Docente do Instituto de Letras, com 41 anos de Universidade de Brasília e uma vida dedicada à linguística, ao ensino, à pesquisa, à inclusão e às pessoas. Enilde Faulstich entrou, nesta quinta-feira (22), para o seleto grupo de 54 personalidades – a sexta mulher – homenageadas pela maior condecoração oferecida pela instituição, o título de Doutor Honoris Causa.
Enquanto esperava o início da cerimônia, Enilde pegou um pente, chamou o neto e foi arrumar-lhe o cabelo. O gesto aparentemente corriqueiro é revelador de características marcantes da linguista: zelo, cuidado e busca pela perfeição.
“O sensor constante por qualidade é enorme virtude de Enilde Faulstich. Ela provoca para o bem, para cada um achar seu caminho de superação e de construção interna da excelência”, elogiou Enrique Huelva, vice-reitor da UnB, em sua fala pública durante a homenagem.
O professor trabalhou com a docente por 15 anos e enfatizou que a honraria máxima da Universidade parece pequena perante o legado deixado por Enilde. “São poucos os que atingem essa dimensão. Nesse contexto de tantas emoções, meu sentimento é de alegria e gratidão”, completou.
“Desde que nasci, vejo o quanto minha avó se importa, se esforça e batalha pela UnB. É um título bastante importante para ela e para a minha família”, reconhece Pedro Faulstich, de 16 anos, acompanhado do irmão Diogo e da prima Marcela, netos de Enilde.
Filho mais velho da professora, Fabiano Faulstich seguiu os passos da matriarca e hoje é docente do Museu Nacional (UFRJ). Veio a Brasília especialmente para a cerimônia. “Ela é meu exemplo e a homenagem coroa seu trabalho, dedicação de uma vida”.
CURRÍCULO – O reconhecimento à trajetória profissional e pessoal da professora se materializou na presença massiva de alunos, professores, membros da administração superior e familiares no auditório da Reitoria. Enilde Faulstich tem em seu currículo acadêmico 33 artigos completos, 46 livros e 25 capítulos de livros publicados. Orientou 21 teses de doutorado, 43 dissertações de mestrado, 5 monografias de especialização e 22 trabalhos de iniciação científica.
Suas principais áreas de atuação e pesquisa são em políticas linguísticas, estudos lexicais, português como primeira e segunda língua e aquisição da língua de sinais brasileira como primeira e segunda língua.
Faulstich é pioneira no fortalecimento da língua portuguesa no mundo e também se destaca no ensino do português para surdos, surdos-cegos e indígenas. A professora Ana Suelly Cabral, do Instituto de Letras, reitera a relevância da atuação da colega para os brasileiros cuja língua materna não é o português e que precisam do idioma para “interagir de forma menos desigual no contato com a sociedade que os sufoca”.
Além de extensa produção científica, Enilde possui notável atuação no Instituto de Letras (IL) e nas câmaras e conselhos superiores da UnB. Foi responsável pela implementação de dois dos quatro cursos do Departamento de Linguística (LIP/IL): Português do Brasil como Segunda Língua e Licenciatura em Língua de Sinais Brasileira – Português como Segunda Língua. No plano da internacionalização, firmou colaborações com instituições de ensino na Europa e nas Américas.
“Com arte, vigor e senso de justiça, tem enfrentado e solucionado problemas, organizando recursos financeiros e tecnológicos, sendo uma comunicadora clara, uma líder, motivando pessoas e tomando decisões precisas em benefício do conjunto de seus pares e da Universidade de Brasília”, ressalta Ana Suelly sobre o envolvimento de Faulstich nas atividades de gestão.
EMOÇÃO – Ponto alto da cerimônia, Elga Pérez-Laborde, professora do IL, e a pianista Kátia Almeida presentearam a homenageada e o público com canções carregadas de simbologias e significados. Sonho impossível, de Chico Buarque; e Se todos fossem iguais a você, de Tom Jobim e Vinícius de Moraes, compuseram o repertório e a mensagem deixada à Enilde Faulstich.
Visivelmente emocionada, a doutora Honoris Causa precisou respirar fundo e ganhar fôlego para proferir suas palavras de agradecimento. “O desenhista tem o dom de detalhar o que lhe vai à mente; o pintor, a capacidade de retratar na tela o que lhe vem da alma, da ânima; o escritor relata as ideias que lhe espetam o espírito; o músico encanta com a melodia que sai pelos instrumentos; ao professor – que reúne todas essas qualidades – Deus deu o maior bem: desenhar, pintar, escrever, emitir melodias por meio da arte de ensinar para os que não sabem o que querem saber”, proclamou.
Em seu discurso, falou sobre o papel do docente em provocar as pessoas para que sua luz interior brilhe. Lembrou momentos de sua trajetória na Universidade, onde chegou há quatro décadas como professora auxiliar. “De entrada, foram cerca de 200 alunos, com aulas do mestrado e um filho de seis meses”, relatou.
Como mensagem final, Enilde Faulstich reforçou que ensinar é antes de tudo aprender e que aprendizado e maturidade caminham juntos. “E por que ainda estou aqui? Porque, já crescidinha, aprendi que navegar é preciso”.