OPINIÃO

Pio Penna Filho é professor do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília. Graduado em História, pela Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop), mestre em História e doutor em História das Relações Internacionais, ambos pela UnB. Atua nas áreas de História, Relações Internacionais e Segurança Internacional, nos temas: em América Latina e África. 

Pio Penna Filho

 

Nos últimos anos a China foi alçada a uma categoria de destaque nas relações comerciais do Brasil, uma vez que aumentamos muito as nossas exportações para aquele país e começamos a criar uma espécie de dependência com relação ao seu mercado, sobretudo com as exportações de commodities. Ocorre que os chineses começam a enfrentar algumas dificuldades financeiras e econômicas e isso, certamente, impactará as exportações brasileiras para o gigante asiático.

 

Para uma economia como a brasileira que conta com fundamentos nada sólidos e com o país atravessando uma crise política que parece não ter fim, a situação é realmente preocupante.

 

Desde 2011 a China é o principal mercado para as exportações brasileiras e a sua importância em termos de investimentos diretos no Brasil vem aumentando consideravelmente. Uma crise prolongada na China, ou mesmo a desaceleração do seu crescimento econômico, algo esperado por muitos economistas, com toda a certeza afetará negativamente a economia brasileira.

 

A perspectiva de diminuição das exportações brasileiras para um mercado importante como o chinês, e ainda mais num momento difícil como esse para o Brasil, tem o potencial de atrasar a tão desejada e necessária recuperação econômica do país. E há que se notar, ainda, que não é possível redirecionar as exportações para outros mercados num curto período de tempo.

 

Assim, infelizmente o Brasil não tem muito o que fazer no curto prazo. A se confirmar um cenário de agravamento da crise chinesa, levará tempo para os exportadores brasileiros se adaptarem a essa nova conjuntura que, diga-se de passagem, já não é das melhores para alguns produtos de exportação que vem passando por uma depreciação dos seus preços no mercado internacional, como o minério de ferro.

 

É preciso observar que a luz amarela já está acesa e ela nos faz recordar uma lição importante em termos de comércio internacional, que é aquela que enfatiza a importância da diversificação de parceiros e de uma pauta de exportações mais variada, que não dependa tanto de alguns poucos produtos, sobretudo de commodities.

 

O governo brasileiro deve, portanto, retomar essa saudável prática o quanto antes, e buscar diversificar ao máximo os seus parceiros comerciais. A últimas viagens presidenciais, para os Estados Unidos e, mais recentemente, para a Rússia, são pontos positivos para um governo que passa a sensação de estar à deriva no mar revolto.

 

Talvez as autoridades chinesas consigam mitigar os efeitos da crise e segurar a brusca queda nas bolsas, mas isso ainda é pura especulação. De toda forma, fica o alerta para as vulnerabilidades econômicas do país, que não são poucas. Embora a China seja um gigante econômico em movimento, precisamos ter consciência que mesmo economias fortes e inovadoras passam por momentos de crise.

 

Publicado originalmente no jornal Gazea Digital em 10/7/2015

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