Considere o seguinte cenário: orçamento deficitário, equipamentos sucateados e profissionais em número insuficiente para atender a população – o recomendado pela Organização Mundial de Saúde é de um médico para cada mil habitantes. Apesar da realidade desoladora, pesquisas desenvolvidas diariamente em laboratórios de universidades públicas ajudam a gerar transformações em ciência que visam atender de maneira mais eficiente a população.
A Universidade de Brasília destacou-se na 16ª edição do Prêmio de Incentivo em Ciência, Tecnologia e Inovação para o SUS, pelo desenvolvimento de um protótipo para combate ao câncer de fígado chamado Sofia. Coordenado pela professora Suélia Fleury, do Departamento de Engenharia Elétrica (ENE/FT) da UnB, o projeto de pesquisa levou o primeiro lugar na categoria Produtos e Inovação em Saúde. Além do Sofia, outra pesquisa coordenada pela docente – o projeto Rapha – esteve entre os concorrentes.
Sofia compreende um sistema de ablação hepática que funciona por radiofrequência. Na ablação o tumor é destruído sem que seja necessária sua remoção do corpo do paciente. Um dos diferenciais do aparelho inovador frente ao equipamento utilizado atualmente pelo SUS é a área de queima: Sofia pode chegar a quatro centímetros, enquanto o padrão atinge no máximo três.
“É uma grande diferença em tratamentos que não podem deixar uma única célula cancerosa para trás”, explica a professora. Como é preciso extirpar todo o tumor, o paciente com uma ameaça de quatro centímetros não pode ter somente três centímetros eliminados. Com o aumento da área a ser tratada, mais pessoas poderão ser atendidas por essa modalidade no tratamento de combate ao câncer oferecido pelo Sistema Único de Saúde.
Além disso, o equipamento desenvolvido na UnB também possui controle de temperatura e impedância, funcionalidades que dão mais segurança aos responsáveis médicos pela aplicação do tratamento.
PRIMEIRO LUGAR – A equipe que desenvolveu o sistema é composta por um grupo multidisciplinar de 95 pessoas, que contribuíram em diversas áreas desde 2015. “O prêmio encerra uma grande etapa de um conjunto de ações que levaram ao Sofia. Apesar da minha liderança, o trabalho é uma construção coletiva”, reforça Suélia Fleury.
A missão foi dividida em metas e envolveu profissionais, pesquisadores e estudantes de Saúde Coletiva, Medicina, Biologia, Geotecnia, Medicina Veterinária, História e Ciências Exatas. “Formamos recursos humanos que hoje estão capacitados para desenvolver pesquisa levando a nossa metodologia de trabalho. Essa forma de gerar conhecimento ajuda a fortalecer os programas de pós-graduação a que estamos vinculados”, analisa a docente.
O valor da premiação conquistada é de R$ 50 mil. Boa parte deve ser utilizada no pagamento de bolsistas. Após o resultado, Suélia Fleury espera que surjam recursos financeiros para iniciar os testes clínicos do Sofia. “Já testamos em animais e temos publicações de artigos, dissertações e teses que confirmam a eficácia do tratamento, mas testes em humanos custam muito caro. No nosso caso, estimamos em R$ 3 milhões”, afirma.
Para entrar em contato com a coordenadora do grupo de pesquisa, basta enviar e-mail para Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo..