MEIO AMBIENTE

Doze iniciativas de cinco estados brasileiros atuam para recuperar 2,7 mil hectares dos biomas

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Participantes realizam saída de campo para conferir áreas já restauradas em pesquisas com parceria do Centro UnB Cerrado. Foto: Divulgação

 

Centro UnB Cerrado, localizado em Alto Paraíso de Goiás (GO), sediou encontro de 12 projetos que juntos atuam para restaurar 2,7 mil hectares do Cerrado e do Pantanal, nos dias 4 a 6 de fevereiro. O evento buscou integrar e capacitar os participantes por meio da troca de conhecimento e de boas-práticas na recuperação ecológica.

 

“Na Chapada dos Veadeiros (GO) temos as maiores áreas em restauração do Cerrado pela técnica de semeadura direta. Fizemos uma saída de campo para que os participantes pudessem ver na prática os resultados do trabalho que começamos a implementar 12 anos atrás”, conta Isabel Schmidt, docente do Instituto de Ciências Biológicas (IB) e pesquisadora do Centro UnB Cerrado.

 

CORREDOR DE BIODIVERSIDADE – O encontro foi promovido pelo Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (Funbio), gestor do edital Floresta Viva - Corredores de Biodiversidade, que fomenta a atuação dos projetos com aporte de R$ 42 milhões oriundos do Fundo Socioambiental do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e da Petrobrás Social. 

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Pesquisadores trocam saberem com os participantes dos projetos dos Corredores de Biodiversidade durante o encontro. Foto: Divulgação

 

Dez corredores de biodiversidade para a conservação dos biomas integram a área de abrangência do edital, distribuídos ao longo dos estados da Bahia, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Minas Gerais. Cada projeto atua na restauração de, no mínimo, 200 hectares em alguma das áreas de abrangência, totalizando juntas os 2,7 mil hectares dos biomas. 

 

SABERES COMPARTILHADOS – O edital Corredores de Biodiversidade fomenta o trabalho de organizações não-governamentais (ONGs) sem fins lucrativos com experiência comprovada em recuperação ecológica.  

 

Um dos objetivos é fortalecer a cadeia produtiva envolvida nesse trabalho e, portanto, promover a geração de empregos, renda e capacitação para profissionais e populações locais.  

 

“Essa é a beleza do encontro: como pesquisadores, levamos o conhecimento de nossas pesquisas para quem, de fato, executa o manejo desses ambientes”, comenta Isabel Schmidt, também pesquisadora da Rede Biota Cerrado – que reúne grupos de pesquisa do Brasil e do exterior dedicados à biodiversidade do bioma sob coordenação da UnB. 

 

>> Leia também: UnB coordena rede de pesquisa internacional sobre a biodiversidade do Cerrado 

 

Universidades e instituições de pesquisa podem participar como parceiras dos proponentes contemplados no edital. É o caso do Laboratório de Termobiologia e do Laboratório de Sementes Nativas e Restauração (LaSeNa) do IB, que integram o projeto capitaneado pela Rede Sementes do Cerrado

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O encontro incluiu palestras com pesquisadores da Universidade no auditório do Centro UnB Cerrado. Foto: Divulgação

 

“Trabalhamos bastante a parte da pesquisa para colocar novas espécies por meio da semeadura direta nas áreas de restauração. Esse edital tem olhado muito para uma união dos conhecimentos técnico, acadêmico e tradicional, que também é o foco do laboratório”, detalha Anabele Gomes, técnica dos laboratórios. 

 

A perspectiva “fortalece a atuação dos grupos de base comunitária que trabalham com sementes nativas e une conhecimentos para que a restauração ecológica seja mais eficiente e resiliente”, complementa Anabele. 

 

Ela ressalta a importância da UnB sediar eventos dessa natureza. “Mostra o potencial da extensão, da integração de saberes com as comunidades e o impacto do conhecimento que geramos aqui.” 

 

O encontro incluiu visita à Casa de Sementes da Associação Cerrado de Pé, maior produtora dos grãos nativos do bioma. “Uma coisa é adquirir a semente, outra é conhecer seu processo de produção, os testes e seleção que acontecem antes da venda”, acrescenta Isabel Schmit sobre o espaço apoiado pela Rede Sementes do Cerrado, da qual a UnB também é parceira. 

 

A docente acrescenta que “a localização central da UnB Cerrado em relação aos demais estados dos projetos participantes favoreceu a realização do encontro, além de sua estrutura que inclui auditório, laboratórios, refeitório e outros recursos para apoiar as atividades”. 

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Participantes conhecem as atividades de restauração do Cerrado na Chapada dos Veadeiros (GO). Foto: Tales Emanuel/@cerradodepe

 

IMPACTO – Localizado na região central do Brasil, o Cerrado é o segundo maior bioma da América do Sul. É a savana mais biodiversa do planeta, abrigando 5% de todas as espécies do mundo e 30% das espécies do país.  

 

Isso significa algo em torno de 14 mil espécies de plantas, fora a diversidade de animais. Sua riqueza é ameaçada pelo desmatamento crescente, que representa quase um terço da supressão de vegetação nativa no país (32,1%), de acordo com o Relatório Anual do Desmatamento no Brasil (RAD 2022), produzido pelo projeto MapBiomas Alerta. 

 

Já o Pantanal abriga mais de 4,7 mil espécies da flora e da fauna, incluindo mamíferos ameaçados, como onças-pintadas, tamanduás-bandeira e ariranhas. Isso demonstra sua riqueza ecológica, apesar de ser o bioma de menor extensão do país, ocupando menos de 2% do território brasileiro. 

 

O avanço do desmatamento também impacta o Pantanal. O edital da Funbio reúne dados sobre o aumento de 678 para 825 km² em suas áreas desmatadas, além dos crescentes incêndios nos últimos anos que consumiram 4,5 milhões de hectares da vegetação, ou seja, 30% de sua área total e cerca de 20% de sua biodiversidade. 

 

Tanto o Cerrado quanto o Pantanal são extremamente relevantes no contexto da segurança hídrica: enquanto o primeiro é considerado “o berço das águas” por englobar as nascentes das principais bacias hidrográficas do país, o segundo é conhecido por formar um imenso reservatório de água doce, cuja extensão representa a maior área úmida continental do planeta.  

 

A relevância dos dois biomas reforça a necessidade de investir na recuperação ecológica. Confira benefícios pretendidos com os Corredores de Biodiversidade: 

 

  • Fortalecer cadeias produtivas da restauração ecológica no Brasil;
  • Promover capacitação profissional em atividades da cadeia produtiva da restauração ecológica;
  • Consolidar estruturas eficientes de gestão e execução da restauração ecológica, com vistas ao aumento da sua escala e à captação de novos e maiores recursos;
  • Promover alternativas econômicas ligadas aos investimentos em restauração ecológica;
  • Desenvolver processos de certificação de carbono, com aumento de escala e redução de custos, em conjuntos de projetos de restauração ecológica.

 

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