”, projeta.

 

Para o professor, a pesquisa com plasma de pessoas recuperadas e pacientes internados na enfermaria de hospitais – ou seja, que não estão com doença tão leve que os permita ficar em casa nem tão grave a ponto de precisarem de internação em UTI ou de ventilação mecânica – pode significar esperança neste momento em que os casos têm crescido em todo o Brasil.

 

“Pesquisas anteriores com outras doenças fazem muitas pessoas acreditarem que o plasma de convalescentes é uma das mais importantes ferramentas nesse momento. O plasma dos sobreviventes já está disponível, não precisa esperar fabricação, importação, etc. É uma intervenção que pode ser feita agora. E pode ser feita aqui, por nós mesmos. O Hemocentro de Brasília (e muitos outros no Brasil) têm tudo o que é necessário para essa terapia. E não tem patente envolvida, o plasma é doado gratuitamente”, avalia Nicola.

 

“Mas por enquanto isso são só hipóteses, precisamos de ensaios clínicos para saber se realmente é seguro e funciona”, reforça.

Doação do plasma sanguíneo é semelhante à doação comum de sangue. Foto: Jailson Sam/Ministério da Saúde

 

COMO PARTICIPAR – Os interessados em se voluntariar devem se inscrever por meio de formulário disponível na página eletrônica do Hemocentro de Brasília.

 

Após o preenchimento, a equipe de pesquisadores avaliará as respostas para definir quem pode, de fato, doar o plasma sanguíneo.

 

Por exemplo, pessoas com peso corporal muito baixo e mulheres que tiveram pelo menos uma gestação não estão aptas a participar – estas, no caso, podem ter no organismo um anticorpo capaz de causar no receptor uma doença pulmonar potencialmente grave.

 

Só então os candidatos serão contatados para compareceram a uma entrevista de seleção, que será realizada pelo Hospital Universitário de Brasília (HUB), e ali também passarão por exames para confirmar a cura da Covid-19. Eventualmente, em caso de necessidade, o plasma também poderá ser administrado a pacientes no HUB.

 

Vale ressaltar que todo o projeto será detalhado para os voluntários, com os riscos e benefícios, para que possam então assinar o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, caso aceitem participar. Outros procedimentos e exames darão sequência ao processo até que o Hemocentro entre em contato novamente com o candidato a doador e marque data para a coleta do plasma sanguíneo (plasmaférese).

 

“No dia da plasmaférese, a pessoa passará por uma triagem igual à que o Hemocentro faz com doadores de sangue. Isso inclui uma consulta com um profissional de saúde e a coleta de mais alguns exames de sangue, e em seguida é feita a coleta de plasma”, explica o docente André Nicola.

 

Ele lembra que os eventos adversos potenciais são os mesmos da doação de sangue: o doador pode sentir um pouco de dor ou ficar com uma mancha roxa na pele no local em que a veia é furada. Pode também ocorrer flebite, uma inflamação da veia, ou lipotimia, sensação de desmaio. “Tudo isso é o mesmo risco de qualquer procedimento de retirada de sangue, desses que a gente faz aos montes ao longo da vida”, esclarece.

 

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