Professora da Faculdade de Ciências da Saúde (FS) da Universidade de Brasília e membra do Observatório de Políticas de Segurança Alimentar e Nutrição (Opsan), Elisabetta Recine foi selecionada, pela segunda vez, para integrar o Painel de Especialistas de Alto Nível do Comitê de Segurança Alimentar Mundial da Organização das Nações Unidas (CSA/ONU). A docente é a única brasileira entre 15 cientistas na entidade, que ajuda a embasar novas políticas para erradicação da fome e da insegurança alimentar.
O objetivo principal do Comitê é realizar discussões acerca dos temas globais relacionados à alimentação. A plenária do Conselho do CSA define prioridades temáticas, levando em consideração o que acontece no mundo, e solicita ao Painel que se posicione em relação aos assuntos.
Recine explica que o Painel é independente, não vinculado a governos ou organizações. Sendo assim, seu papel como integrante é o de acadêmica especialista, não de representante do Brasil. Mesmo assim, a docente considera que suas experiências no país impactam significativamente o exercício de suas funções.
Participam do CSA, além dos países membros, representantes de outras agências da ONU – Food and Agriculture Organization (FAO), Programa Nacional de Alimentos (PNA) e Fundação Internacional de Desenvolvimento Agrícola (Fida) –, da sociedade civil e do setor privado.
TRAJETÓRIA – Graduada em Nutrição e doutora em Saúde Pública, Elisabetta Recine faz parte do núcleo de professores do Opsan desde sua criação, em 2003. “Na Universidade, por estarmos na capital do país, a gente tem mais oportunidades de estabelecer uma interlocução mais sistemática com o governo federal”, conta a cientista. Segundo ela, a possibilidade de participar de políticas públicas contribui muito para a formação do docente.
A pesquisadora foi conselheira voluntária do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea) de 2017 até a extinção do programa no governo Bolsonaro, em 2019. Em 2014, Recine compareceu à 2ª Conferência Internacional de Nutrição, organizada pela Food and Agriculture Organization (FAO) e pela Organização Mundial da Saúde (OMS), como membro do Consea e, a partir daí, começou a acompanhar o trabalho do CSA.
"Tudo isso fez com que, na minha atividade, fosse olhando para esse campo que articula vários conhecimentos. Não só para a nutrição stricto sensu, mas para a alimentação como um conceito multidimensional e complexo”, afirma.
No ano seguinte, a professora participou de um grupo temático que produziu um relatório para o Comitê sobre Sistemas Alimentares e Nutrição e, em 2017, se inscreveu para participar do Painel de Especialistas pela primeira vez. Ela foi selecionada, exercendo seu primeiro mandato até 2019. Agora, a docente fica no cargo até 2023.
CENÁRIO BRASILEIRO – Recentemente, o Brasil voltou ao mapa da fome, aponta a Organização das Nações Unidas. “Mesmo antes de termos os dados, isso já estava anunciado, porque a segurança alimentar está absolutamente relacionada com as condições de vida. A gente sabe que quanto menor a renda de uma família, maior o comprometimento do orçamento destinado à alimentação, porque é uma necessidade básica”, explica Recine.
Desde 2016 os níveis de pobreza e extrema pobreza já vinham aumentando no país. Programas públicos importantes relacionados à segurança alimentar – para aquisição de alimentos, os restaurantes populares e de apoio à agricultura familiar – vinham sofrendo cortes significativos. “Em 2018, havíamos regressado aos níveis de 2004”, frisa a cientista.
Dois anos depois, em 2020, mais da metade da população brasileira estava em situação de insegurança alimentar. “Então, quando a pandemia chegou ao Brasil, a gente já tinha uma deterioração das condições de vida. As pessoas já estavam lidando com custos enormes, tentando garantir o mínimo para a sobrevivência”, diz.
A pesquisadora aponta que houve demora para adaptar, no cenário pandêmico, as políticas públicas, como o Programa de Alimentação Escolar, que atende 42 milhões de estudantes, e o Auxílio Emergencial, que inicialmente foi lançado com um valor mais baixo do que o adequado.
Diante deste panorama, Recine defende que “as universidades têm um papel fundamental de ampliar esses temas na formação dos profissionais”. “Há uma necessidade de que as diferentes dimensões da alimentação estejam presentes de uma maneira muito mais articulada e contemporânea no processo de formação dos estudantes”, acredita.
Para ela, a questão da alimentação nas comunidades urbanas e rurais é um excelente campo de pesquisa a ser ampliado, por envolver assunto tão importante e cotidiano. “Ainda há muito a se avançar”, avalia.
“Para atuar de uma maneira mais consequente nesse tema, é necessário que ele seja tratado de forma interdisciplinar e multiprofissional, porque aí é possível compreender as diferentes dimensões e gerar informações mais eficientes, além de formar profissionais mais qualificados”, pontua Elisabetta Recine.
*estagiária de Jornalismo na Secom/UnB.
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