INOVAÇÃO

Instalada na FCE, estrutura ofertará consultas virtuais pelo SUS. Espaço está em fase de testes e de elaboração de protocolos para replicação em outras cidades

A Faculdade UnB Ceilândia foi escolhida para inaugurar a Estação e coordenar a fase de testes por ter reconhecimento nacional em seu projeto pedagógico de formação interprofissional, além da alta demanda por atendimentos de saúde represada na região. Foto: André Gomes/Secom UnB

 

Uma estrutura parametrizada e imersiva, com 6 m², equipada com recursos tecnológicos para oferta de serviços remotos em diversas áreas da saúde. A novidade, instalada em 21 de setembro na Faculdade UnB Ceilândia (FCE) e voltada à população do Distrito Federal, é a primeira Estação de Telessaúde Integrada de Bem-Estar do Brasil.

 

O ambiente foi pensado para facilitar o cuidado biopsicossocial qualificado e o trabalho com prevenção a partir de serviços de triagem, orientação, reabilitação supervisionada, práticas integrativas, além de consultas em diferentes especialidades. Tudo on-line, pelo Sistema Único de Saúde (SUS), e em ambiente adequado para os atendimentos.

 

“O intuito é poder democratizar o acesso à saúde e trabalhar com promoção à saúde fora do ambiente hospitalar”, explica a professora da FCE Vívian Santos, que está à frente da prova de conceito da estação – etapa de testes iniciais para avaliar a viabilidade técnica do projeto antes de abrir os serviços ao público.

 

Durante o processo, serão realizadas experiências diversas na Estação, averiguado o funcionamento da estrutura e desenvolvendo os protocolos de atendimento. As avaliações e possíveis problemas mapeados serão reportados ao Ministério da Saúde para aprimoramento das futuras unidades, que deverão ser replicadas por todo o Brasil no âmbito do SUS.

 

Com isso, a expectativa é reduzir as filas de espera por atendimento e os deslocamentos de pacientes para unidades hospitalares, já que poderão procurar a estação de telessaúde mais próxima e serão avisados via aplicativo sobre seu horário de uso.

Professora Vívian Santos coordena a prova de conceito da Estação inaugurada na FCE. Foto: André Gomes/Secom UnB

 

O foco inicial dos protocolos clínicos será a população idosa. Por isso, a prova de conceito será realizada junto ao Centro Integrado de Ensino e Pesquisa da Universidade do Envelhecer (CIU/UniSer/UnB). “A Uniser tem 800 idosos fazendo curso todo dia. Então faremos [junto a eles] a elaboração dos protocolos dos serviços que podem ser oferecidos. Tudo está sendo construído rapidamente. A ideia é que [a Estação] já comece a ser replicada no próximo ano”, almeja a docente.

 

Haverá também formação de profissionais para atuar em telessaúde com o curso de especialização Inovação do Cuidado Integrado na Atenção Primária para Pacientes 60+, com oferta prevista para 2024.

 

Estudantes do campus de Ceilândia irão interagir com o espaço e contribuir na elaboração dos protocolos. Além disso, a ideia é que utilizem a estrutura para atividades acadêmicas e práticas de bem-estar.

 

NOVAS UNIDADES – Outras duas estações serão inauguradas ainda este ano, em Santos (SP) e Manaus (AM), e também participarão da prova de conceito, realizada de forma integrada pelas equipes. “Essas estações serão interconectadas em rede e a ideia é que os serviços que se faz aqui [em Ceilândia] sejam feitos em Manaus e em Santos. Elas têm que conversar entre si”, pontua Vívian Santos.

 

“Os protocolos clínicos serão desenvolvidos de forma interprofissional, visando o atendimento humanizado e formando uma rede em saúde com diversos locais, incluindo as universidades, para promover a saúde das pessoas idosas, possibilitando, no futuro, que sejam atendidas pelos profissionais da rede de qualquer parte do Brasil”, acrescenta Margô Karnikowski, professora da FCE e fundadora da UniSer, que atuará com longevidade conectada a partir do espaço.

 

Responsável por projetar a Estação, a mestranda em Gerotonlogia pela Universidade de São Paulo (USP) e arquiteta Mariana Chao explica que o objetivo também é levar a estrutura a lugares remotos e garantir a integração do país na oferta de saúde pública. “O intuito da Estação é conseguir romper as barreiras geográficas. Quando a gente fala em telessaúde, a gente também pensa na população ribeirinha, nas comunidades. As estações vieram para otimizar esse acesso ao sistema de saúde”, afirma.

 

RECONHECIMENTO – A proposta de implementação da telessaúde no Brasil vem sendo estudada há quase três décadas. Entre os pioneiros na área, está o professor da USP e presidente da Associação Brasileira de Telemedicina e Telessaúde, Chao Lung Wen, que já desenvolveu um modelo similar de estação junto ao Ministério da Saúde. A unidade instalada na FCE é uma nova versão deste projeto.

