OPINIÃO

Márcia Abrahão Moura é reitora da Universidade de Brasília e professora do Instituto de Geociências. Doutora em Geologia pela UnB.

Márcia Abrahão1

 

No início dos anos 1960, Darcy Ribeiro andava às voltas com um projeto audacioso: a criação de uma universidade na recém-inaugurada capital da república. Com mandato estabelecido por decreto pelo então presidente Juscelino Kubitschek, ele conquistou muitos adeptos à iniciativa, mas também diversos opositores. Alguns assessores de JK não viam sentido em trazer para perto do centro do poder político o potencial de agitação de uma comunidade universitária.

 

Darcy não desistiu, contudo. Elaborou e executou uma firme estratégia de convencimento de políticos, cientistas e outros formadores de opinião da época. A potência de sua articulação, bem como o temperamento expansivo, fizeram com que o projeto finalmente saísse do papel. A criação da UnB teve Anísio Teixeira como cofundador. Anísio era, à época, presidente do Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos (Inep) e um dos grandes responsáveis por pensar o ensino público no país.

 

Das mentes desses dois intelectuais – tão diferentes entre si, quanto geniais e complementares – nasceu a Universidade de Brasília, que completa, no próximo dia 21, 57 anos. A UnB foi um sopro de inovação, ousadia e apreço pelo conhecimento. Também reinventou o próprio ensino superior.

 

O modelo pedagógico original, elaborado por Anísio, previa uma estrutura dividida em institutos e faculdades, algo inédito até então. Também havia a novidade da grade aberta, que possibilita aos estudantes cursar disciplinas de outros cursos, dando um caráter mais abrangente e dinâmico à formação, atenta aos desafios da contemporaneidade. A ideia era, nas palavras de Darcy, criar uma "universidade capaz de dominar todo o saber humano e de colocá-lo a serviço do desenvolvimento nacional."

 

Recém-nascida, a Universidade enfrentou duros revezes. Perdeu professores e servidores técnicos, sofreu invasões e intervenções, mas isso não afetou a vocação da instituição – pelo contrário. O espírito de coragem e ousadia se enraizou, bem como a qualidade acadêmica. A UnB é hoje a 8ª melhor universidade brasileira, segundo o Times Higher Education (THE), e uma das melhores da América Latina. Também tem nota 5, a máxima, na avaliação oficial do Ministério da Educação (MEC).   

 

É sempre bom lembrar a história, um exercício que nos coloca em perspectiva e fortalece o orgulho de nossas origens. Recordar o caminho percorrido é fundamental para saber onde queremos chegar e para orientar o ritmo da caminhada, especialmente se há intempéries. A UnB nasceu e cresceu sob o signo da coragem e da inovação, da defesa da ciência e da educação pública brasileira, e é com esse espírito que chega aos 57 anos.

 

Na UnB, assim como em outras instituições federais de ensino superior, são realizadas diversas atividades cotidianamente, em ensino, pesquisa e extensão. Além da formação de milhares de jovens, somos responsáveis pela condução de projetos que incorporam saberes das comunidades locais e modificam a realidade social. Os campi da Universidade são espaços de criação permanente, no campo das artes e da cultura. Nossos grupos de pesquisa realizam centenas de investigações, sobre muitos assuntos, e são parte considerável do necessário avanço científico do país.

 

Somos uma instituição educadora, de referência, palco da discussão de diferentes ideias e onde se exercita o pensamento crítico. Honramos, no dia de hoje e todos os dias, a memória e os ideais de nossos fundadores e desejamos que o sonho deles jamais esmoreça dentro de cada um de nós. Parabéns, UnB! E parabéns a todas(os) que fazem parte de nossa história.

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¹Reitora da Universidade de Brasília (UnB)

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