O Brasil lidera uma ambiciosa missão ao extremo sul do planeta: a Expedição Internacional de Circum-Navegação Costeira Antártica, que percorrerá mais de 20 mil km ao redor do continente buscando chegar o mais perto possível das frentes das geleiras. Com duração de dois meses, a viagem teve início na sexta-feira (22) e reúne 61 cientistas de sete países: Argentina, Brasil, Chile, China, Índia, Peru e Rússia.
O objetivo é coletar amostras ao longo da costa para estudos biológicos, químicos e físicos, focando dados atmosféricos, geofísicos, glaciológicos e oceanográficos do manto de gelo antártico e seu entorno. O trabalho inclui levantamento aéreo inédito das massas de gelo, monitorando o comportamento das geleiras diante das mudanças climáticas.
Tecnologia de satélite permitirá troca de informações via texto, áudio e vídeo, com acesso ilimitado à internet durante todo o percurso antártico, facilitando a comunicação e a transmissão de dados em tempo real.
Protagonista em pesquisas no continente austral, a UnB integra a equipe de cientistas por meio de seu projeto Bryoantar. “Pela primeira vez nos 43 anos de Programa Antártico, cientistas do país terão a oportunidade de percorrer diferentes regiões da costa, o que vai enriquecer demais o nosso trabalho”, destaca o professor do Instituto de Ciências Biológicas (IB/UnB) Paulo Câmara, coordenador do Bryoantar.
Câmara explica que os pesquisadores do Programa Antártico estão acostumados à região da Baía do Almirantado, na ilha Rei George, porção mais ao norte do continente onde está situada a estação antártica brasileira Comandante Ferraz. “Nessa região, as condições climáticas são mais amenas. Na circum-navegação, contudo, o objetivo é estar o mais próximo possível da costa, onde estão as imensas paredes de gelo e as condições climáticas são mais adversas”, detalha o professor.
>> Leia mais sobre a pesquisa da UnB na Antártica no nº 19 da revista Darcy
A UnB está representada pelo doutorando Fábio Bones, que já participou de outras três expedições do Programa Antártico Brasileiro (Proantar/CNPq) e, dessa vez, embarca com expectativas diferentes. “Vou coletar amostras em lugares ainda não visitados por equipes brasileiras e, com isso, contribuir para expandir o conhecimento científico que temos da região”, adianta o pesquisador, orientado pelo docente Paulo Câmara.
Ele detalha que fará coleta de amostras de ar utilizando bombas de vácuo e filtros, em busca de capturar micro-organismos presentes no ar antártico. “Em terra, vou coletar amostras de solo, água e plantas representativas da biodiversidade da região.” Todo o material será trazido ao Brasil para continuidade dos estudos em laboratório.
Confira na imagem a rota da Expedição Internacional de Circum-Navegação Costeira Antártica
Imagem: Divulgação
SAIBA MAIS – Para percorrer toda a costa e acessar o continente antártico, os cientistas estarão a bordo do navio quebra-gelo científico Akademik Tryoshnikov, do Instituto de Pesquisa Ártica e Antártica (São Petersburgo, Rússia).
A expedição partiu do Porto de Rio Grande, no Rio Grande do Sul, no dia 22 e encerrará em 25 de janeiro de 2025. Enfrentar as condições climáticas extremas e a logística complexa de operar na Antártica são alguns dos desafios esperados na missão.
A liderança brasileira marca a iniciativa, conduzida pelo pesquisador Jefferson Cardia Simões, do Centro Polar e Climático (CPC) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), delegado do Brasil no Comitê Científico para Pesquisa Antártica (Scar, da sigla em inglês).
“Em 2016/2017, tivemos uma expedição mais ao norte com a participação de cientistas gaúchos. O pioneirismo desta nova expedição está em ser realizada o mais perto possível da costa da Antártica. Esperamos ter dados sobre a linha de flutuação dessas geleiras e, simultaneamente, apoiaremos um levantamento geofísico dessas frentes de geleiras para entender como elas respondem ao aquecimento da atmosfera e do oceano”, explica Jefferson Simões, reforçando que a missão espera também coletar dados sobre biodiversidade, resposta da fauna polar às variações climáticas, circulação oceânica e os sinais de poluição.
A expedição é 97% financiada pela fundação suíça Albédo Pour la Cryosphère, dedicada ao estudo e à preservação da massa de neve e do gelo planetário. E conta com apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul (FAPERGS).
CURIOSIDADES DO CONTINENTE ANTÁRTICO |
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Fonte: Revista Darcy, edição 19
Dos 61 cientistas a bordo, 27 são brasileiros, vinculados a instituições associadas ao Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia da Criosfera (INCT) e a projetos de pesquisa do Programa Antártico Brasileiro (Proantar/CNPq).
Eles representam as seguintes universidades brasileiras: UnB, Universidade de São Paulo (USP), Universidade Federal Fluminense (UFF), Universidade Federal do Maranhão (UFMA), Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Universidade Federal do Paraná (UFPR), Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Universidade Federal do Rio Grande (FURG), UFRGS e Universidade Federal de Viçosa (UFV).