OPINIÃO

José Alberto Vivas Veloso é professor aposentado da Universidade de Brasília e criador do Observatório Sismológico (SIS), da mesma universidade. Graduado em Geologia, mestre em Geofísica pela Universidad Nacional Autónoma de México, estudou Sismologia no International Institute of Seismology and Earthquake Engineering, no Japão. Trabalhou na Organização das Nações Unidas, em Viena (Áustria), na montagem de uma rede mundial de detecção de explosões nucleares. É autor do livro O terremoto que mexeu com o Brasil.

Alberto Veloso

 

 

Quase todos os terremotos são produtos do deslocamento das placas tectônicas e o que ocorreu no Nepal não fugiu a regra. A sismicidade em torno dos Himalaias está inserida em um contexto maior, envolvendo as placas Africana e Arábica, que, junto com a Indiana, também colidem com a Eurasiana para formar a faixa sísmica Alpino-Himalaia, a segunda mais ativa do mundo. Estendendo-se do sul da Europa/norte da África, até as Filipinas, ela passa por países com históricos de terremotos fatais como o de Lisboa, em 1755, com magnitude (M) estimada 8.5-9.0, que matou cerca de 40 mil pessoas, ou o recente, em Sichuan, China, em 2008, com M7.9, que ceifou 70 mil vidas.

 

O sismo de 25 de abril, com M7.8 e a menos de 80 km da capital Kathmandu, teve efeitos devastadores, que resultaram não apenas da elevada magnitude, como da profundidade rasa, apenas 10 km, e com epicentro muito próximo de duas cidades populosas e com construções frágeis.

 

Quase instantaneamente, o sismo liberou uma enorme quantidade de energia, na forma de ondas sísmicas, que mexeram violentamente com o chão à medida que se deslocavam em alta velocidade. É como se a natureza, num repente, descarregasse a energia equivalente a 500 bombas de Hiroshima, ou a totalidade da produção de dois meses da hidrelétrica de Itaipu. Como resistir a tudo isto? Somente edificações construídas para suportar altas acelerações do terreno tendem a ficar de pé. De outra forma, caem como se de papel fossem.

 

Para piorar, o terremoto chacoalhou as encostas íngremes das montanhas ocasionando escorregamentos de terra e avalanches de neve, matando pessoas, destruindo e bloqueando acessos para levar socorro aos locais isolados. Se hoje a situação é difícil, amanhã também será, pois a recuperação de um país pouco desenvolvido é mais custosa, lenta e totalmente dependente de recursos externos. Por tratar-se de um processo longo, não é incomum que promessas feitas no calor do desastre não sejam cumpridas e caiam no esquecimento.

 

Recentemente, sismólogos franceses chamaram a atenção das autoridades nepalesas sobre a possibilidade de um forte tremor atingir o país, pois suas pesquisas mostravam a repetição de sismos fortes na região, a cada 80 anos, aproximadamente. Não se tratou de previsão sísmica, mas de um alerta importante que não costuma surtir efeitos em países com parcos recursos econômicos e com problemas sociais de toda ordem. Situação parecida aconteceu no Haiti, pouco antes do terremoto de M7 quase aplainar a capital do país e provocar o espantoso número de mais de 200 mil mortos, em janeiro de 2010.

 

Como os terremotos não podem ser previstos, resta preparar as cidades e os seus cidadãos para enfrentá-los. Isso exige conhecimentos diferenciados e maciços investimentos para planificar as cidades, reforçar edifícios antigos, construir os novos com códigos antissísmicos e treinar as pessoas para situações de emergência. Istambul, São Francisco, Tóquio estão na lista de prováveis candidatas a sofrerem terremotos fortes, em um tempo não tão distante. Espera-se que estejam preparadas para evitar numerosas vítimas, pois é para isto que se planeja e se exercita a cultura da prevenção a desastres de qualquer natureza.

 

É totalmente certo que as placas tectônicas seguirão em movimento e os terremotos acontecendo. Mas não se sabe quando, nem onde e de que tamanho será o próximo sismo. Não existindo preparação adequada, outros episódios como o do Nepal continuarão chocando o mundo.


Alberto Veloso, geólogo e ex-chefe do Observatório Sismológico da UnB é autor do livro: O terremoto que mexeu com o Brasil.

 

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