COMUNIDADE

Comissão trabalha para consolidar rede de assistência psicológica à comunidade acadêmica. Conheça serviços de atendimento e acolhimento já oferecidos

 

Intervenção montada durante a exposição Meus Medos, dos alunos de Museologia. Integrar comunidade em apoio às situações de crise é também proposta da política de atenção à saúde mental da UnB. Foto: Luis Gustavo Prado/Secom UnB

 

Trabalhos acumulados, provas, prazos curtos, cobranças, competitividade. Às vezes, a rotina acadêmica pode exigir muito mais do que se está preparado para oferecer. A dificuldade de convivência com esses processos, somada a outros contextos que atravessam as experiências individuais dos estudantes, como solidão, individualismo, desigualdades socioeconômicas e preconceitos, podem, em certos casos, trazer consequências à saúde mental.

Nessas situações, ter apoio dos amigos e da própria instituição é fundamental para prevenir e superar os problemas. Atualmente, a UnB dispõe de alguns serviços de apoio a estudantes e servidores (docentes ou técnico-administrativos) que estejam em vulnerabilidade psicossocial.

>> Conheça os serviços de apoio psicológico disponíveis na UnB e em outros pontos do DF

Para melhor articular estes serviços e integrá-los a alternativas de apoio oferecidas externamente, uma comissão, instituída pela Reitoria em novembro de 2017, tem trabalhado na elaboração de uma política institucional de saúde mental e qualidade de vida.

As ações terão como base um mapeamento dos casos de sofrimento psicossocial na comunidade acadêmica nos últimos anos e a identificação de fatores que contribuem para a ocorrência. O levantamento foi realizado a partir da aplicação de questionários em estudantes e coordenadores da graduação e da pós-graduação. Estes resultados serão apresentados em breve.

Presidente da comissão responsável pela iniciativa, o chefe de gabinete da Reitoria, Paulo César Marques, explica que, apesar de não representar toda a realidade da instituição, o estudo traz alguns indicativos de como detectar essas situações, para que a Universidade possa lidar melhor com o assunto.

“Podemos identificar que existem vários fatores de sofrimento relacionados à vida na universidade, mas também muitos outros que vêm das vivências pessoais, das histórias de vida fora da instituição e que podem ser atenuados ou agravados durante a trajetória acadêmica”, observa.

Um dos eixos da política, ainda em fase de elaboração, prevê o estabelecimento de uma porta de entrada para onde deverão ser direcionadas as pessoas que necessitam de acolhimento e atendimento em saúde mental. As propostas preveem também capacitação de técnicos, professores e coordenadores de curso para identificarem situações problemáticas.

Além do Gabinete da Reitoria (GRE), integram a comissão o Instituto de Psicologia (IP), a Faculdade de Ciências da Saúde (FS), a Faculdade de Ceilândia (FCE), o Hospital Universitário de Brasília (HUB), o Decanato de Pós-Graduação (DPG), as diretorias de Acompanhamento e Integração Acadêmica (Daia/DEG), de Desenvolvimento Social (DDS/DAC), de Diversidade (DIV/DAC), de Saúde, Segurança e Qualidade de Vida no Trabalho (DSQVT/DGP) e representantes estudantis de graduação e pós-graduação.

Confira o minidocumentário da UnBTV sobre a estruturação da rede de apoio à saúde mental da UnB:

 

AJUDA O Centro de Atendimento e Estudos Psicológicos (Caep) é uma das unidades da UnB que oferecem atendimento psicológico. Vinculado ao Instituto de Psicologia (IP) e sediado em espaço próprio, o setor reúne atividades práticas de formação profissional e acadêmica para alunos de graduação e pós-graduação. Além de atender a comunidade universitária, os serviços se estendem a público externo de baixa renda.

Por dia, são realizados o máximo de 264 atendimentos. Os agendamentos são feitos sempre às segundas-feiras, pelo telefone 3107 1680. Também se integra às iniciativas do Caep o Grupo Entrelinhas, formado por uma equipe de psicólogos para assessoria de ações de prevenção e pósvenção ao suicídio.

Outro ponto de apoio, a Diretoria de Desenvolvimento Social (DDS/DAC) presta assistência a estudantes em vulnerabilidade socioeconômica que estejam com dificuldades psicológicas. O acolhimento é realizado com psicólogos e assistentes sociais, por meio de escuta qualificada e acompanhamento. Situações consideradas graves são encaminhadas pela equipe profissional para outros serviços especializados dentro e fora da instituição.

Também há acolhimento no Serviço de Orientação ao Universitário (SOU), no Programa de Apoio às Pessoas com Necessidades Especiais (PPNE), na Diretoria de Diversidade (DIV/DAC) e na Diretoria de Esporte e Lazer (DEL/DAC). Essas unidades oferecem apoio a seus respectivos públicos. Quando casos de sofrimento psíquico são identificados, os discentes são direcionados aos serviços de atenção em saúde mental disponíveis na UnB.

Para servidores – docentes e técnico-administrativos –, cuidados ao adoecimento psíquico relacionado ao trabalho são concedidos na Diretoria de Saúde, Segurança e Qualidade de Vida no Trabalho (DSQVT/DGP). Entre as atividades, três se direcionam especificamente à temática: serviços de acolhimento psicossocial, de intervenção em crise e de escuta qualificada relacionada ao trabalho. 

