EXCELÊNCIA

Produzido por equipe multidisciplinar para levar a Universidade de Brasília ao mundo, material é inédito na trajetória da instituição

 

UnB lança primeiro Plano de Internacionalização em 56 anos de atividade. Arte: Secom UnB

 

Internacionalização. Palavra extensa, que parece ter encontrado lugar permanente no vocabulário acadêmico. Não apenas a grafia requer atenção, mas também seu próprio significado, composto, mais do que por conceitos, por ações e resultados. O processo é visto como um divisor de águas, um meio para alcançar excelência, abrindo portas para atuações em conjunto em pesquisa, ensino e extensão – fundamentos da Universidade.

 

Com a superação de fronteiras, a disseminação do conhecimento é ampliada. A presença de indivíduos de diferentes culturas, no ambiente universitário, colabora para a diminuição da intolerância e a promoção da diversidade. A ideia de internacionalizar traz também a oportunidade de modernizar currículos e adotar boas práticas, pela aproximação com instituições acadêmicas e especialistas em diferentes áreas.

 

“A partir de uma cooperação deste nível, estudantes e docentes desenvolvem um olhar diferenciado sobre o mundo que os cerca. Podem perceber um universo mais amplo, e assim ter ferramentas para confrontar os grandes problemas na atualidade”, descreve a professora Cláudia Amorim, diretora de Pesquisa do Decanato de Pesquisa e Inovação (DPI), uma das unidades envolvidas no trabalho de intensificação do projeto internacional da UnB nos últimos meses.

 

Além do DPI, participaram do comitê multidisciplinar que elaborou o Plano de Internacionalização da UnB unidades que hoje integram a Comissão Permanente de Internacionalização: lideranças da Assessoria de Assuntos Internacionais (INT) e dos decanatos de Pós-Graduação (DPG), de Ensino de Graduação (DEG) e de Extensão (DEX), sob a coordenação do gabinete do vice-reitor. A comissão atual, criada para garantir o cumprimento das ações previstas no plano, é integrada ainda por docentes ligados à Faculdade de Ciências da Saúde (FS), Faculdade de Planaltina (FUP), Instituto de Artes (IdA), Instituto de Ciências Sociais (ICS) e Instituto de Geociências (IG).

 

CONTEXTO  O Plano de Internacionalização 2018-2022 foi aprovado por unanimidade em reunião de abril do Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (Cepe). Primeiro documento da instituição sobre o assunto em 56 anos, o texto de 40 páginas descreve o panorama atual da Universidade, traçando diretrizes, objetivos e prazos que deverão ser cumpridos nos próximos quatro anos. A finalidade principal é garantir perenidade às ações desenvolvidas, nesse sentido, dentro da UnB . 

Ana Helena Rossi apresenta Plano de Internacionalização durante reunião do Cepe que aprovou o documento. Foto: Amália Gonçalves/Secom UnB

 

“A UnB já estava internacionalizada, mas isso ainda não era sistematizado. O que muda é que agora temos um plano global para toda a instituição”, resume o vice-reitor, Enrique Huelva. "Por anos, o que vinha acontecendo na Universidade era a realização de projetos e ações capitaneadas por professores, de maneira individual", complementa a assessora da vice-reitoria, professora Ana Helena Rossi. 

 

Para o vice-reitor, a preocupação com grandes temas mundiais – como fome, migrações, meio ambiente e doenças – é um dos motivos fundamentais para a existência de uma universidade. “Se temos problemas globais, as nossas soluções não podem ser apenas locais ou regionais. O engajamento é necessário. Por isso, a Universidade precisa encarar a internacionalização como elemento estratégico”, defende. “Estamos empenhados em várias ações, para colocar o mundo na UnB e a UnB no mundo”, aponta.

 

A atenção com um desenvolvimento científico que também tenha um apelo global é outra justificativa para o Plano de Internacionalização, segundo a decana de Pós-Graduação, Helena Shimizu. “Esse movimento é essencial para fomentar a pesquisa de ponta, desenvolvida nos programas de pós-graduação. A Universidade tem de ser global porque tem de ser mais moderna, mais resolutiva, mais inovadora”, afirma. 

