MEIO AMBIENTE

A Rede Biota Cerrado reúne esforços para a preservação do bioma brasileiro e enfrentamento dos desafios das mudanças climáticas

Vereda queimada, em 2023, mostrando o solo (turfeira) queimado, em Jaborandi, na Bahia. Foto: Cecília Vieira/Arquivo pessoal

 

No Dia Mundial do Meio Ambiente, comemorado nesta quarta-feira (5), a Rede Biota Cerrado apresenta-se como uma iniciativa de peso para a conservação ambiental. Criada em 2010, reúne grupos de pesquisa no Brasil e no exterior dedicados à biodiversidade do bioma.

 

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O objetivo é produzir conhecimento para que a sociedade possa tomar decisões informadas que afetam a biodiversidade do Cerrado. A UnB é a instituição-sede da rede, graças à sua expertise e localização geográfica privilegiada no coração do Cerrado, que permite o fácil acesso a diversas áreas protegidas.

 

A rede congrega muitos dos grupos de pesquisa que mais promoveram a construção do conhecimento sobre o tema e realiza estudos que têm alimentado políticas de conservação e manejo do bioma. Além disso, promove a formação qualificada de um número expressivo de profissionais na área.

O Cerrado também foi tema da edição nº 21 da revista Darcy. Para ler, basta clicar na imagem. Imagem: Reprodução

 

Coordenada pelo professor Guarino Colli, do Departamento de Zoologia (ZOO/IB/UnB), a rede é composta por cinco frentes principais: Inventários Biológicos; Mudanças Climáticas; Manejo Integrado do Fogo; Restauração Ecológica; e Engajamento Público com a Ciência.

 

“Pensar no que acontece com o meio ambiente, tanto no passado quanto no presente, é essencial para saber como a humanidade irá sobreviver”, salienta o docente ao falar do grupo, que congrega participantes de 40 instituições nacionais.

 

PESQUISA – Entre os projetos associados, o que investiga os efeitos das mudanças climáticas sobre a biodiversidade é especialmente relevante e também é coordenado Guarino. Ele envolve 27 pesquisadores da UnB e de outras instituições de ensino superior brasileiras: Universidade Federal de Goiás (UFG), Universidade Federal de Uberlândia (UFU), Universidade Federal do Tocantins (UFT), Instituto Federal do Piauí (IFPI), Universidade de São Paulo (USP), Universidade Federal de Lavras (UFLA), Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB).

 

Há também pesquisadores de universidades estadunidenses: a Auburn University at Montgomery (AUM), no estado do Alabama, e a Southwestern Oklahoma State University (SWOSU), no estado de Oklahoma. 

 

Guarino explica que a importância desse trabalho é evidente quando se considera que o Cerrado, principal fronteira agrícola brasileira e grande produtor de grãos, enfrenta conflitos entre desenvolvimento e conservação. Nos últimos 50 anos, grande parte das paisagens naturais foi destruída pela expansão agropecuária, e as projeções indicam que a degradação deve se intensificar no próximo meio século.

 

“Hoje, menos de 5% de toda a área do Cerrado é efetivamente protegida e, com o aquecimento global, não será suficiente para a sobrevivência de muitas espécies”, explica. Ele salienta que o problema se agrava pois a rapidez das mudanças não permite que as espécies se adaptem e os locais para onde poderiam migrar estão sendo destruídos pela agropecuária.

 

Por isso, a interação entre mudanças climáticas e a perda de habitats causa uma grave crise de perda de biodiversidade, como apontam as pesquisas do grupo. Outro ponto destacado pelo pesquisador é que as previsões para os próximos 50 a 80 anos também trarão eventos climáticos extremos cada vez mais frequentes.

 

“As mudanças climáticas acontecem naturalmente por variações na órbita planetária há milhões de anos. A diferença é que, agora, elas ocorrem muito mais rápido e isso vai causar a extinção de muitas espécies”, observa.

Stenocercus quinarius é uma espécie endêmica e relativamente rara. Ocorre na porção leste do Cerrado e é vulnerável aos efeitos da conversão dos ambientes naturais em agricultura, do fogo e das mudanças climáticas. Foto: Guarino Colli/Arquivo pessoal

 

“Nessa pesquisa, estudamos as espécies para entender como respondem às mudanças climáticas que vêm ocorrendo desde o passado e fazemos projeções futuras. E, ao mesmo tempo em que olhamos a biodiversidade, é possível perceber que isso irá impactar fortemente a humanidade”, comenta.

 

MUDANÇAS – A exemplo do que aconteceu recentemente nas regiões norte e sul brasileiras, o docente afirma que é fundamental dar a importância devida à pauta do meio ambiente e cobrar mudanças da classe política.

 

“Tivemos, simultaneamente, as enchentes no Rio Grande do Sul e a seca na Amazônia. Em parte, é consequência da inobservância da legislação ambiental e da memória curta”, diz. O coordenador comenta que a expectativa para o Cerrado são períodos de estiagem cada vez maiores, aumento da temperatura e da frequência de eventos extremos, como enchentes pontuais causadas por temporais.

 

Tarcísio Abreu, outro pesquisador da rede, destaca que a intensificação dos eventos climáticos extremos, especialmente no ciclo 2023-2024 do El Niño, acentua a necessidade urgente de mitigar os efeitos das mudanças climáticas. “A diversidade biológica no Brasil é magnífica, mas altamente suscetível às perdas causadas pelo aquecimento global”, pontua, enfatizando a necessidade de políticas de mitigação eficazes.

 

A fala do pesquisador baseia-se em uma metanálise da literatura científica produzida em um período de 20 anos, que aborda os impactos das mudanças climáticas sobre a biodiversidade brasileira. A revisão de literatura revelou disparidades significativas nos estudos sobre os biomas, regiões e grupos taxonômicos, sendo a região Centro-Oeste uma das que estão em defasagem. Mostrou também impactos negativos sobre a biodiversidade devido à interação das mudanças climáticas com outras atividades humanas. 

 

PARCERIAS – A Rede Biota Cerrado não se limita ao território brasileiro. Ela conta com a colaboração de diversas instituições estrangeiras renomadas, como o Instituto de Pesquisa para o Desenvolvimento de Montpellier (França), o Museu Americano de História Natural (EUA), a Universidade Ben Gurion do Negev (Israel), a Universidade de Lisboa (Portugal), a Universidade de Oxford (Inglaterra), entre outras. Essas parcerias internacionais ampliam o alcance das pesquisas e contribuem para uma visão global sobre os desafios enfrentados pelo Cerrado.

 

Além disso, a Rede Biota Cerrado é apoiada pelo Programa de Pesquisa em Biodiversidade (PPBio) e pelo programa Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia (INCTs), do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI). Essa integração tem sido crucial para a promoção de políticas de conservação e manejo do bioma, bem como para a formação de profissionais altamente qualificados.

 

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