COVID-19

Sérgio Costa e Débora Noal também responderam questões do público sobre negacionismo, prática saudáveis e perspectivas para o futuro

Débora Noal e Sérgio Costa abordaram efeitos psicossociais e sociopolíticos da pandemia na sociedade. Imagem: Reprodução

 

Com o tema Distanciamento social, saúde mental e novas sociabilidades ocorreu o quinto webinário da série de debates O futuro em tempos de pandemia: vida, sociedade e ciência. Na edição, realizada na quinta-feira (6), participaram a psicóloga sanitarista Débora Noal e o sociólogo e professor da Freie Universität Berlin, Sérgio Costa. O diálogo foi mediado pela coordenadora da Diretoria de Atenção à Saúde Universitária (Dasu/DAC/UnB), Larissa Polejack, e transmitido, pelo canal da UnBTV no YouTube.

 

Larissa Polejack ressaltou que estamos passando por uma reconfiguração do cotidiano, em que se torna necessário debater formas de enfrentamento ao Sars-CoV2 e refletir sobre os efeitos desse fenômeno em nossas práticas coletivas e individuais. “As circunstâncias impõem novos sentidos à morte e desafios que vivenciamos neste luto. Estamos diante de vários desafios, mas também estamos diante de muitas oportunidades para colocar essas experiências humanas e construir novas formas de convivência”, pontuou.

 

Sérgio Costa concentrou sua fala em perspectivas sociais e políticas evidenciadas pela pandemia do Sars-Cov2, como as disparidades socioeconômicas e o impacto da doença sobre as populações socioeconomicamente vulneráveis. Também teceu comparações entres as ações governamentais adotadas em diferentes países.

 

IMPACTO PSICOSSOCIAL – Especializada em desastre de grandes proporções, a psicóloga Débora Noal acompanha, desde 2008, eventos naturais, como terremotos e furacões, guerras e enfrentamento civis. Noal apontou os principais efeitos da covid-19, como o distanciamento físico das pessoas, a impossibilidade de práticas de rituais culturais coletivos (festas, casamentos, velórios e funerais) e a velocidade em que a pandemia atinge a sociedade diante do número de óbitos anunciados. “Muitos de nós já não mantínhamos uma rede socioafetiva, mas agora, com a impossibilidade que é real, concreta e, de alguma forma, comunicada, nos damos conta de que aquela pessoa com quem não convivemos faz falta”, explica.

 

Segundo Débora Noal, cerca de um terço da população que vivencia uma epidemia ou pandemia pode manifestar psicopatologias. Para ela, a dimensão desses efeitos depende das ações tomadas no combate da emergência de saúde pública. “Quando uma população é, de alguma forma, cuidada e recebe um acompanhamento digno de suas necessidades, em especial, as demandas psicossociais, ela não vai padecer, necessariamente, de um estresse pós-traumático ou crônico”, aponta.

 

A psicóloga ainda mencionou uma série de impactos resultantes de desastres que são comumente identificados, inclusive, nesse período de pandemia: estresse agudo, alteração de sono e de apetite, letargia ou agitação, e mesmo processos de violência. “No Brasil, podemos dizer que estamos exatamente no meio, no período de durabilidade do sofrimento, onde toda e qualquer reação esperada é considerada normal, porque estamos ainda em fase de assimilação.”

 

“Um pandemia dessa magnitude nos evidencia a falta de controle e é por isso que padecemos de parte dessas reações”, completa. Para Noal, a repercussão em potenciais traumas, dependerá das redes socioafetivas constituídas nesse momento.

 

DESPEDIDAS – Ao abordar a experiência do luto, Noal enfatiza a necessidade de vivenciar esse estágio. Segundo ela, os rituais tradicionais de velórios estão associados, muitas vezes, à necessidade de oferecer uma morte digna aos entes próximos. “Parte da nossa cultura está vinculada à presença física, na hora da partida, como simbologia do afeto e das redes construídas em vida. Isso vai fazer diferença para as pessoas que estão vivenciando o luto”, detalha. “É importante pensar em estratégias de autocuidado, fazendo pontes com aquilo que proporcionava a sensação de projeto de vida”, afirma.

 

Sobre as oportunidades emergidas durante a pandemia, Noal aponta a solidariedade, a empatia e a sensação de pertencimento. “Ao contrário da pandemia, a mudança não vem de uma forma vertical. É preciso que a população comece a sentir a necessidade de fazer diferente”, pontua.

 

DIMENSÕES – “A qualidade e a intensidade de medidas adotadas pelos governos como reação à pandemia é muito diferente nos diversos países e isso gera consequências muito distintas não só na qualidade de vida das pessoas durante a pandemia, como também na qualidade de morte desta pessoas”, complementa Sérgio Costa.

 

O professor destaca três dimensões da vida social que se tornaram visíveis durante a pandemia: o grau de interdependência entre as pessoas das diversas partes do mundo e interdependência entre humanos e seres não humanos; as desigualdades sociais agravadas pela covid-19; e as distâncias abismais em termos de responsabilidade da vida e saúde das pessoas.

 

O primeiro aspecto, segundo Costa, deve ser observado como um processo histórico, no qual se tem registrado os diferentes efeitos da humanidade no planeta, tanto para o desenvolvimento quanto para a devastação. O professor inclui nessas interações as relações humanas com outros animais, com a vegetação e com tecnologias computacionais.

 

“Nesse sentido, a reflexão que a ciência faz hoje é muito semelhante àquela que pensadores indígenas já vêm fazendo há muito tempo, como Davi Kopenawa ou Ailton Krenak: nós, humanos, estamos cortando o galho planetário, onde todos estamos pendurados e, seguramente, nosso destino não será separado destes outros seres que estamos sacrificando”, critica.

 

De acordo com Costa, a crise atual colocou em evidência as disparidades sociais e raciais. “Quem não via um mundo desigual, agora está vendo da maneira mais dramática possível”, aponta. “Atualmente, os dados para o Brasil são menos confiáveis, mas mostram que muito mais negros morrem, em decorrência da pandemia, do que brancos”, reflete.

  

Assista aqui ao vídeo completo:

 

*estagiário de Jornalismo na Secom/UnB 

 

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