Um dos focos de ação para a fase de recuperação da UnB no contexto da pandemia do novo coronavírus é assegurar aos estudantes condições satisfatórias e cômodas para eventual retomada do calendário acadêmico, suspenso em março. Além de medidas para preservar a saúde dos discentes, a instituição trabalha para compreender os atuais desafios existentes entre o grupo neste período de isolamento social e para identificar as necessidades diversas para o retorno às atividades letivas em modo remoto.
Entre as preocupações relacionadas ao acompanhamento das atividades on-line por parte dos estudantes estão as disparidades de acesso e familiaridade a tecnologias, além da desigualdade de infraestrutura adequada para realização de estudos.
“Não há dúvidas de que teremos um contingente relevante de alunas e alunos que vão precisar de apoio da Universidade para conseguir ter os requisitos mínimos de realização de tarefas remotas. Essa é a preocupação, inclusive, que orientou a suspensão do semestre”, avalia Lúcio Rennó, diretor do Instituto de Ciência Política (IPOL/UnB) e coordenador do subcomitê de Pesquisa e Social do Comitê de Coordenação de Acompanhamento das Ações de Recuperação (CCAR). O subcomitê conduz levantamento para entender quais são as demandas e condições dos estudantes e demais membros da Universidade para o desempenho de atividades remotas no atual contexto da pandemia.
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A pesquisa busca, ainda, envolver a comunidade universitária na definição de estratégias para o planejamento da retomada. Questionários específicos a estudantes, professores e técnicos administrativos estão disponíveis para resposta até 26 de junho. Os convites para acesso foram enviados pelo e-mail institucional. Estudantes também podem participar por meio do link www.questionarios.unb.br. A partir de terça-feira (16), professores e técnicos que não tenham tido acesso ao questionário por e-mail podem responder à pesquisa no mesmo link.
Uma central de atendimento telefônico também entra em funcionamento nesta semana, para garantir a participação de quem não tem acesso à internet. A central realizará tanto a busca ativa desses estudantes, sem acesso regular à rede de computadores, quanto atenderá a chamados para o preenchimento de questionários por telefone. Os números são: (61) 3107 0521 e (61) 3107 0522.
Além de questões relativas ao perfil socioeconômico dos respondentes, as perguntas contemplam aspectos de saúde, como hábitos de prevenção contra a covid-19, condições de trabalho em domicílio – o que envolve, por exemplo, a execução de tarefas domésticas, cuidados de familiares e existência de espaço adequado para estudo –, acesso à internet, conhecimento de ferramentas de comunicação e informação utilizadas pela UnB e uso de outros recursos tecnológicos.
“Não adianta ter só acesso à internet e não ter nenhuma condição de trabalho no domicílio, então precisamos levar isso em consideração”, afirma o coordenador do subcomitê de Pesquisa e Social do CCAR, Lúcio Rennó.
O docente destaca que a pesquisa auxiliará a conhecer melhor a realidade dos estudantes da instituição neste momento e a identificar se houve agravos à situação deles por conta da pandemia do novo coronavírus.
Por isso, Rennó defende a importância da participação dos discentes e pede à comunidade que se mobilize para auxiliar os estudantes que possuem limitações no acesso à internet a responder o questionário.
“Estamos trabalhando numa concepção multidimensional e coletando informações únicas. Temos uma noção de que o perfil dos alunos é muito variado. Existem pessoas com vários perfis de renda familiar, diversas situações no domicílio e atribuições, além de diferentes idades. Esperamos que a pesquisa demonstre essa diversidade.”
PLANEJAMENTO – O subcomitê Acadêmico do CCAR, junto ao Serviço de Tecnologia da Informação (STI), ao Decanato de Assuntos Comunitários (DAC) e ao Decanato de Planejamento, Orçamento e Avaliação Institucional (DPO) já têm realizado o levantamento dos equipamentos e infraestrutura disponíveis na Universidade para atender às demandas por recursos tecnológicos e por espaços de estudo que forem identificados na pesquisa.
“Estamos pensando opções para auxiliar os estudantes de modo geral e, especificamente, os que estão em vulnerabilidade socioeconômica para que, na fase de retorno das aulas não presenciais, sejam disponibilizados os recursos necessários para que cursem as aulas”, explica o decano de Ensino de Graduação (DEG), Sérgio de Freitas, um dos responsáveis pelo subcomitê.
