PALESTRA

Com fila de espera formada mais uma hora antes do evento, escritor moçambicano falou para auditório lotado no encerramento da Semana Universitária

 

Mia Couto falou para auditório lotado, em evento de encerramento da 19ª Semuni. Foto: Raquel Aviani/Secom UnB

 

Mais de 600 pessoas, entre estudantes, docentes, técnicos e comunidade local, sentadas, em pé e acomodadas nos degraus, lotaram o auditório da ADUnB, ávidas para ouvir o autor moçambicano Mia Couto. O escritor encerrou as atividades da 19ª Semana Universitária da UnB (Semuni) na tarde da última sexta-feira (27). No mesmo dia, mais cedo, Couto recebeu da UnB o título de Doutor Honoris Causa.

 

Biólogo, dramaturgo, escritor e jornalista, Mia Couto nasceu na cidade de Beira, em Moçambique, em 1955. Autor de mais de 30 livros entre prosa e poesia, foi ganhador do Prêmio Camões de 2013, o mais prestigioso da língua portuguesa. Além disso, é membro correspondente da Academia Brasileira de Letras. Couto elaborou fala sobre a necessidade de valorizar um olhar mais atento ao outro. “Por que não olhamos as nossas diferenças, ao invés dessa indiferença com os outros?”, indagou.

 

Munido do conhecimento como biólogo, o autor disse que os humanos, diferente das outras espécies, conseguem banalizar os encontros entre si e ignorar uns aos outros. Para ele, uma razão para essa indiferença pode ser o excesso de foco autocentrado.

Para Couto, é necessário que nos aproximemos para superar momento de estímulo ao ódio. Foto: Raquel Aviani/Secom UnB

 

“Hoje existe lucrativo mercado de autoimagem, com as redes sociais que a tudo forma imagem e registro. O tempo todo a pessoa parece estar dizendo 'aqui estou eu'”, afirmou. Para ele, essa manifestação parece demonstrar algo de desesperado, numa tentativa de reafirmação de identidade.

 

Há também, na observação de Couto, algo que ele chama de cegueira seletiva, em que as pessoas, baseadas em estereótipos, evitam olhar ao outro. “Não olham porque parece que já conhecem as pessoas antes. É como se surgíssemos como representantes dessas categorias estereotipadas”, descreveu.

 

“Precisamos sim da companhia real e corpórea do outro e da troca dos olhares. É o olhar que nos abraça”, disse. Apesar disso, para o autor, na atualidade o que vemos são políticas que propõem estimular o afastamento e a diferença, com base na razão da força, do ódio e do silêncio.

 

O cenário social e político descrito pelo autor é marcado por forças que usam o ódio como ferramenta. “Nossos políticos são fabricantes de inimigos e de ameaças. Deixaram de produzir pensamentos. A tática é simples: aos sermos dominados pelo terror, nós ignoramos a razão da luz. Por isso atacam a razão, a ciência a liberdade e a democracia”, decretou. “Quero que nosso encontro hoje possa ser um contraponto.”

 

Diretor técnico de Extensão da UnB, Alexandre Pilati, professor no Instituto de Letras (IL), mediou o segundo momento do encontro, dedicado a perguntas da plateia. O evento também contou com a apresentação musical dos estudantes João Paulo Nery (violão) e Wallace Marçal (guitarra), do Departamento de Música (MUS).

 

BALANÇO SEMUNI – Com tema Encontros que Transformam, a Semuni ofereceu mais de 800 atividades nos quatro campi da UnB para quase 11 mil inscritos e recebeu pelo menos 8 mil estudantes da educação básica das redes pública e privada do DF. Capitaneada pelo Decanato de Extensão (DEX), a Semana ocorreu por meio de ação conjunta dos decanatos da instituição.

 

Olgamir Amancia, decana de Extensão (DEX), comentou que a Semuni é a oportunidade para estudantes terem acesso à produção de conhecimento de forma interdisciplinar. “Integração da UnB com a nossa sociedade é o desafio da Universidade desde o nascimento”, destacou.

Evento contou com a performance musical de Wallace Marçal (guitarra) e João Paulo Nery (violão). Foto: Raquel Aviani/Secom UnB

 

Segundo a decana, nesses dias de evento foi possível perceber de forma muito marcada “o valor da liberdade, extremamente caro na UnB” e razão de escolha dos palestrantes.

 

Em fala breve, a reitora Márcia Abrahão destacou o Congresso de Iniciação Científica, uma das atividades da 19ª Semuni, ocorrida por parceria entre UnB e outras seis instituições de ensino superior do DF. Para ela, o evento é mais uma oportunidade de a Universidade estar mais perto da comunidade. “Precisamos que a sociedade abrace a UnB e as universidades federais para superarmos esse momento difícil pelo qual o país passa”, pontuou.

 

>> Confira cobertura do 25º Congresso de Iniciação Científica da UnB e 16º do Distrito Federal

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