OPINIÃO

Francisco Antonio Coelho Júnior é Doutor em Psicologia Social, do Trabalho e Organizações pela Universidade de Brasília (2009). Atualmente, é professor do Departamento de Administração, atuando, também, no Programa de Pós-Graduação em Administração (PPGA) da Universidade de Brasília.

Francisco Antonio Coelho Junior


Em toda e qualquer atuação profissional existem os bons profissionais e existem aqueles que não são tão bons assim naquilo que fazem. No caso específico da administração pública tal máxima também se faz verdadeira. Acontece que, arraigadas no inconsciente/imaginário popular, as pessoas já formaram enviesadas ideias pré-concebidas de que todo servidor público, indistintamente, é sinônimo de marasmo, de descaso com a coisa pública, de burocracia em excesso, de engessamento, de bater carimbo, ou mesmo de ineficiência.

 

Estas atitudes negativas estereotipadas perante o serviço público, em geral, encontram respaldo na sensação de falta de comprometimento ou mesmo de que todo servidor público tem desinteresse e é desmotivado para desempenhar seu trabalho.

 

Felizmente, toda unanimidade é reconhecidamente burra. A grande maioria dos servidores públicos vem se tornando mais bem qualificada, querem fazer a diferença e querem ser vistos como imprescindíveis ao alcance da missão da administração pública como um todo: atender aos interesses e demandas coletivas dos usuários-cidadãos.

 

O novo perfil de servidores públicos implica maior empoderamento, maior autonomia decisória, com visão sistêmica. Implica querer maior autonomia para realizar as tarefas, e menos burocracia.

 

A administração pública brasileira precisa, urgentemente, se tornar menos jurídico/administrativa, e mais gerencialista, de fato. Sua governança precisa ser continuamente aperfeiçoada e alicerçada em boas e eficazes práticas e princípios de moderna gestão. O impacto de suas ações precisa ser medido. O retorno sobre os investimentos feitos precisa ser avaliado.

 

Para isso, o planejamento tático e estratégico de ações é fundamental, mais do que a atual lógica perversa de se planejar somente em função do orçamento disponível. Os processos de trabalho, até mesmo com os adventos das novas tecnologias de informação e de comunicação, vêm se tornando muito mais céleres, rápidos, além de mais transparentes, e o controle social, por meio da participação popular, vem aumentando gradativamente.

 

O novo perfil vem considerando a importância de se estabelecerem desafios que sejam capazes de incentivar a que os indivíduos apliquem todo o rol de competências profissionais que possuem.

 

Desempenhar bem é sinônimo do alcance da missão da administração pública. Até mesmo a maturidade do profissional que atua servindo à população como um todo também vem sendo requerida, especialmente com competências relacionadas à resiliência, habilidade na resolução de problemas e enfrentamento de desafios (especialmente os relacionados às restrições orçamentárias). Quanto maior a autonomia decisória, maior a responsabilização.

 

Felizmente, a boa notícia é que a grande maioria dos servidores públicos, nos dias atuais, quer sim fazer a diferença à população, quer mostrar serviço, quer eficiência. Isto embora, ainda no imaginário popular, aquela pequena minoria insatisfeita que ainda permeia os modelos mentais quando se pensa em serviço público.

 

A mudança de paradigmas é gradual, não é da noite para o dia. Leva tempo, leva à mudança de mentalidade em relação a como se enxerga a função do servidor público no atual cenário gerencialista. Definitivamente, não é nada fácil de ser feita. Mas, é necessária.

 

Estigmas e preconcepções arquetipicamente arraigadas precisam ser duramente modificados, valorizando-se aqueles profissionais que sim, querem fazer a coisa andar. É preciso valorizar e reconhecer continuamente o esforço dos bons profissionais, de excelência, ao invés de ressaltar as intempéries daquela minoria de maus servidores públicos. Vamos tentar?

 

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