A Universidade de Brasília recebeu, nesta terça-feira (13), a primeira palestra do ciclo de conferências Diálogos Contemporâneos. Iniciativa do Ministério da Cultura apoiada pelo Conselho de Direitos Humanos da UnB (CDHUnB), o evento ocorre até junho, com seminários coordenados na capital federal e em Campo Grande, Mato Grosso do Sul.
Na UnB, os seminários acontecem sempre no anfiteatro 9 do ICC. A palestrante do encontro inaugural foi a escritora, filósofa e professora universitária Márcia Tiburi, que já havia levado o tema Vozes Dissonantes: Ética, Liberdade e Autoritarismo na Internet ao público sul-mato-grossense na noite desta segunda-feira (12).
Ela deu início à conversa contando sobre um incidente ocorrido na oportunidade. Durante sua exposição, um grupo não identificado conversava e ria alto, incomodando os ouvintes. A palestrante convidou o grupo se retirar e o que se seguiu foi uma "pancadaria", como relatou.
Para Márcia, o fato lamentável tem muito a ver com o assunto abordado por ela no ciclo de debates, justamente porque comportamentos de agressividade e intolerância têm estado presentes nos espaços virtuais. Segundo ela, ao defenderem determinados pontos de vista na internet, as pessoas não se utilizam da liberdade de expressão, mas da liberdade de exposição.
“O usuário da internet que se comporta como tolo, robô, paspalho e paranoico, sabe que não existe, por não ser sujeito. O que ele encontra na web é o reconhecimento espectral, manifestado na forma de curtidas”, diz. O ambiente da internet acaba tornando-se assim, um lugar propício para relações binárias ao invés de dialéticas.
“O diálogo incita a presença de diferenças e necessita que elas estejam em jogo, em franca discussão. Sem isso não há diálogo, há monólogo”, acrescenta. A partir daí é que se vê, perpetuados nas redes virtuais e na sociedade, atitudes autoritárias de oposição marcada entre grupos: homem e mulher, opressor e oprimido, explorador e explorado, etc.
“Essa linguagem binária utilizada na internet não é por acaso. Ela reproduz o nosso paradigma covarde da agressão contra o outro, que opõe dois extremos. A internet está cheia de pessoas que julgávamos legais, até observarmos que muito do que é usado como discurso de dor é, na verdade, o autoritarismo que transita na linguagem”, considera.
Discussões como essas, com espaço para intervenções do público, foram pensadas justamente para provocar a reflexão de quem participa dos Diálogos Contemporâneos sobre assuntos do dia a dia – neste caso, comportamentos na internet. Feminista e autora do livro Mulheres, filosofia ou coisas do gênero, Márcia Tiburi também respondeu a questões relacionadas ao assunto.
A professora Maria Lúcia Pinto Leal, diretora do Centro de Estudos Avançados Multidisciplinares (Ceam) da UnB, fez a intermediação entre público e convidada. Além de apoiar o ciclo de conferências, o Ceam esteve envolvido na organização do evento.
Representando o CDHUnB, a decana de Extensão da UnB, Olgamir Amancia, convidou a comunidade acadêmica para, dialogando, ajudar a "construir o conhecimento que irá mudar o mundo".
PRÓXIMAS EDIÇÕES – No dia 27 de março, a Universidade de Brasília irá receber Célia Xakriabá, protagonista na luta da juventude indígena, com a temática Mulheres Indígenas, resistência e protagonismo.
Em 10 de abril, Djamila Ribeiro, feminista e pesquisadora da área de Filosofia, conversa sobre o tema Diversidade Cultural e de Gênero no Brasil: a construção de uma sociedade democrática e fraterna e o respeito às diferenças.
A entrada é gratuita em todas as conferências. Confira a programação completa e participe.