Em consulta às unidade acadêmicas, o CCAR trabalha também na análise das disciplinas que podem ser ofertadas de modo remoto e na discussão de proposta, em cinco etapas, para a fase de recuperação da pandemia, com informações subsidiadas pelo Comitê Gestor do Plano de Contingência em Saúde da covid-19 na UnB (Coes). Somada a essas iniciativas, o Centro de Educação a Distância (Cead) prepara um material com orientações sobre o ensino não presencial e uso da plataforma Aprender, além de sugestões para a realização de atividades on-line.
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O estudante de Psicologia e coordenador geral do Diretório Central dos Estudantes (DCE), Bruno Zaidan, pontua que todos esses fatores devem ser considerados para que a oferta do ensino remoto não acentue as desigualdades de oportunidades de aprendizagem e não resulte em trancamentos e em evasão.
O representante do DCE alerta para questões que podem interferir no acompanhamento das classes pelas estudantes, como a desigualdade de gênero, já que indicadores apontam que as mulheres acabam absorvendo maiores responsabilidades no trabalho doméstico e cuidado com familiares, sobretudo neste cenário de isolamento social. Zaidan reforça ainda que há de se observar as diferentes situações socioeconômicas dos estudantes que ingressaram na instituição nos últimos anos.
“Há casos de pessoas que não têm um cômodo próprio na casa para poder estudar com tranquilidade e equipamentos de qualidade – por exemplo, um notebook – para acessar os conteúdos, dependendo muito do celular. Muitos estudantes não têm acesso a uma internet de qualidade ou nem têm wi-fi, só plano de dados do celular que não permite acompanhar, por exemplo, aulas por vídeo e conteúdos com um pouco mais de peso”, pondera o coordenador geral do DCE.
Parte dos estudantes indígenas também relata dificuldades na conectividade nas aldeias e na disponibilidade de equipamentos tecnológicos para o desempenho de atividades on-line.
Da etnia Tupinikim, Jheniffer Oliveira, estudante de Saúde Coletiva e presidente da Associação dos Acadêmicos Indígenas da UnB (AAIUnB), afirma que alguns alunos retornaram a suas comunidades em função da pandemia e estão em regiões com sinal de internet limitado. Ela ressalta que muitos não possuem condições financeiras para adquirir computadores pessoais.
Além da busca por alternativas para o fornecimento desses recursos, Jheniffer Oliveira destaca a necessidade de se pensar soluções para o suporte dos discentes indígenas que não têm o português como primeira língua. “Alguns estudantes têm muita dificuldade de falar ou interpretar um texto em português", observa.
"Acreditamos que, para eles, deve ser construída outra proposta e, talvez, haja a necessidade de um tutor virtual para que consigam acompanhar as disciplinas e fazer as atividades exigidas”, avalia.
SUPORTE – Outras ações têm contribuído para planejar a volta às aulas em modo remoto, da maneira mais confortável possível, e apoiar os estudantes neste momento de crescente propagação da covid-19. A manutenção do bem-estar dos acadêmicos é uma das prioridades. Diretora de Atenção à Saúde da Comunidade Universitária (Dasu/DAC), Larissa Polejack afirma que o isolamento social e a saudade das interações com os colegas no espaço da Universidade podem impactar o emocional dos discentes.
“Às vezes, o fato de estarem em casa também coloca os estudantes em contato com dificuldades familiares por conflitos pré-existentes ou que ficaram exacerbados. Por outro lado, temos relato de estudantes que estão ressignificando essa relação com a família e redescobrindo o prazer de passar mais tempo juntos e de conversar”, observa a diretora da Dasu.
Por isso, o subcomitê de Saúde Mental e Apoio Psicossocial do CCAR pretende realizar uma avaliação para compreender quais preocupações psicológicas têm afetado a comunidade universitária neste período e prepará-la para a reintrodução às atividades acadêmicas, bem como desenvolver estratégias para fortalecer os laços dos estudantes com a instituição. Ações educativas também têm sido planejadas pelo Coes para apoiar estudantes, técnicos administrativos e docentes na etapa inicial de retomada.
Acrescenta-se, ainda, a oferta de auxílio alimentação emergencial a 3.247 estudantes em situação de vulnerabilidade socioeconômica que realizavam suas refeições diárias no Restaurante Universitário (RU). O local teve o atendimento presencial suspenso para reduzir o risco de contágio pela covid-19. O DAC também ampliou o quantitativo de auxílios emergenciais e destinou recursos para ajudar os discentes oriundos de outras cidades e estados no retorno a seus lares.
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*Matéria editada em 23/6 para informar prazo de prorrogação até dia 26/6.