FUTURO

Desigualdade e oportunidades para preparar o país para o futuro (ou uma nova crise) são tema de conversa

Os convidados concordam que é preciso aprender com o que a pandemia da covid-19 nos trouxe para que possamos nos preparar para o futuro. Imagem: Reprodução

 

"As condições para uma nova epidemia estão dadas", declara o sociólogo e economista Marcelo Medeiros, que junto com o jornalista Antônio Martins foi o convidado do webinário Pandemia, Desigualdades e Novos Rumos para a Economia. O evento faz parte do ciclo de debates O Futuro em Tempos de Pandemia. A conversa foi transmitida pelo canal da UnBTV no YouTube, na manhã desta quinta-feira (25), e mediada pela professora do Departamento de Antropologia, Kelly Silva. O vídeo está disponível no canal para quem quiser assistir. 

 

Os convidados concordam que é preciso aprender com o que a pandemia da covid-19 nos trouxe para que possamos nos preparar para o futuro. Antônio Martins, editor do site Outras Palavras, que trabalha jornalismo de profundidade e pós-capitalismo, aponta que um sistema financeiro saudável poderia financiar dificuldades passageiras, mas que, no momento, não há condições asseguradas para que a população se proteja.

 

"Estamos tentando evitar que o auxílio [emergencial] seja cortado em meio à pandemia ou algo igualmente grave, que é a redução a uma espécie de renda básica de segunda categoria", afirma o jornalista Antônio Martins. O palestrante reverberou um comentário de Marcelo Medeiros, que defende que uma das formas de proteção da sociedade é a manutenção de um sistema de seguridade social que não dependa dos ciclos da economia e consiga manter-se estável ainda que o país esteja em crise.

 

Dos temas abordados, o auxílio emergencial foi um dos que apareceu com frequência nas falas dos participantes: pelo viés da política, em que buscou-se delinear o impacto da renda que tirou dezenas de milhões de brasileiros da linha da pobreza, em ano de eleição; por meio dos pilares da economia, via arrecadação de impostos no país; e pela ótica da sociedade, em que o auxílio de R$ 600 não é suficiente para recompor a renda do trabalhador.

 

"Uma mãe de família que leva o sustento para casa como diarista ou um pai que vive de serviços, traz R$ 100, às vezes R$ 200, de volta para cada, no fim do dia. Para essas pessoas, o dinheiro ajuda, mas não mantém a população em casa", afirma Antônio. Marcelo completa que, para proteger toda a população, é necessário mobilizar uma larga escala da sociedade, ou não estaremos protegidos. "Sem proteção, as pessoas mais pobres não podem se isolar e aprendemos que essa proteção não é só justiça social é, também, componente de um bom funcionamento da sociedade", defende.

 

Para os especialistas, a pandemia provoca desigualdade, mas, além disso, ela escancarou as desigualdades que já existiam. Medeiros acredita que, além do agravamento trazido pela pandemia, faltou liderança, iniciativa e interesse em dar respostas a essas questões. O sociólogo e economista defende que seria necessário responder à crise de forma que se protegesse não apenas as pessoas, mas as instituições que, de fato, são essenciais ao funcionamento da sociedade.

 

O FUTURO – Marcelo Medeiros, respondendo a uma pergunta feita pelo público que acompanhava a transmissão pela UnBTVexplica que do ponto de vista da economia, o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro deve cair de oito a 10% no ano. O que seria equivalente a quatro ou cinco anos de crescimento da economia. "A economia já não vinha bem. Se houver recuperação, não estará terminada até 2022 e não devemos voltar ao normal porque o mundo já terá mudado com políticas de outra ordem.

 

Uma das propostas feitas para a recomposição da economia é pensar a reforma tributária de forma que se repense o imposto de renda. O sistema tributário brasileiro é baseado no consumo e grande parte da arrecadação vem daí, fazendo com que, em momentos de queda no consumo, haja consequente redução na arrecadação. "O sistema tributário baseado nas pessoas físicas e jurídicas, não cria nenhuma catástrofe, nem é muito radical com relação ao que é feito no restante do mundo", defende Medeiros

 

"Não se deve voltar ao normal porque é aquele em que seis bilionários detêm a mesma riqueza que metade dos habitantes do planeta", avalia Antônio.

 

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