ENTREVISTA

Autora de 60 publicações em linguística geral e francesa, convidada ministra conferência sobre perspectivas da cooperação científica franco-brasileira

 

Pesquisadora Olga Anokhina ministra conferência no dia 12, às 17h30. Arte: Marcelo Jatobá/Secom UnB

 

Entre os dias 10 e 12 de setembro, a Universidade de Brasília realiza seu 2º Fórum e Feira de Internacionalização. Gratuito e aberto ao público, o evento reúne especialistas do Brasil e do exterior em diálogo sobre Internacionalização da ciência e desenvolvimento socioeconômico local: modelos, estratégias e mensuração.

 

Diretora do escritório na América do Sul da maior instituição pública de pesquisa da França, o Centro Nacional Francês de Pesquisa Científica (CNRS), a doutora Olga Anokhina é convidada do 2º FFI. Ela ministra a conferência A história e as perspectivas da cooperação científica franco-brasileira, no dia 12, às 17h30.

 

A vinda de Anokhina é estratégica para a Universidade por pelo menos duas razões. Na entrevista a seguir, ela revela que internacionalização é a prioridade do CNRS, com destaque para o relacionamento com países da América do Sul. Vale lembrar que a UnB inaugurou, em maio de 2018, a Casa Franco-Brasileira da Ciência, com instalações no campus Darcy Ribeiro.

 

Durante a conferência, a convidada apresentará vários programas de cooperação científica entre os dois países, entre os quais aquele que considera como um “exemplo emblemático”: o laboratório internacional de pesquisa em matemática Jean-Christophe Yccoz (CNRS-IMPA), no Rio de Janeiro. Confira a entrevista:

 

Como a internacionalização científica e tecnológica tem sido encarada dentro do CNRS?
A internacionalização é a prioridade do CNRS. O centro possui um departamento encarregado de implementar a política científica do órgão em âmbito internacional. Suas principais missões são estabelecer parcerias vantajosas para todas as partes em função das prioridades científicas e geográficas, aumentar a visibilidade e a atratividade do CNRS e desenvolver o entendimento com os seus parceiros acadêmicos. Além disso, o CNRS coordena oito escritórios com representação no exterior, cujas ações cobrem uma grande parte do território mundial: Rio de Janeiro, Washington, Pretoria, Bruxelas, Pequim, Nova Deli, Singapura e Tóquio. Os escritórios do CNRS no exterior realizam uma vigília científica e tecnológica, e estruturam a colaboração científica do CNRS com parceiros estratégicos nas áreas sob sua responsabilidade. Por tudo isso, o CNRS exerce uma forte atratividade para cientistas do mundo todo: 25% dos pesquisadores do centro são estrangeiros. Eles levam ao mundo científico francês não apenas sua visão de mundo, mas também a conexão com a rede científica de seu país de origem.

 

Que potenciais podem ser enfatizados no âmbito da cooperação científica entre França e Brasil?
O CNRS considera a cooperação com os países da América do Sul como uma prioridade estratégica. Por essa razão, o escritório aberto no Rio de Janeiro em 2010 para promover a cooperação científica franco-brasileira possui hoje uma vocação bem mais extensa, que pretende desenvolver a colaboração com todos os países sul-americanos. Para fazer isso, além dos instrumentos gerais que o CNRS implementa com o conjunto dos países estrangeiros, existe grande número de programas específicos de cooperação que podem ser bilaterais ou ainda ter uma alçada regional, como, por exemplo, MATH Amsud e STIC Amsud, que já mostraram suas capacidades, ou ainda CLIMAT Amsud, que será iniciado em 2020. Tais programas têm, claro, a vocação de favorecer a cooperação da França com os países da América do Sul, mas também de promover trocas entre os próprios países latinos. Neste caso específico, a França – e o CNRS, que participa ativamente destes programas – desempenha um papel de catalisador na cooperação internacional que se desloca do clássico eixo bilateral Norte-Sul para o eixo multilateral de alçada regional Norte-Sul-Sul.

 

E que papel o Brasil, em específico, tem desempenhado nesse ambiente de cooperação?
Na cooperação científica do CNRS com os países da América do Sul, o Brasil ocupa um lugar de primeira importância. Existem vários programas de cooperação científica franco-brasileira que apresentarei durante minha conferência no Fórum de Internacionalização da UnB. Adianto um exemplo emblemático: o laboratório internacional de pesquisa em matemática sediado no Rio de Janeiro (CNRS-IMPA). Fruto da dinâmica da rede franco-brasileira em matemática, esta unidade foi criada em 2006 e reúne hoje cerca de 50 pesquisadores em matemática. Ela está em um nível muito bom em pelo menos três áreas de excelência: sistemas dinâmicos, equações com derivadas parciais e geometria. O matemático brasileiro Artur Ávila, agraciado com a medalha Fields em 2014 e pesquisador no CNRS, representa perfeitamente como tem sido frutífera esta cooperação franco-brasileira.

 

Qual deve ser a principal contribuição dada por sua conferência no Fórum de Internacionalização?
Lembrar que a ciência hoje, no mundo globalizado, de fato, não tem fronteiras. É possível notar isso ao perceber o número copublicações de pesquisadores de vários países e a quantidade de colóquios internacionais coorganizados por instituições de dois ou mais países, nos quais participam pesquisadores do mundo inteiro. Em várias disciplinas, estes colóquios produzem, por sua vez, publicações de anais, o que perpetua o “círculo virtuoso” da internacionalização da ciência moderna. As publicações de acesso aberto são outra evidência. Cada vez mais numerosas, estão acessíveis gratuita e imediatamente em todas as partes do globo, até nos recônditos mais isolados e precários. Pretendo ressaltar, enfim, que o elemento essencial para construir a ciência do amanhã são as bolsas de doutorado em cotutela. Por um lado, elas enriquecem o jovem pesquisador quando lhe permite descobrir diferentes tradições e abordagens científicas. Por outro, muitas vezes dão lugar a novas colaborações e novas conexões entre pesquisadores dos dois países que orientam o doutorando.

 

2º Fórum e Feira de Internacionalização da Universidade de Brasília começa já nesta segunda-feira (10). Confira a programação e não fique de fora!

 

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