Conhecido por ser o mais revolto dos mares, com ondas que podem passar dos 12 metros, o canal de Drake é a rota de navegação mais direta entre a Antártica e a América do Sul. Foi essa a travessia realizada pelos pesquisadores brasileiros que regressaram da 36ª Operação Antártica (Operantar) no último sábado (23). A Universidade de Brasília integrou a comitiva de estudiosos polares, junto com o docente Paulo Câmara, do Instituto de Ciências Biológicas (IB).
A missão e o objetivo dos dois enviados especiais da Secretaria de Comunicação (Secom/UnB) à Antártica – Vanessa Vieira e Marcelo Jatobá – era fazer a cobertura jornalística da Operantar. Acompanhando os pesquisadores das seis instituições de ensino do país, a equipe permaneceu um mês no continente polar e visitou cinco ilhas (Rei George, Deception, Livingstone, Pinguim e Nelson), que fazem parte do arquipélago Shetland do Sul.
“Cumprimos com sucesso nosso objetivo desta fase da expedição. Fizemos coletas em diversos pontos e realizamos, em parceria com o Mycoantar, um experimento para acompanhar os halos que estão ocorrendo em vegetações antárticas”, garantiu Câmara, que coordena a pesquisa sobre briófitas e os chamados liquens bipolares – que supostamente ocorrem apenas em regiões do Ártico e Antártico.
TRAVESSIA MARÍTIMA – O retorno dos cientistas polares ao país foi iniciado na madrugada do último dia 19. Embarcados no navio polar Almirante Maximiano, da Marinha do Brasil, o grupo partiu do estreito de Nelson, na Antártica, rumo ao porto Muelle Prat em Punta Arenas, no Chile. Quase quatro dias de navegação, sendo que metade deste tempo foi somente para atravessar o canal de Drake. A passagem situa-se entre a extremidade sul da América do Sul e a Antártica e é conhecida por condições meteorológicas difíceis, que justificam o temor que desperta nos marinheiros.
“Sempre fazemos uma avaliação antes, para decidir a melhor data e horário para iniciar nossa travessia. O mar mais grosso que enfrentamos foi com ondas de até quatro metros e ventos de até 35 nós”, detalhou o chefe de operações do navio, capitão de fragata Phellipe Magalhães. Ele esclareceu que, por segurança, evita-se atravessar o canal quando as ondas ultrapassam os cinco metros.
Antes de entrar no estreito, toda a tripulação foi advertida sobre os cuidados a serem tomados: itens soltos em camarotes, laboratórios e demais espaços da embarcação devem ser apeados ou guardados em armários que possuam tranca. A regra aplica-se também aos utensílios de cozinha e, por isso, durante a travessia são utilizados copos, pratos e outros itens descartáveis. Apesar dos cuidados, é comum ouvir o barulho de itens que se desprendem ao longo do trajeto e vêm ao chão.
Outra recomendação importante refere-se ao deslocamento pelo navio, que deve ser feito sempre com uma das mãos livre para segurar-se nos corrimãos. Médica e enfermeiro que guarnecem a embarcação são responsáveis pelas orientações de saúde, informando os medicamentos que ajudam a evitar ou amenizar o mal-estar causado pelo balanço do mar.
Após vencer o turbulento mar de Drake, o trajeto ganhou tranquilidade e beleza ao longo dos canais austrais. Esta região está envolta por um conjunto de montanhas nevadas que, além de proteger as embarcações contra fortes ventanias, conformam uma paisagem única. No percurso, pode-se avistar importantes pontos turísticos, como Port Williams (Chile) e Ushuaia (Argentina), que disputam o título de “cidade mais austral do globo”.
Por fim, a chegada ao Muelle Prat em Punta Arenas, no Chile, aconteceu na tarde da sexta-feira (22). Os participantes da Operantar regressaram ao país na manhã seguinte, a bordo da aeronave C-130 da Força Aérea Brasileira (FAB). Foram cerca de seis horas de voo até Pelotas, no Rio Grande do Sul – local onde é feita a devolução das roupas antárticas. A parada final da aeronave militar foi na Base Aérea do Galeão, no Rio de Janeiro. A comitiva da UnB retornou a Brasília após 39 dias em missão.
SAIBA MAIS – A passagem de Drake, estreito de Drake ou mar de Drake liga a América do Sul à Antártica. Com apenas 650 quilômetros de largura, é a distância mais curta entre os continentes, comunicando os oceanos Atlântico e Pacífico. As correntes que contornam a Antártica e a inexistência de obstáculos tornam o fluxo violento, correspondendo a 600 vezes o do rio Amazonas. O nome foi dado em homenagem ao explorador Francis Drake.
EM BREVE – Muitas curiosidades vêm à mente quando o assunto é Antártica. O que se come durante uma missão como esta? Quais as vestimentas utilizadas para enfrentar o frio? Qual é a temperatura no continente? Que meios de locomoção são utilizados para chegar na Antártica? Há pessoas morando em meio a tanto gelo?
Para sanar essas e outras dúvidas, a Secretaria de Comunicação da UnB produzirá reportagens especiais sobre a vida e a ciência neste instigante continente. Entre as curiosidades registradas pela equipe estão os bastidores da Estação Antártica Comandante Ferraz – a base brasileira situada na ilha Rei George, na Antártica marítima.
A cobertura pretende mostrar também a diversidade e a relevância da pesquisa científica realizada na Antártica. Cabe ressaltar que são muitos os países que investem pesado na ciência antártica. Qual o interesse dessas nações no fim do mundo? Para além das respostas mais perceptíveis, como o papel da Antártica nas mudanças climáticas globais, há outros interesses estratégicos neste continente para o futuro da humanidade.
Para saber mais sobre estes temas, acompanhe as próximas publicações pelas redes sociais e pelo site da UnB. Acesse o álbum de fotos da expedição à Antártica no Flickr da UnB.
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