BOAS-VINDAS

Palestrante da #InspiraUnB, Elisa Lucinda mesclou música e poesia a reflexões sobre temas da atualidade durante recepção aos calouros

 

Elisa Lucinda emocionou o público durante #InspiraUnB, aula inaugural do semestre. Foto: Luis Gustavo Prado/Secom UnB

 

Nos palcos do Centro Comunitário Athos Bulcão, no campus Darcy Ribeiro, uma canção ecoava e acalentava os ouvidos de centenas dos novos estudantes recepcionados na UnB no início deste semestre letivo. “Marcha o homem sobre o chão / Leva no coração uma ferida acesa / Dono do sim e do não / Diante da visão da infinita beleza / Finda por ferir com a mão essa delicadeza / A coisa mais querida, a glória da vida / Luz do sol”, diziam os versos entoados pela cantora, atriz, poetisa e ativista das Nações Unidas (ONU) Elisa Lucinda, durante a aula inaugural #InspiraUnB, realizada nesta quarta-feira (7).

 

Dona de um extenso currículo no campo das artes, que engloba a participação em novelas, peças teatrais, shows, além da publicação de livros – são 18 ao longo da carreira –, Elisa emocionou e divertiu os recém-chegados, mas também os instigou, de forma criativa, a refletir sobre assuntos diversos durante a atividade de boas-vindas.

 

Ao resgatar em seu discurso o poder da palavra, a convidada trouxe à tona questões, como racismo, intolerância religiosa, autoconhecimento, coletividade, respeito e ancestralidade. Temáticas que também balizam a busca por uma UnB Mais Humana, título da campanha institucional de 2018, que homenageia os 70 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos e direciona as políticas e ações da Universidade. 

Calouros lotaram o Centro Comunitário para conferir palestra de Elisa Lucinda. Foto: Luis Gustavo Prado/Secom UnB

 

Defensora de causas das minorias, a palestrante convidou a plateia a ler, junto com ela, o artigo 19 da Declaração, que trata do direito à liberdade de opinião e expressão. Sob esse mote, ela pediu a todos, em tom descontraído, que refletissem sobre as mensagens que circulam por aí. “Gostaria que prestassem atenção nas palavras que são ditas todos os dias. Qual é o seu repertório de palavras? Que tipos de coisas você está preocupado em dizer? Quanto de injustiça você comete na sua fala?”, indagou aos presentes.

 

A poetisa considera que a necessidade de domínio e interpretação da palavra está em todo lugar: nas aulas de Humanas ou de Exatas, no convívio cotidiano, nas letras das músicas ouvidas. O que se profere pode definir quem somos, contribuir para a inserção social e a promoção de mudanças, mas também para fortalecer o preconceito e a exclusão.

 

Por ser negra, Elisa sentiu o peso de palavras racistas que já lhe foram ditas. Certa vez, foi confundida com uma pedinte em um supermercado por conta da cor de sua pele. “Quando eu cheguei à porta, perguntei onde tinha um carrinho. E me responderam: aqui não tem banheiro não”, narrou, relatando a tentativa de a retirarem do local. A situação só se inverteu quando foi reconhecida como atriz de novelas. Apesar da seriedade desse e de outros relatos expostos ao longo do evento, a poetisa não deixou de mostrar seu lado extrovertido.

 

Ao reconhecer o racismo como uma questão estrutural em nossa sociedade e frequentemente presente no discurso alheio, ela defendeu o conhecimento como arma para lidar com o problema. Em tempos de intolerância dominante nas redes sociais, ela recomenda: “Evitem o exercício do ódio, façam diferente. Se alguém te xinga, por exemplo, deixe aquela palavra ecoar. Ela volta como um bumerangue para quem falou. A pessoa não aguenta”.

 

MAIS HUMANIDADE, POR FAVOR – Elisa lembrou ainda como o individualismo leva à insensibilidade. Graduada em jornalismo – apesar de ter optado por se dedicar ao mundo das artes –, ela reconhece a importância de se buscar no ambiente acadêmico o autoconhecimento, o sonho, mas também a coletividade.

 

“Usem todas as suas armas, tudo que essa Universidade der, para se conhecerem e para trabalharem. Não no caminho do individual, mas, sim, do coletivo”, aconselhou. O encontro com o coletivo vem, segundo ela, da recuperação da noção de ancestralidade. “Acesse seu índio, seu negro”, recomendou, incentivando a aproximação com a sabedoria dos povos originários. 

O estudante Igor Morais aproveitou momento de autógrafos para conhecer pessoalmente a poetisa. Foto: Luis Gustavo Prado/Secom UnB

 

As palavras de reflexão também fluíram da boca de Elisa em forma de poesia e de música. Para falar brevemente sobre feminicídio, a palestrante evocou a música Feriado na Roça, do sambista Cartola, e deixou como mensagem final versos de seu poema Libação, seguida de uma canção com a qual exaltou a negritude: “Um brinde ao que está sempre em nossas mãos: a vida inédita à nossa frente e a virgindade dos dias que virão”. A convidada foi ovacionada pela plateia. 

 

Após a palestra, a poetisa recebeu o público em um estande ao lado do palco, onde autografou obras suas. Calouro do curso de Engenharia Mecatrônica, Igor Morais era um dos admiradores de Elisa. Ele aguardava, emocionado, para vê-la de perto. “Essa aula inaugural foi esclarecedora. Aproximou mais a Universidade do aluno. A meu ver, a intenção de mostrar uma UnB mais humana foi alcançada, principalmente com o discurso da Elisa, que me comoveu bastante”, relatou.

 

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Assista a seguir entrevista da UnBTV com Elisa Lucinda:

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