GESTÃO

Professora da Faculdade de Ciências da Saúde da UnB terá como primeiro desafio o combate à fome no Brasil

Elisabetta é doutora em Saúde Pública e possui ampla experiência em políticas públicas de combate à fome e a insegurança alimentar. Foto: Raquel Aviani/Secom UnB

 

A especialista em segurança alimentar e nutricional e professora da Faculdade de Ciências da Saúde (FS) da UnB Elisabetta Recine assumiu a presidência do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea), reinstalado no último dia 28 de fevereiro pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O órgão consultivo atua no assessoramento do governo federal, sendo responsável pela formulação, avaliação e monitoramento de políticas públicas contra a fome.

 

Membra do Observatório de Políticas de Segurança Alimentar e Nutrição (Opsan), a docente atuou como conselheira do Consea de 2017 até a extinção, em 2019, pelo governo Bolsonaro.

 

Agora, Elisabetta assume o desafio de trabalhar contra a fome e a insegurança alimentar, erradicados do país em 2014 e alavancados nos últimos anos. Novamente no Mapa da Fome da Organização das Nações Unidas (ONU), o Brasil, hoje, possui mais da metade da população convivendo com a insegurança alimentar em algum grau: leve, moderado ou grave.

 

O dado inclui mais de 33 milhões de pessoas em situação de fome, como aponta o segundo Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil, elaborado pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede PENSSAN), em 2022.

Presidenta do Consea (ao centro), Elisabetta Recine, junto ao presidente Lula, à primeira-dama e a ministros durante cerimônia de reinstalação do Conselho. Foto: Ricardo Stuckert/Presidência da República

  

Graduada em Nutrição e doutora em Saúde Pública, Elisabetta possui ampla experiência no tema, inclusive mundialmente. Ela é a única brasileira a integrar o Painel de Especialistas de Alto Nível do Comitê de Segurança Alimentar Mundial da Organização das Nações Unidas (CSA/ONU), entidade que ajuda a embasar novas políticas para erradicação da fome e da insegurança alimentar em âmbito internacional.

 

Além disso, a professora é uma das especialistas entrevistadas na próxima edição da revista Darcy, que trará dossiê sobre a fome no Brasil e será lançada em abril. A publicação mostra a urgência de enfrentar o drama social do retorno do país ao Mapa da Fome e apresenta pesquisas da UnB sobre caminhos sustentáveis e promissores para garantir alimento na mesa de todos os brasileiros.

 

Confira abaixo a conversa que a Secretaria de Comunicação (Secom) da UnB teve com a docente.

 

Qual é o sentimento e a importância de assumir a presidência do Consea, principalmente após o Brasil ter voltado para o Mapa da Fome?

Bom, é uma mistura de sentimentos, mas acho que eu posso dizer que é uma felicidade e um alívio grande o fato do Consea voltar a funcionar, em primeiro lugar. Quanto a assumir a presidência, é um grande desafio pessoal e coletivo. Principalmente, porque há um conjunto de outros desafios para a gente poder rearticular, reorganizar, ampliar e criar novos programas e políticas públicas.

 

A nossa conquista de tirar o Brasil do Mapa da Fome, melhorar os principais indicadores socioeconômicos e também os relacionados à alimentação, foram resultados muito importantes. Infelizmente, foi ainda mais incrível a velocidade com que a gente perdeu todos esses resultados. Isso coloca para todo mundo que defende essa agenda questões como quais são os desafios políticos a serem enfrentados, para que os resultados que devem vir sejam perenes e sustentáveis.

 

Queremos encontrar caminhos para que os programas e as políticas tenham uma estruturação forte o suficiente para terem resiliência em momentos inóspitos, e também ações que mudem as raízes estruturais da fome e da desigualdade. Mas também vamos trabalhar ações que articulem medidas emergenciais para aliviar a situação dramática de fome que 33 milhões de pessoas estão vivendo.

 

Quais são as principais prioridades e quais os seus planos à frente do Conselho?