Da esquerda para direita, Chao Lung Wen, Vívian Santos, Marileusa Chiarello, Ana Estela Haddad, Mariana Chao e Margô Karnikowski na solenidade de inauguração da Estação de Telessaúde, na FCE. Foto: Arquivo pessoal

 

Parceiro em iniciativas de inovação da UnB, Chao Lung Wen esteve na instituição em junho para o Seminário Luso-Brasileiro de Inovação e Envelhecimento Humano, promovido pelo CIU. Desta participação, surgiu o convite para conhecer o projeto pedagógico da Faculdade UnB Ceilândia. A convergência da perspectiva educacional do campus com os propósitos do docente motivou a cooperação para o lançamento da primeira Estação de Telessaúde Integrada de Bem-Estar no local.

 

“A unidade foi instalada aqui, na FCE, por sermos reconhecidos nacionalmente como uma unidade de formação que atua desde o princípio de maneira interprofissional”, aponta Margô Karnikowski.

 

Outro fator que impactou a decisão foi a localidade: Ceilândia tem o maior bolsão populacional do DF, além de ser região com alta demanda represada por atendimentos de saúde especializados.

 

A inauguração, na quinta-feira (21), teve a presença de autoridades atuantes e parceiras no projeto: o professor Chao Lung Wen; a arquiteta Mariana Chao; a secretária de Saúde Digital do Ministério da Saúde, Ana Estela Haddad; o presidente do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Ricardo Galvão; a diretora do Centro de Apoio ao Desenvolvimento Tecnológico (CDT), Marileusa Chiarello; e o reitor da Univerisade da Terceira Idade (Unati), Euler Ribeiro.

 

CONHEÇA A ESTRUTURA – Concebida em versão modular, a Estação alocada na FCE é semifixa. Por isso, pode ser deslocada para outros ambientes fechados. “Para locais com alta demanda [por serviços de saúde] e que a população esteja sensibilizada para o uso da telessaúde, esse modelo é ideal. Você pode deixar em qualquer lugar: num shopping, num condomínio”, menciona a professora Vívian Santos.

 

O exemplar foi projetado por uma equipe multiprofissional, sob liderança de Mariana Chao. Ela explica o que diferencia a Estação das cabines de telessaúde já existentes no Brasil: "além de ser um espaço um pouco maior, com foco no bem-estar, a Estação tem recursos que as cabines não dispõem, como poltrona e maca rebatível, um ambiente acessível, com rampa de acesso e espaço para giro de 360º de uma cadeira de rodas".

 

O espaço possui, ainda, três câmeras posicionadas em diferentes ângulos para facilitar as avaliações médicas, com imagens enviadas em tempo real ao profissional de saúde, que poderá atender a partir de qualquer lugar do Brasil. No chão, um tapete sinalizado auxilia na orientação quanto ao posicionamento do paciente durante a consulta.

A Estação de Telessaúde é um recurso embarcado com todos os equipamentos necessários para consultas on-line em diferentes especialidades. Foto: Arquivo pessoal


A Estação é equipada com itens básicos para os atendimentos, como medidor de pressão, oxímetro, termômetro e balança de bioimpedância. Possui um sistema de auto-higienização com ozônio e lâmpadas de raio ultravioleta UVC, para reduzir riscos de transmissão de doenças respiratórias. Espelho e um espaldar possibilitam aos pacientes se exercitar e auxiliam na conscientização sobre os movimentos do corpo. Há também barras de segurança e recursos de acessibilidade. 

 

Aconchegante, o interior tem aromatizador e inteligência virtual controlada por voz. Em uma das paredes, uma persiana simula a imagem de um parque, para evitar a sensação de claustrofobia no espaço. Já na área externa, são encontrados um jardim vertical, um lago com carpas e um aquário. Tudo para promover conforto, frescor e bem-estar aos usuários.

 

“Quando a pessoa está em contato com um ambiente de natureza, os níveis de estresse, depressão e ansiedade reduzem. Foi pensando nessa proposta que colocamos essa ambientação”, compartilha Mariana Chao.

 

Fora da estação, o público também encontra uma tela para experiência imersiva de criação da inteligência artificial EVA, parte de um serious game (jogo com propósito educacional) desenvolvido em projeto da FCE que estimula o convívio intergeracional e a promoção de hábitos saudáveis.

 

SIGILO – Segundo Mariana Chao, uma das preocupações é oferecer ambiente e plataformas seguros para o teleatendimento. “A questão de consultas sendo realizadas via WhatsApp não é algo correto. Você precisa ter todo um ambiente preparado para isso. Não é com qualquer plataforma que a gente vai fazer um teleatendimento. Falo isso porque tem toda uma questão de sigilo médico, de não ter vazamento dos dados de médicos e paciente”, ressalta e lembra que a estação permite conexão com a plataforma do SUS ou de operadoras de saúde da rede privada.

 

Sobre a privacidade das informações, Vívian Santos acrescenta que é importante ter um local fixo para os médicos realizarem as consultas on-line: “O ideal é que todas as estações tenham o seu teleambulatório de referência, porque precisamos ter proteção dos dados”.

 

DIVULGAÇÃO – As professoras Vívian Santos e Margô Karnikowski estarão em São Paulo em 2 e 3 de outubro para participar do 1º Simpósio Internacional de Transformação Digital no SUS, promovido pela Secretaria de Informação e Saúde Digital (Seidigi), para apresentar ao público, em estande, a proposta da estação.

 

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