APRENDER PARA ENSINAR

Mesmo diante dos desafios da pandemia de covid-19, iniciativa continua estimulando estudantes de licenciatura a seguir o caminho da docência

Integrantes do Pibid buscam novas formas de interação remota. Reuniões on-line do projeto interdisciplinar da Sociologia e da História, por exemplo, são semanais, com discussões sobre o tema. Imagem: Reprodução

 

"É muito incrível poder compartilhar o sonho de uma outra educação com mais pessoas e bolar estratégias para chegar lá." A frase da estudante do sétimo semestre de História Beatriz Andrade resume bem a lógica do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (Pibid), que permite a discentes que ainda não tenham completado 60% dos créditos obrigatórios aos cursos de licenciatura a chance de ter contato com a experiência do magistério em escolas públicas.

 

No programa, estimula-se a reflexão e a abordagem, por diferentes visões e construções coletivas, sobre o trabalho para construir uma realidade diferenciada na educação. Na Universidade de Brasília, o programa oferece, atualmente, 120 bolsas, das 240 destinadas pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) a instituições de ensino do DF. Com o objetivo de antecipar o vínculo entre os futuros mestres e as salas de aula, o Pibid concede bolsas de iniciação à docência a alunos de cursos presenciais que se dediquem ao estágio em escolas públicas.

 

Lançado pelo Decanato de Ensino de Graduação (DEG), o biênio 2020-2022 do programa na UnB conta com 11 subprojetos nas áreas de Ciências da Natureza, Ciências Humanas e Ciências Sociais Aplicadas: oito realizados em parceria com a Secretaria de Educação do Distrito Federal, e três, com o Instituto Federal de Brasília (IFB).

Lançamento do programa para biênio 2020-2022 foi feito em cerimônia virtual com representantes da administração superior e da iniciativa. Imagem: Reprodução

 

O coordenador institucional do Pibid na UnB, Pedro Gontijo, considera o programa "a mais importante iniciativa de formação docente na interação da Universidade com a educação básica".

 

Ele, que participa do Pibid há dez anos e está no segundo ciclo como coordenador, explica que a metodologia interativa e dialógica é essencial, tanto para as reuniões de alinhamento com os coordenadores de subprojetos quanto entre os docentes e os bolsistas.

 

"Temos, em nossos encontros, um momento de compartilhar as experiências trazidas pelos coordenadores de área, e isso acaba nos enriquecendo", enfatiza.

 

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APRENDIZADO MÚTUO – No Pibid, o bolsista precisa dedicar 32 horas mensais ao projeto a que está vinculado. Dessas, quatro horas semanais são destinadas ao trabalho com estudantes da educação básica e outras quatro, ao planejamento coletivo e às atividades individuais de estudo e produção de materiais.

 

"Estimulamos a autonomia dos pibidianos para elaborar propostas de oficinas a serem desenvolvidas. Já a definição dos temas e da forma de abordagem são feitas coletivamente, com participação também do coordenador na UnB e do professor supervisor na escola", explica o coordenador do Pibid da Matemática, Cleyton Gontijo.

 

O grupo coordenado por Cleyton possui oito bolsistas, dois voluntários e um professor supervisor, e atua com estudantes de ensino médio no campus Ceilândia do IFB. Os integrantes têm conversas frequentes, e a troca de experiências entre pibidianos e secundaristas pauta as definições de abordagens em sala de aula, hoje sob mediação de tecnologia virtual em função da pandemia de covid-19.

 

"Nossos principais desafios hoje são o contexto de ensino remoto, que exige novas formas de interação e abordagem dos conteúdos curriculares e, no nosso caso, maneiras de trabalhar as oficinas de Pensamento Crítico e Criativo em Matemática", relata o coordenador da área.

Discussões de bolsistas e coordenadores de subprojetos perpassam definição de abordagens em sala de forma coletiva e colaborativa. Imagem: Reprodução 

 

SUBPROJETO – Cristiane Portela, professora do Departamento de História (HIS), e Marcelo Cigales, docente do Departamento de Sociologia (SOL), coordenam o subprojeto interdisciplinar A pesquisa como estratégia metodológica para o ensino de História e Sociologia em Educação Básica. Nele, a metodologia participativa também se repete.

 

"Privilegiamos uma abordagem metodológica que parte da problematização e prima pelo trabalho colaborativo e coletivizado", afirma Cristiane Portela. O subprojeto conta com 16 bolsistas, quatro voluntários, dois coordenadores e dois supervisores da escola que abriga os trabalhos, o Centro de Ensino Médio Elefante Branco (Cemeb). 

 

Laísa Fernanda é uma das bolsistas do subprojeto interdisciplinar. Um dos motivos para ter concorrido na seleção foi o encantamento pela educação pública. Negra e estudante de licenciatura em Ciências Sociais, é a única mulher da família a estar em universidade pública atualmente e considera que seu senso de pertencimento à instituição perpassa seu envolvimento com o Pibid.

 

"Uma das tarefas mais bonitas da ciência é contribuir para a sociedade, e eu contribuo estando dentro desse espaço escolar. Minha família sempre acreditou muito na educação e acho que isso influenciou muito no meu vínculo com a educação", afirma.

 

Ela conta que outro grande incentivo veio do professor Marcelo Cigales, que foi pibidiano durante a graduação na Universidade Federal de Pelotas (UFPel) em um subprojeto com aspecto interdisciplinar. "Já atuava no Laboratório de Ensino de Sociologia Lélia Gonzalez e sentia a necessidade de manter o maior contato possível com a licenciatura", compartilha a estudante.

 

Tanto Marcelo Cigales como Cristiane Portela acreditam no ensino público e estão muito entusiasmados com a proposta do subprojeto que coordenam. "Precisamos pensar o que motiva os estudantes na escola, e esse trabalho só pode ter participação caso se sintam representados", lembra Cigales. Para ele, é importante ouvir demandas e tentar conciliá-las com o interesse dos professores para fazer uma boa interação entre as disciplinas.

 

"Esperamos que esse projeto contribua neste período desafiador de mudanças no ensino, fortaleça a formação docente de nossos estudantes e estimule a formação continuada dos professores supervisores", anseia Portela.

 

A dinâmica do subprojeto também tem sido muito enriquecedora para a estudante de História Beatriz Andrade. Para ela, a troca de experiências com professores da instituição, supervisores e colegas proporciona o sentimento de inserção em uma comunidade. "A construção profissional e pessoal passa a ser coletiva, e me sinto mais potente por saber que não estou só. Tem me permitido articular o que aprendi de teorias a partir do compartilhamento."

 

SOLENIDADE – O lançamento das ações do Pibid para o biênio 2020-2022 também foi mediado por tecnologia virtual. A cerimônia foi transmitida pelo canal UnB Mais Educação, mantido pela Coordenação de Integração das Licenciaturas (CIL/DEG) no YouTube no início de outubro e trouxe apresentações de pibidianos das licenciaturas em Música e Letras, além de manifestações artísticas e culturais.

 

Mesmo diante do cenário de incertezas trazido pela pandemia, o planejamento do programa segue articulado em ações e contempla, se possível, mais contato com os estudantes, quando houver a retomada das atividades presenciais nas escolas, além de seminários institucionais ao longo de 2021.

 

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