 

Outro ponto que estimula a ênfase no processo de internacionalização da UnB é a pressão por protagonismo, dada a localização central no país, a poucos quilômetros de embaixadas e representações internacionais instaladas na capital. “Temos de responder às demandas destes núcleos mundiais tão próximos a nós”, avalia Sabine Gorovitz, diretora da Assessoria de Assuntos Internacionais (INT), que administra a celebração, o acompanhamento e a operacionalização de acordos na instituição.

 

De sua experiência na área, Sabine traz a lição de que não é possível internacionalizar com sucesso sem planejamento. Mobilidade, publicações, traduções e outras atividades compreendidas no processo demandam altos custos, que não podem ser absorvidos se não forem tratados como prioridade. E é esse tipo de transformação que o novo plano busca implantar.

 

ÁREAS DE INTERESSE Entre os destaques trazidos pelo documento, que também passa a integrar o planejamento estratégico da UnB, está o fortalecimento da política de ensino de línguas na instituição, com foco em trabalhar o idioma do ponto de vista da pesquisa. “Temos isso funcionando na prática no programa UnB Idiomas. A ideia é ampliar a política linguística na Universidade de Brasília, aproveitando a expertise, o material e os professores com doutorado em ensino de línguas de que dispomos”, reforça a professora Ana Rossi.

 

Dentro da proposta está a criação de uma lista de disciplinas em língua estrangeira e a ênfase na divulgação do ensino da língua portuguesa para estrangeiros. Segundo Sabine, a integração dos alunos beneficiados por bolsas do Programa de Estudantes Convênio de Graduação (PEC-G) também está na pauta das ações de internacionalização, com plano de acolhimento, atividades e teatro. São estudantes de países em desenvolvimento que estudam em universidades públicas federais via convênio promovido pelo Ministério das Relações Exteriores (MRE) e Ministério da Educação (MEC). 

Sabine Gorovitz saúda intercambistas durante recepção a alunos vindos do exterior. Ao seu lado, Lúcia Ribeiro, coordenadora de núcleo que ensina português para estrangeiros. Foto: Beto Monteiro/Secom UnB

 

Outras ações já estão em curso, como a inauguração da Casa Franco-Brasileira da Ciência, no início no mês de maio, e os editais de residência artística internacional oferecidos pela Casa da América Latina (CAL/DEX).

 

Dados da Assessoria de Assuntos Internacionais (INT) apontam que as maiores parcerias de mobilidade estabelecidas pela UnB são com França, Estados Unidos, Espanha, Portugal, Reino Unido e Bélgica. “Nossos estudantes não se interessam muito pela América Latina”, admite Sabine. “São movidos por algum preconceito que os faz pensar que os diplomas não são tão valorizados”, lamenta. Mas a mudança deste paradigma é uma prioridade para a INT.

 

Uma das metas mais acuradas é o investimento em parcerias Sul-Sul, com o intuito de promover integração regional e compensar a assimetria entre os países da região. “Pesquisa e conhecimento são desenvolvidos em conjunto. É importante que sejamos agentes dentro no mundo e não só no Brasil. A Universidade tem a missão de fazer dialogar muitas vozes”, pontua a diretora. Para tanto, a INT pretende promover graduações de dupla titulação e criar programas de pós-graduação que sejam internacionais desde o surgimento, favorecendo a chamada "internacionalização na base". 

 

ELABORAÇÃO As bases do documento começaram a ser estruturadas em 2017. Ao longo do percurso, foram realizados fórum de gestores – para promover diálogo entre pensadores de internacionalização da UnB e de outras instituições –, Feira de Internacionalização e visitas técnicas a outras universidades, nacionais e internacionais, com o objetivo de conhecer outros modelos e sistemas de inovação científica.

 

Além disso, foi realizado estudo aprofundado sobre o processo já iniciado na própria UnB – uma espécie de censo, destinado a conhecer a realidade dos estudantes estrangeiros na instituição e obter dados sobre grupos de pesquisa, redes e programas, bem como avaliar a inserção internacional dos programas de pós-graduação mais bem avaliados pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). Houve também estudo sobre dados bibliométricos da internacionalização da produção científica da Universidade, com coleta de informações disponíveis na BCE e em outras bases de dados.

