A formação de professores e a valorização da carreira docente estiveram no centro dos diálogos do X Encontro Nacional das Licenciaturas (Enalic) e do IX Seminário Nacional do Pibid. Os eventos realizados na Universidade de Brasília, entre os dias 7 e 10 de dezembro, contaram com 10.336 inscritos de todo o país. Apresentações de trabalhos, minicursos, palestras, instalações artísticas e mesas-redondas, presenciais e on-line, fizeram parte das dezenas de ofertas da programação, movimentando o Centro Comunitário Athos Bulcão, o Bloco de Salas de Aula Norte (BSAN) e o Pavilhão João Calmon (PJC), no campus Darcy Ribeiro.
Sediados pela primeira em vez em Brasília, o Enalic e o Seminário tiveram como tema o questionamento Memórias e Resistências: o que MAIS queremos como política de formação e valorização docente?. Promovidos pela UnB em parceria com o Fórum Nacional de Coordenadores Institucionais do Pibid (Forpibid-rp), os eventos anunciaram-se “como espaço de luta e resistência em defesa das políticas educacionais”, com o objetivo de fortalecer as licenciaturas, “considerando a trajetória de luta e resistência dos professores para a construção de uma sociedade mais ética, inclusiva, equitativa, com justiça social e responsabilidade ambiental, garantindo que o acesso à educação seja um direito humano universal”.
“Este evento tem sido extremamente enriquecedor e proporcionado reflexões em todos os aspectos da minha formação”, avaliou Márcio Barbosa, estudantes de Língua Portuguesa e Respectiva Literatura na UnB. “Cada oficina, relato e debate ampliou minha visão sobre o papel do professor, fortalecendo minha compreensão sobre a importância da formação inicial e contínua”, completa ele, que é contemplado pelo Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (Pibid) – um “pibidiano”, como são carinhosamente chamados os beneficiários da bolsa ofertada pela Coordenação de Pessoal de Nível Superior (Capes).
A estudante Adriana Oliveira tem avaliação similar. Motivada com o processo de formação em Língua de Sinais Brasileiras (Libras)/Português como Segunda Língua, ela pôde atuar em monitoria de minicurso destinado ao uso de recursos aplicáveis ao futuro profissional. “Temos tido interações que buscam facilitar o aprendizado de alunos surdos e Codas (filhos de pais surdos)”, explica a aluna da UnB, que pretende trabalhar com estudantes dos ensinos fundamental e médio.
As pibidianas Danielly Ferreira, Isabela Arantes, Karolina França e Yasmin Gabrielly formaram grupo em minicurso dedicado a práticas musicais. Estudantes de Pedagogia na UnB, elas elogiaram a atividade em que puderam explorar a musicalidade do corpo e entendem que a experiência pode ser reproduzida em sala de aula. “Estar aqui é muito importante para nossa formação. Tivemos contato e troca de experiências com pessoas de todo o país”, afirmou Yasmin. Elas foram conduzidas pela professora do Departamento de Música (MUS/IdA) Delmary Abreu e por seus orientandos de doutorado, Gustavo Aguiar e Hugo Leonardo Souza.
Esses e outros retornos têm sido reportados à coordenadora institucional do Pibid na UnB e membro da comissão organizadora, professora Jéssica de Almeida. “Estou próxima aos estudantes monitores e tenho escutado um feedback muito positivo deles, assim como dos professores que coordenam os minicursos”, observou ela, também docente do MUS. A coordenadora se mostrou entusiasmada com o protagonismo da Universidade nas diversas ações e chamou atenção para o inédito edital que selecionou os grupos musicais e o jingle oficial do evento.
INOVAÇÃO E ARTE – Oito eixos temáticos nortearam os trabalhos. Entre eles, os processos de ensino e aprendizagem, com ênfase na inovação, e as políticas públicas e identidade docente, focadas na carreira e na valorização de professores.
Os minicursos foram conduzidos por docentes da UnB e da educação básica e por estudantes vinculados ao Pibid-UnB. Eles trouxeram temas como o uso da inteligência artificial generativa na educação, contação de história para crianças surdas e criatividade de experimentação de baixo custo para ensinar física. Uma mostra de produtos educacionais expôs recursos como atlas e jogos aplicáveis à sala de aula.
A programação contemplou também o lançamento de 14 livros com a temática docente. E o ir e vir entre os locais de atividades foi embelezado pelas instalações Transbordar conhecimento formar oceanos e Florescer o Saber. A primeira trazia recados de participantes em cards com formato de gotas afixados na rampa de entrada do BSAN. No mesmo bloco, a segunda obra consiste em mural assinado pela pibidiana de Artes Visuais Mariana Soares, auxiliada pelas colegas Júlia Gruber, Maria Clara Nogueira e Maria Eduarda Holanda. A pintura traz elementos com alusão a saberes germinando a partir de um livro.
LEI PARA O PIBID – O Pibid conta hoje com mais de 80 mil bolsistas em 290 instituições. Um esforço central que perpassou atividades e discussões está na articulação para transformar o programa em lei. A ratificação da iniciativa como política de Estado tramita no Congresso Nacional e é um anseio dos professores em formação. O assunto foi tratado da cerimônia de abertura à leitura da Carta de Brasília, documento aprovado no encerramento dos eventos.
“Queremos que o Pibid seja lei, queremos que ele seja uma oportunidade para todos os licenciandos”, aponta trecho do penúltimo parágrafo do texto, lido alternadamente pelo diretor de Planejamento e Acompanhamento Pedagógico das Licenciaturas (Dapli/DEG), Paulo Lima Junior, e pela presidente do Forpibid-rp, Cristiane Antonia Hauschild.
PRÊMIO PAULO FREIRE – Na manhã de encerramento do Enalic, dez trabalhos acadêmicos de estudantes de licenciatura, dois por região, foram reconhecidos com o Prêmio Paulo Freire. “Estou muito feliz. Esse é o meu primeiro congresso fora do estado, é muito gratificante”, disse Humberto Hinnis, licenciando em História pela cearense Faculdade de Educação e Ciências Integradas de Crateús (Faec/Uece) e um dos vencedores do Nordeste.
O estudante enfatiza que o prêmio é fruto de esforço coletivo e traz reconhecimento para a ciência produzida no interior do Brasil. O trabalho premiado é intitulado Sertão, anticolonialismo e interseccionalidade: ensino de história, passados vivos e educação em questões sensíveis no Fórum de Professores de História em espaços não hegemônicos e tem a coautoria de Emanuella Goés e Caio Pinheiro.
“É uma felicidade. Esse prêmio é fruto de muita dedicação, choro e suor”, afirma Nicole Sones, uma das vencedoras do Sudeste. Em parceria com Yasmin Pavuna, Vanessa Masquio e Maria Margarida Gomes, a estudante de Química da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) submeteu o trabalho “Eu não sei o que é”: ações do Pibid/Ciências/UFRJ diante dos desafios de letramentos na transição escolar. Segundo Nicole, a obra resulta da observação das dificuldades enfrentadas por discentes e docentes de seu estado na segunda etapa do ensino fundamental.
Quer saber mais sobre o Pibid? O programa Diálogos, da UnBTV, traz um bate-papo sore o histórico do programa. Confira a seguir:
