TECNOLOGIA

Três grupos batalham contra o tempo para aliar agilidade, baixo custo e soluções precisas como resposta à pandemia

 

Aparelho respirador disponível no mercado está orçado em R$ 200 mil, a unidade. Foto: Reprodução CMOS/Drake

 

Fazer respiradores com o menor custo possível, que atendam à maioria dos casos, e que sejam de fácil acesso: essa é a proposta de três projetos desenvolvidos em laboratórios da Universidade de Brasília. Indispensáveis para manutenção da vida de pacientes internados em Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) em decorrência do comprometimento de pulmões causado pelo novo coronavírus, os aparelhos têm sido objeto de frequente discussão, uma vez que não há equipamentos suficientes para atender à demanda atual.

 

Os grupos são: projeto Respire, da Faculdade UnB Gama (FGA) em parceria com a Faculdade de Tecnologia (FT) do Campus Darcy Ribeiro; Grupo de Pesquisa em Inovações, Projetos e Processos (Gpipp); e equipe do Centro de Estudos Avançados de Governo e Administração Pública (CEAG/UnB), liderada pelo professor do departamento de Administração José Carneiro Cunha.

 

Dois desses projetos foram contemplados pelo edital da Fundação de Amparo à Pesquisa do Distrito Federal (FAP/DF), mas ainda não tiveram seus recursos liberados. Eles aguardam a disponibilização do apoio para dar seguimento aos contatos já feitos com fornecedores de insumos e para produzir as peças.

 

Uma das inovações trazidas pelo projeto da equipe liderada pelo professor da Faculdade de Tecnologia, Sanderson Barbalho, é o uso da tecnologia IoT (Internet of Things – internet das coisas, em tradução livre) que, com baixo custo, permitiria a um profissional da saúde monitorar vários respiradores por meio de aplicativo. 

 

O grupo, de 18 integrantes da UnB e de universidades parceiras, liderado por Barbalho, estuda outras possibilidades como a utilização de um mesmo respirador por mais de um paciente. A viabilidade, contudo, só poderá ser analisada após a liberação dos recursos. O desenvolvimento do projeto ocorre, majoritariamente, por meio de reuniões virtuais. Há esforço para limitar o trabalho presencial ao estritamente necessário, orientação seguida pelos pesquisadores que respeita regras de distanciamento social e de uso de máscara. A equipe está concorrendo ainda em outros editais para combate à Covid-19 e espera poder ampliar o trabalho. 

 

O objetivo da pesquisa liderada pelo professor José Carneiro, em um primeiro momento, é desenvolver planejamento para fabricação em escala industrial de equipamentos acessíveis. Dessa forma, seria possível reduzir a dependência de peças para reparo e de aparelhos que hoje estão disputados no mercado. O projeto ainda mapeia e organiza, no DF, plano emergencial para produção, manutenção e posterior reuso de respiradores hospitalares e outros insumos.

 

"Trabalhamos com a perspectiva de disponibilizar o lote piloto e começar a produção industrial em até dois meses", explica José Carneiro. A estratégia é usar um protótipo que já esteja em fase avançada de certificação e começar a industrialização e produção em escala. Os aparelhos desenvolvidos pela Universidade Estadual de São Paulo (USP) e da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) possuem projetos com licenças abertas às quais poderia se aplicar o processo de industrialização. Assim, os aparelhos chegariam em tempo de suprir a demanda criada pela Covid-19.

Protótipo inicial do projeto Respire foi feito com recursos próprios. Equipamento ainda contará com monitoramento de sinais do paciente. Foto: Divulgação/Projeto Respire

 

SEM FINANCIAMENTO –  O professor Daniel Arboleda, da FGA, coordena o projeto Respire – aprovado pelos órgãos de pesquisa da UnB e do Instituto Federal de Brasília (IFB). A pesquisa é desenvolvida por time de 25 pessoas que planejam desenvolver, em três meses, ventiladores simples, que possam ser utilizados por pacientes afetados pela Covid-19. O trabalho também conta com o envolvimento do Centro Universitário do Planalto Central Apparecido Santos (Uniceplac).

 

O preço? "Algo em torno de R$ 1.300 e R$ 1.500", responde o docente. O valor baixo, se comparado aos equipamentos utilizados nas redes pública e privada de atenção à saúde (que custam em torno de R$ 200 mil), é possível pela simplicidade da máquina. "Nosso aparelho possui modos de funcionamento básicos, porém suficientes para ventilação dos pacientes que desenvolveram a doença", explica.

 

Mesmo sem financiamento pelas agências de fomento, o professor crê que os protótipos devam estar finalizados até o fim de maio. Em junho, estima-se que sejam feitos testes com simuladores e manequins e, se aprovados, em animais. Até agora, o professor tem utilizado recursos próprios para a aquisição de componentes e custeio de fretes e de serviço de terceiros. Estudantes e professores trabalham de forma voluntária no projeto.

 

A maioria dos componentes do aparelho é encontrada em fornecedores do próprio Distrito Federal, o que facilitaria a reposição e valorizaria a economia local. A ideia é que, posteriormente, seja utilizada uma máquina de corte à laser para fabricar o respirador em acrílico. Caso surja financiamento, os pesquisadores poderão ativar a máquina de injeção de plástico da FGA, o que permitiria fabricar alguns componentes do respirador.

 

E DEPOIS?  Uma das preocupações é a destinação dos aparelhos após o pico de uso estimulado pela crise na saúde pública causada pela Covid-19. O professor José Carneiro defende que o uso de peças, como o proposto no trabalho de sua equipe, ajudaria no momento de repor aquelas que necessitassem ser trocadas ou forneceriam um estoque futuro para ser utilizado. "O essencial é pensar o reuso, armazenamento ou redirecionamento para que não fiquem ociosos e possam substituir respiradores que quebrem", conclui.

 

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