BOAS-VINDAS

Pedagogo português desenvolveu projeto que rompeu com o sistema tradicional de ensino. Em Brasília, defende autonomia na aprendizagem

Foto: Luis Gustavo Prado/Secom UnB



Pedagogo, mestre em Ciências da Educação pela Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto, o português José Pacheco veio à Universidade de Brasília na manhã desta segunda-feira (7) para dar as boas-vindas aos novos estudantes. Pacheco é o idealizador da Escola da Ponte, projeto educativo idealizado há 40 anos, que rompeu com o sistema tradicional de ensino: lá não existem séries, provas, disciplinas e salas de aula com alunos em fileiras, por exemplo.

 


No Brasil, acompanha cerca de 200 projetos educacionais considerados inovadores, que têm como objetivo garantir a autonomia de aprendizado e fazer o estudo ter sentido especialmente para crianças e jovens, sem deixar de estruturar a formação em comunidade. Pacheco convocou os calouros e os profissionais da UnB a se juntarem a ele nessa proposta.

 

“Já temos protótipos de comunidades de aprendizagem. Precisamos que a Universidade se junte. Venha! Ajude! Hoje precisamos conceber novas construções sociais de aprendizagem, e isso não é tarefa fácil, pois temos uma cultura que precisa ser reelaborada”, afirmou Pacheco.

 

Segundo o pedagogo, quando chegou ao Brasil, pôde perceber que o país não era apenas uma ex-colônia portuguesa, como pensava. “Vim com minha mentalidade etnocêntrica europeísta e me deparei com uma situação completamente diferente da que eu imaginava. O Brasil tem os melhores teóricos do mundo. Não precisa dos ‘fósseis’ da Europa e dos Estados Unidos. Encontrei as condições ideais para que, através da universidade, nós pudéssemos ter um Brasil mais fraterno”.

 

“Meu convite é para que busquem na memória seus autores, seus pedagogos. Façam jus à herança que esta Universidade tem de Darcy Ribeiro, Anísio Teixeira, Augustinho da Silva. Que esses novos alunos, e os antigos também, percebam que estão num lugar sagrado de aprender e de partilhar aquilo que se sabe. Que seja mesmo uma universidade que pensa na herança cultural desses grandes brasileiros que eu citei”, aconselhou José Pacheco.

Quase dois mil calouros assistiram à aula magna da manhã. Foto: Júlio Minasi/Secom UnB


O decano de Ensino de Graduação, Mauro Rabelo, lembrou que a Universidade hoje conta com mais de 45 mil alunos – 37 mil na graduação e 8 mil na pós-graduação. “Somos uma universidade grande, com o compromisso de sermos uma grande universidade”, afirmou.

 

“Aqui vocês terão muita liberdade, mas, ao mesmo tempo, precisarão agir com muita responsabilidade e solidariedade. Terão oportunidade de participar dos grandes debates nacionais, de se envolverem em pesquisas de ponta, de se desenvolverem profissionalmente, ver arte por toda parte, cantar, dançar, rezar, se encantar, se decepcionar”, completou Rabelo.

 

A decana de Assuntos Comunitários, Thérèse Hofmann, disse que está de portas abertas para ouvir as demandas dos estudantes. E reiterou que o trote é proibido na UnB. “Isso vem da época da Idade Média, é algo super antigo. E nós, no século XXI, temos total condição de sermos criativos e de pensarmos num acolhimento novo. Não se sujeitem a atividades humilhantes”, alertou aos calouros.

 

O decano de Pesquisa e Pós-graduação, Jaime Santana, convidou os novos estudantes a se envolverem com o Programa de Iniciação Científica na UnB. “Vocês poderão procurar grupos de pesquisa em qualquer área do conhecimento na Universidade de Brasília. Podem se associar a eles, acompanhar e ajudar a desenvolver estudos que estão em andamento. E isso vai fortalecer a formação acadêmica de vocês”.

 

AULA MAGNA - A cerimônia de Boas-vindas aos Calouros também contou com a presença do médico epidemiologista Pedro Tauil, formado pela Universidade de São Paulo e doutor em Medicina Tropical pela UnB – onde dá aulas há 30 anos. Ele atualizou os estudantes sobre pesquisas e técnicas científicas em andamento para combater o Aedes aegypti transmissor da dengue, zika e chikungunya.

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