OPINIÃO

Eduardo Bessa Pereira da Silva é professor da Faculdade UnB de Planaltina. Redige o blog Ciência à Bessa na rede Scienceblogs Brasil e é membro do comitê educacional da Animal Behavior Society.

Eduardo Bessa¹

 

Faz menos de 80 anos que o mergulho recreacional surgiu, mas seus impactos já se fazem sentir sobre os peixes que são o principal foco de interesse dos mergulhadores, é o que demonstra um estudo recém-publicado por um time de pesquisadores que inclui três brasileiros.

 

A pesquisa revelou como os mergulhadores causam medo e promovem a fuga de peixes, especialmente espécies maiores. Mas a formação de cardumes, um fator frequentemente associado à reação de fuga, não se mostrou preponderante na decisão dos peixes de fugir ou não.

 

Para um animal silvestre, fugir de um predador pode ser a diferença entre a vida e a morte. No entanto, se as fugas forem constantes, o animal perderá tempo que poderia ser melhor aproveitado em outras atividades, como alimentar-se ou procurar um parceiro para se reproduzir. Assim, fugir demais de predadores, inclusive de mergulhadores que os peixes encarem como predadores, pode se tornar um problema.

 

Um indicador de quão arredio é um animal é a distância inicial de fuga, ou seja, a distância mínima que um predador deve chegar para que sua presa comece a correr. Essa medida já é bastante utilizada com predadores naturais, mas medir o mesmo tipo de resposta quando quem se aproxima é um mergulhador é mais recente e indica quanto medo nós causamos nos animais.

 

Os autores consideraram seis fatores como possíveis candidatos a influenciar na distância necessária para que o peixe fuja de um mergulhador: tamanho do peixe, se ele vive em cardume, expectativa de vida, hábitat que o peixe ocupa, seu nível na cadeia alimentar e se o encontro ocorria numa área de conservação de peixes ou fora dela. Desses, apenas o tamanho do peixe mostrou-se determinante. Peixes maiores demoraram muito para alcançar aquele tamanho e têm um grande potencial reprodutivo, talvez por isso fujam mais cedo dos predadores.

 

Este estudo analisou os resultados de outras pesquisas distribuídas em diferentes oceanos, continentes e regiões de todo o planeta.  Às vezes, estudos sobre um mesmo tema chegam a resultados conflitantes. É como aquela história de o ovo fazer bem ou mal à saúde, com o acúmulo de evidências a posição da ciência muda. A meta-análise avalia os resultados de outros estudos e nos permite tirar conclusões num panorama mais geral, portanto, com muito mais confiança.

 

Essas conclusões amplas apontaram também para medidas que podem ser importantes na conservação dos peixes. Limitar o número de mergulhadores, definir áreas marinhas protegidas da ação de caçadores submarinos e até livres de mergulhadores pode ser a única forma de proteger algumas espécies de peixes. A pesquisa também indicou lacunas importantes a serem pesquisadas.

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¹ Professor da Faculdade de Planaltina da Universidade de Brasília, um dos autores do artigo A meta‐analysis of fish behavioural reaction to underwater human presence. Mestre em Ciências Biológicas (Zoologia) pela USP e doutor em Biologia Animal (Ecologia e Comportamento) pelo IBILCE-UNESP.

 

 

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