O perfil da população brasileira deverá mudar significativamente nas próximas décadas, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Estima-se que o número de idosos aumente de 19,6 milhões para 66,5 milhões entre 2010 e 2050, quando pessoas com mais de 60 anos passarão a representar 29,3% da população do país. Com a projeção, faz-se necessário pensar com maior ênfase em iniciativas que valorizem a saúde desse público. Estimular o debate sobre o envelhecimento com qualidade de vida foi a proposta do primeiro Simpósio Multidisciplinar de Atenção a Saúde do Idoso, realizado na última quinta-feira (13).
Estudantes, profissionais da saúde e idosos do Programa Universidade do Envelhecer acompanharam a programação no auditório da Faculdade de Ceilândia (FCE) da Universidade de Brasília, que incluiu palestras, atividades laborais com idosos, dicas de estética e degustação de alimentos para pacientes com dificuldade de deglutição. A iniciativa da Liga de Fonoaudiologia também integra as comemorações do mês de cuidado ao idoso.
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Prevenindo quedas na terceira idade
Especialistas de diferentes áreas da saúde discutiram temas como o autocuidado, perdas cognitivas e da capacidade de deglutição relacionadas ao envelhecimento, alimentação segura e saudável e políticas públicas para a pessoa idosa. “Nós queremos informar o estudante e o profissional sobre o envelhecimento saudável e os outros cuidados que a gente pode ter em relação ao envelhecimento não saudável”, explica a coordenadora do evento e professora do curso de Fonoaudiologia, Cristina Fúria.
A professora do curso de Farmácia da FCE Dayani Galato destacou, durante palestra, a importância dos cuidados primários com a saúde, que envolvem desde a educação para a saúde, alimentação e nutrição apropriadas, até a vacinação, prevenção e controle de doenças crônicas e outras medidas que contribuem para o envelhecimento com qualidade. Segundo Galato, é importante adotar mudanças no estilo de vida, visando o autocuidado, para que se garanta a chegada à velhice de forma ativa e independente.
“O autocuidado para o envelhecimento saudável não começa aos 60 anos, mas tem a ver com as escolhas que a gente faz desde jovens”, afirma a professora, que acredita no empoderamento como instrumento para garantir a autonomia da pessoa idosa. E completa: “Mais do que conhecer sobre práticas saudáveis, temos que transformar esse conhecimento em atitudes que gerem mudanças no estilo de vida”.
MUDANÇAS – O processo de envelhecimento envolve diversas alterações no organismo que afetam tanto as capacidades motoras do indivíduo, como as cognitivas e de sentido. No entanto, Maysa Luchesi Cera, docente em Fonoaudiologia e especialista em distúrbios neurológicos da linguagem oral, escrita e da fala, ponderou que, no caso do desenvolvimento cognitivo – relacionado à atenção, memória, linguagem e funções executivas – existem certos fatores que podem comprometer a área durante a velhice. O analfabetismo, a genética, o consumo de álcool e o tabaco, transtornos como a depressão e fatores vasculares, como a hipertensão e diabetes são alguns destes.
No entanto, existem também maneiras de prevenir a redução da capacidade cognitiva, com a realização de atividades físicas, exercícios de cognição, como leitura e jogos com estratégia, controle da pressão arterial, do colesterol e da glicemia e manutenção de atividades sociais. “Quem participa de atividades físicas, mentais e sociais durante a meia idade consegue reduzir em até 50% a chance de desenvolver um problema de cognição”, afirma Luchesi.
Do mesmo modo, a audição, a visão e a sensibilidade do paladar se modificam com o avanço da idade, mas são processos que podem ser amenizados com cuidados com a saúde. No caso da alimentação, algumas dicas podem torná-la mais segura e saudável. Preocupar-se em realizar as refeições sem distração e sentado de forma correta, com a coluna reta, são algumas importantes medidas para o conforto do idoso. Também contam a aparência do alimento para a estimulação do paladar, a consistência – menos sólida, de preferência – e o volume de alimento consumido para melhor deglutição, o que evita engasgos.
Em função das alterações no metabolismo e, consequentemente, no funcionamento do sistema digestivo, Clarissa Hoffman, professora e nutricionista da Residência em Oncologia do Hospital Universitário de Brasília (HUB), ressaltou que pessoas idosas precisam de uma dieta especial que consiga suprir as deficiências nutricionais relativas à idade e ao organismo de cada um.