As demandas do conselho são construídas coletivamente pelo plenário, formado por membros da sociedade civil (dois terços) e de diferentes áreas do governo (um terço). Na primeira reunião, nós fizemos um exercício de reflexão, e o enfrentamento à fome é a prioridade absoluta. Ainda temos que recuperar a capacidade produtiva da agricultura familiar, com financiamento, assistência técnica e acesso a mercados.

 

Outro aspecto importante é a recuperação de programas de alimentação escolar e o reforço da rede de equipamentos de segurança alimentar nutricional, como restaurantes populares, cozinhas comunitária e bancos de alimentos.

 

Essas medidas estruturantes estão relacionadas à recuperação do salário mínimo, do Programa Bolsa Família e das articulações para transferência de renda, como a questão do acesso à educação e à saúde, que contribui para que as famílias consigam reorganizar a vida.

 

Surgiram outros temas também que são muito importantes com relação à crise climática e à alimentação, como a mudança para que a produção de alimentos não seja uma das grandes contribuidoras para emissão de gases de efeito estufa, o reforço na produção de alimentos agroecológicos, a ampliação dos serviços da atenção nutricional do Sistema Único de Saúde (SUS).

 

Precisamos ainda ter o olhar para as especificidades dentro de cada programa, para que os processos de implementação consigam chegar aos grupos em situação de maior vulnerabilidade e ter resultados na redução da pobreza e da fome.

 

Como a senhora acredita que sua larga experiência e relação com a Universidade de Brasília a prepararam para esse momento de retomada?

A minha história com a UnB, desde o primeiro momento, relaciona a atividade acadêmica articulada com a questão de políticas públicas. Eu vim para Brasília trabalhar em um Núcleo de Estudos em Saúde Pública (Nesp), que foi embrião do Departamento de Saúde Coletiva, da Faculdade de Ciências da Saúde.

 

Naquela época, existia um grupo de pesquisa específico que se chamava Programa de Estudos da Fome, financiado pelo Instituto Nacional de Alimentação e Nutrição, que era ligado ao Ministério da Saúde e hoje não existe mais. O objetivo do grupo era fazer a avaliação de políticas públicas e programas de alimentação e nutrição.

 

Atuei nesse programa a convite da Anna Peliano, referência em políticas públicas de alimentação e nutrição, combate à fome e à pobreza, e uma grande inspiração. Esse trabalho me possibilitou fazer articulação entre a atividade de pesquisa, enquanto acompanhava os desafios do cotidiano do planejamento de políticas públicas.

 

Após ser incorporada ao quadro permanente da Universidade, trouxe essa minha origem e também meu interesse em política pública para estabelecer parcerias com os ministérios da Saúde e do Desenvolvimento Social. Assim, ao mesmo tempo em que contribuo para a avaliação e elaboração de políticas públicas, trago para a Universidade esse universo, fazendo uma mescla de prática de vida e reflexão. 

 

Leia também:

>> Projeto de fisioterapia da FCE atende crianças e adolescentes com dificuldades motoras

>> Professora da matemática recebe prêmio internacional

>> Série de atividades comemora mês das mulheres

>> UnB pede apoio de parlamentar para liberação de recursos financeiros de emendas

>> UnB abre licitação para contratação de operadora de plano de saúde

>> Trabalhos para concluir obra parada há uma década começam

>> UnB e Polícia Federal avançam para firmar cooperação técnica inédita

>> UnB consegue liberação de medicamento para pesquisa

>> Dezessete instituições receberão selo ODS Educação

>> Matrícula em disciplinas da graduação começa nesta quarta-feira (1º)

 

ATENÇÃO – As informações, as fotos e os textos podem ser usados e reproduzidos, integral ou parcialmente, desde que a fonte seja devidamente citada e que não haja alteração de sentido em seus conteúdos. Crédito para textos: nome do repórter/Secom UnB ou Secom UnB. Crédito para fotos: nome do fotógrafo/Secom UnB.