 

A investigação sobre os programas da pós permitiu melhor compreensão qualitativa e quantitativa sobre os projetos de pesquisa em andamento nos últimos cinco anos, além de indicadores mais específicos, como número de professores, docentes com bolsa de pesquisa, número de artigos publicados e em quais categorias Qualis. A diretora de Pesquisa Cláudia Amorim explica que, apesar de o Plano ter focado nos programas com as três melhores menções atribuídas pela Capes (5, 6 e 7), está em curso no momento uma análise mais abrangente. “Queremos mapear informações sobre a UnB inteira e não apenas da pós-graduação”, garante. 

 

Todo esse levantamento envolveu vários setores. Até então, havia apenas dados parciais. “O mapeamento permitiu o autoconhecimento dos grupos de pesquisa e mostrou nossas grandes potencialidades”, observa o vice-reitor Enrique Huelva. “Em 2017, começamos pesquisando parcerias estabelecidas com os países e fomos construindo o retrato da UnB”, rememora a diretora da INT, Sabine Gorovitz. Em seguida, partiu-se para a construção de estratégias voltadas aos decanatos. Com esses dados consolidados, foi desenvolvido um modelo próprio de internacionalização, considerando indicadores específicos da Universidade.

 

Entre os dados levantados pelo estudo está a produção científica dos 2.561 professores do quadro permanente da instituição. No período de 2013 a 2017, a UnB alcançou 15.578 publicações em periódicos qualificados, sendo mais da metade internacionais (54%), o que coloca a Universidade entre as mais produtivas no Brasil. Um impacto interessante descoberto pelo mapeamento relaciona-se ao tipo de produção. A partir de 2012, acentuou-se aquelas com colaboração de autores estrangeiros, enquanto os artigos de autoria única diminuíram.

Dados expressos no Plano de Internacionalização demonstram como a UnB tem evoluído na colaboração internacional para a produção acadêmica. Arte: Secom/UnB

 

PROJETO Além da conclusão do Plano de Internacionalização, a UnB investiu grandes esforços nos últimos meses para inscrever proposta no edital de fomento Capes-PrInt – programa da agência de fomento com o fim de ampliar o alcance internacional de instituições de ensino superior para o quadriênio 2018-2022. Pesquisadores de alto nível, do Brasil e do exterior, avaliam os trabalhos; o resultado sai em agosto.

 

A proposta apresentada pela Universidade ressalta dados que apontam o progresso da instituição em temas que podem ser ainda mais valorizados com o apoio à internacionalização: além do levantamento sobre o impacto de pesquisas, que indica resultados satisfatórios, a Universidade também desponta como a terceira instituição federal de ensino superior do país em número de programas de pós-graduação e possui mais de 90% do seu quadro docente composto por doutores.

 

Para concentrar esforços no desenvolvimento do projeto enviado à Capes, foi estabelecido um comitê integrado por vários setores da UnB, com destaque para integrantes de universidades dos Estados Unidos, França, Reino Unido e Alemanha, especialistas nas áreas de Ciências Exatas e Tecnologia, Ciências Humanas e Sociais e Ciências da Vida e da Saúde. Após estudar a fundo os programas de pós-graduação com nota 5, 6 e 7, o comitê estabeleceu seis grandes temas que abarcam as pesquisas desenvolvidas e que representam a vocação da Universidade. A ideia é desenvolver, nesses quatro anos, projetos de pesquisa que agreguem vários programas de pós, de preferência, com uma perspectiva interdisciplinar.

 

O Decanato de Pós-Graduação percebe a formação internacional dos estudantes como algo de extrema importância, na perspectiva de proporcionar pensamentos globais, além de empregabilidade e competência. Tudo isso tende a ser convertido em prol das necessidades cada vez mais presentes na sociedade brasileira. “O país possui um atraso científico e tecnológico muito grande. Com mais esse apoio à internacionalização, conseguiremos promover o contato de estudantes e professores com novas tecnologias no mundo”, avalia a decana Helena Shimizu.

 

De acordo com a decana, todo o processo realizado até o momento, para estabelecer um diálogo com os programas e identificar os principais temas desenvolvidos, já significa um ponto bastante positivo no tocante à integração de áreas. A expectativa é que, partir de agora, mestrados e doutorados tenham mais informações para formular novos projetos de pesquisa e buscar financiamento fora do Brasil e no setor produtivo, de forma a aumentar o impacto do conhecimento produzido. "Estamos otimistas com esse processo. O que vimos até aqui nos indica que a UnB tem vocação planetária”, prevê.

 

>> Veja na íntegra o Plano de Internacionalização da UnB 2018-2022

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