Marcelo Bizerril
Nesta semana serão inaugurados, oficialmente, o Restaurante Universitário (RU), o Módulo de Apoio e Serviços Comunitários (MASC) e a Unidade de Pesquisa e Pós-graduação da Faculdade UnB Planaltina (FUP), o campus da UnB em Planaltina. Estruturas há muito projetadas e ansiosamente aguardadas pela comunidade "fupiana". Não restam dúvidas de que elas fizeram falta nesses 9 anos de vida do campus, mas o que importa é que chegaram e, aqui, cumprimento a reitoria da UnB pela sua inauguração.
Interessante notar que, apesar do inegável conforto que os novos prédios trarão ao campus, a FUP não esperou sua chegada para avançar no cumprimento da sua missão. O prédio de pesquisa chega à FUP quando o campus já conta com uma pós-graduação estruturada em quatro cursos de Mestrado e um Doutorado, sem falar dos cursos de Especialização e da presença significativa de professores da FUP, como docentes ou coordenadores, em programas de pós-graduação nos demais campi. Os grupos de pesquisa do campus e a produção individual de seus pesquisadores têm respeitável repercussão nas esferas regional, nacional e também internacional, como atestam a frequência de pesquisadores estrangeiros em visita à FUP e a presença de nossos professores no exterior.
Com o RU, em funcionamento desde agosto, não foi diferente. A sua ausência nesses anos não foi obstáculo para impedir o funcionamento de cinco cursos de graduação, nos turnos diurno, noturno e integral, como é o caso da Licenciatura em Educação do Campo, ofertada em regime de alternância, e que fornece alojamento e alimentação aos estudantes nos períodos de Tempo Escola. Criatividade, compromisso e muito trabalho possibilitaram a oferta regular desses cursos que já formaram mais de 500 egressos nos últimos anos. Para lidar com esses desafios, foi construído no campus um confortável alojamento com capacidade para 70 pessoas, que hoje também apoia cursos de pós-graduação em regime de alternância.
Ainda que os prédios sejam essenciais, não podem ser vistos como o principal elemento de uma universidade. Assim, nesses anos, a FUP construiu sua forma de organização e sua identidade. O campus busca o diálogo com a sociedade por meio de seu Conselho Comunitário e dos diversos programas e projetos de extensão, que são uma marca da FUP. Também tem sido buscada a construção de uma identidade que para além do óbvio tripé ensino-pesquisa-extensão, caracterize a necessária reflexão que as universidades públicas devem fazer continuamente sobre sua própria existência e missão, a fim de identificar novas responsabilidades e formas de responder às demandas do mundo contemporâneo. Esse pensamento é expresso na seguinte provocação que Darcy Ribeiro nos apresenta no livro Universidade pra quê?: "Uma universidade que não tem um plano de si mesma, carente de sua própria ideia utópica de como quer crescer, sem a liberdade e a coragem de se discutir amplamente, sem um ideal mais alto, uma destinação que busque com clareza, só por isso está debilitada e se torna incapaz de viver seu destino".
Uma resposta dada pelo campus de Planaltina foi a elaboração, de modo participativo, do seu Projeto Político Pedagógico Institucional, com o propósito de inspirar o cotidiano do campus e orientar sua expansão. Mas o campus não pode se conformar com o documento feito. Necessita vivenciá-lo para fazer valer o que está escrito.
Com os olhos voltados ao futuro, fica a pergunta: agora que tem um RU e um espaço específico para a pesquisa, a FUP tem fome de quê? Para onde pretende seguir?
É sabido que é preciso alimentar o corpo, mas também a mente e o espírito. Os novos prédios ajudarão a matar a fome do corpo e da mente. Já o espírito ficará por conta do convívio cotidiano, das relações interpessoais e da universidade com a sociedade, da reflexão sobre a sua missão a ser posta em prática. Aqui cabem os cumprimentos aos diretores da FUP, professores Luis Antônio Pasquetti e Elizabeth Costa, por representarem esse comprometimento sincero com a universidade pública. Que o espírito a seguir iluminando a trajetória da FUP seja o de colocar a ciência e a educação a serviço da transformação da sociedade para melhor, com mais justiça e fraternidade, sempre respeitando as diferenças e fazendo da complexidade e divergência de ideias uma possibilidade de exercício da democracia.