“É um espaço para o servidor colocar o que está acontecendo e construir estratégias para lidar com essas situações”, explica a coordenadora da diretoria, Lorena Fernandes.

Serviços oferecidos pelo Sistema Único de Saúde e outras iniciativas externas também podem ajudar. O Centro de Valorização da Vida (CVV), por exemplo, passou a disponibilizar, gratuitamente, para todo o Brasil, atendimento de suporte emocional para prevenção de suicídio a pessoas em crise. O telefone é 188 e as ligações são sigilosas.

DEBATER E OUVIR Estudante do curso de Comunicação Organizacional, Thayse Gomes enfrentou dificuldades para se adequar ao ritmo acelerado do ensino superior. Diagnosticada com depressão e transtornos de ansiedade e de pânico, a estudante passou por algumas situações de crise em sala de aula.

“O processo da graduação sempre foi complexo por conta das demandas, o que exigiu bastante da minha saúde mental”, afirma. Eram adversidades, no entanto, relatadas também pelos colegas. “Notei que meus amigos também estavam entrando em colapso por conta disso.”

Foi após uma forte crise de pânico, em 2016, que a estudante percebeu a necessidade de se discutir os processos de adoecimento que envolvem a vida acadêmica. O assunto a motivou a planejar, como trabalho de conclusão de curso, a realização de um evento na Faculdade de Comunicação (FAC), reunindo especialistas para abordar a temática e apresentar os serviços de atenção à saúde mental disponíveis na UnB.

A atividade está prevista para ocorrer no início do segundo semestre letivo, durante a Semana do Calouro da FAC. “É um incentivo para iniciar o debate sobre saúde mental. Se tem tanta gente sofrendo, na graduação e na pós, o que pode ser feito para que elas não sofram tanto?”, questiona Thayse. “O principal é falar sobre o assunto e não guardar para você. Se você fala, as pessoas conseguem te ajudar”, recomenda, a quem está em crise.

Professor do IP e coordenador do recém-criado Núcleo de Estudos, Pesquisas e Atendimentos em Saúde Mental e Drogas (Nepasd), Ileno Izídio da Costa enumera alguns sinais que podem ser identificados em pessoas em sofrimento psíquico grave. Veja abaixo:

Fique atento a estas demonstrações em pessoas próximas. A Universidade pode oferecer ajuda. Arte: Igor Outeiral/Secom UnB

 

O docente observa que esses e outros fatores aparecem de maneira conjunta e indicam, pela intensidade, a gravidade da situação. Para esses casos, Ileno reforça a importância da ajuda profissional. Pessoas próximas, como amigos e familiares, também podem auxiliar, se prontificando a escutar os problemas.

“Precisamos tornar nossas relações mais humanizadas, praticando atitudes de empatia, compreensão, contextualização, não julgamento, e, principalmente, exercitarmos a escuta de nossos pares e colegas”, orienta o professor.

Ainda em fase de estruturação, o Nespad, vinculado ao IP, desenvolverá ações de ensino, pesquisa e extensão em saúde mental, álcool e outras drogas, com formação de profissionais, realização de estudos e aplicação desses conhecimentos em atendimentos psicológicos.

A expectativa é que o núcleo possa oferecer acolhimento e intervenção em situações de crise e de violência, avaliação psicológica, psicossocial, ocupacional e psiquiátrica, orientação pedagógica, estudantil e para aposentadoria, além de ações de promoção à saúde e prevenção de doenças.

A instância também atuará em rede com outros serviços já existentes. No momento, tem realizado apenas atendimentos emergenciais. Informações sobre os horários podem ser obtidas pelo telefone 3107 1679 ou pelo e-mail Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo..

APOIO MÚTUO Nas unidades acadêmicas, algumas iniciativas têm chamado atenção para o assunto, com a discussão de estratégias para melhorar a qualidade de vida da comunidade. Reuniões com especialistas, núcleo docente e centros acadêmicos, além de rodas de conversa e outras mobilizações, têm sido propostas e realizadas no Instituto de Ciências Sociais (ICS) como forma de compartilhar experiências, exercitar a escuta do outro e refletir sobre as práticas cotidianas no espaço acadêmico.

Obras fotográficas da exposição Meus Medos expressam sentimentos diante das dificuldades experimentadas na Universidade. Foto: Luis Gustavo Prado/Secom UnB

 

“Tem havido uma mobilização grande no sentido de criar um ambiente mais favorável e acolhedor, não só para os estudantes, como para técnicos e professores”, destaca a coordenadora do curso de Antropologia Christine Chaves.

A exposição Meus Medos, organizada por estudantes do curso de Museologia, utilizou a arte para abordar a temática. Realizada em junho na galeria de arte da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU), a mostra reuniu trabalhos fotográficos, ilustrações, relatos da comunidade e outras formas de mobilização para expressar as violências vivenciadas pela comunidade e as interferências do cotidiano acadêmico na saúde mental. Rodas de conversa, mesas públicas e debates também fizeram parte da mostra.

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