OPINIÃO

Lidia Natalia Dobrianskyj Weber é psicóloga, pós-doutora em Processos de Desenvolvimento Humano e Saúde pela Universidadde de Brasilia. Especialista em Antropologia Filosófica e em Origens Científicas e Filosóficas da Psicologia, mestre e doutora em Psicologia Experimental pela Universidade de São Paulo. Atua em Psicologia nos temas: estilos e práticas educativas parentais, abandono e adoção e relacionamento amoroso. Autora de 12 livros, entre eles Pais e filhos por adoção no Brasil, Família e desenvolvimento humano e Eduque com carinho.

Lidia Dobrianskyj Weber

 

A maternidade sempre foi glorificada e reverenciada. Antigamente, mulheres só tinham o papel de mãe e esposa, mas o papel de mãe sempre foi o mais coberto de idealizações. Por isso, esta tarefa também sempre foi envolta em culpa. A mãe precisa dar conta de que os filhos sejam perfeitos, felizes, confiantes, arranjem ótimos empregos, tenham relacionamentos completos... É muita coisa. É preciso preparar-se e refletir muito sobre si mesmo ao se tornar mãe, mas é crucial entender que a perfeição é inatingível.

 

Embora uma mãe não tenha superpoderes, o poder de uma mãe é impressionante. Antes cantado em verso e prosa e hoje também mostrado pela ciência. Esse poderio começa ainda na gravidez, quando ocorre uma inundação de oxitocina, o denominado “hormônio do amor”. No nascimento de um filho a mãe fica praticamente submersa na oxitocina que auxilia a amamentação, traz uma sensação de bem-estar (apesar das dores do parto) e ajuda a formação do maravilhoso processo de vinculação afetiva. Mas, veja só, os papais também começam a produzir esse hormônio em maior quantidade quando veem o filho pela primeira vez, e há estudos que mostram uma diminuição da testorerona e produção de estrogênio durante alguns meses após o nascimento dos filhos! Ou seja, os papais tentam ficar um pouco mais femininos e até afinam a voz ao conversar com seus bebês (e os bebês preferem, de fato, vozes femininas...).

 

Embora a biologia seja forte, infelizmente há, por um lado, mães (e pais) que abandonam seus filhos e, por outro lado, várias pesquisas revelam que pais e mães por adoção formam vínculos tão verdadeiros e fortes quanto os de pais genéticos. O cérebros de mães e pais por adoção se reprogramam e o vínculo de apego se fortalece com o passar do tempo. Não somos apenas biologia, somos seres de fortes relações. Ternura é fundamental na existência humana.

 

Sempre se falou do amor de mãe e, recentemente, estudos das neurociências comprovaram que o amor de mãe tem influência sobre a estrutura cerebral, proporcionando, de fato, uma mudança anatômica. Crianças que crescem em ambientes mais afetivos tem o hipocampo dez vezes maior, área responsável pela memória e aprendizagem. Em contrapartida, a privação desse “amor materno” (pode-se entender amor do “cuidador principal”) para bebês pode levar a respostas de estresse neuroendócrino e diminuição das respostas de enfrentamento de adversidades. Além da mudança cerebral, diversos estudos correlacionaram fatores positivos para crianças que foram criadas em ambientes afetivos, tais como menor risco de doenças do coração, menor risco de obesidade e até relações românticas mais estáveis.

 

Amor de mãe é um seguro médico! Agora entende-se porque os países desenvolvidos praticamente aboliram o acolhimento institucional para crianças, mas aqui no Brasil ainda temos um longo caminho…

 

Essas mudanças positivas acontecem para a mãe também. Mães que tiveram mães amorosas têm maior probabilidade de serem mais responsivas com seus filhos. Amor de mãe é um fator de proteção que ultrapassa gerações.

 

Um estudo americano revela que, nos meses após o parto, quando as relações entre mãe e bebê se desenvolvem e aprofundam, ocorre o aumento de massa cinzenta em várias áreas do cérebro da mãe, particularmente em regiões associadas com o prazer, raciocínio, julgamento e planejamento. Ainda ocorre maior volume do hipotálamo e amígdala, os quais estão correlacionados com uma percepção mais positiva do bebê e, portanto, maior afetividade e cuidado. Os autores enfatizam que o “amor materno” não é apenas uma resposta instintiva, mas uma consequência de um processo de “construção” de uma substrato neural responsivo. A construção é sempre em duas vias, por isso vários pesquisadores afirmam que mesmo que ocorra o baby blues ou depressão pós-parto, é preciso amparar essa mãe para que ela, pelo menos, mimetize a alegria e os cuidados e, assim, engane o cérebro, que vai modificar-se de maneira positiva.

 

Assim, trazer um filho ao mundo – ou adotá-lo – e experimentar o amor de mãe, é uma experiência sublime e inigualável.

 

Há muito que comemorar e enaltecer no Dia das Mães, de todas as mães que amam, das mães genéticas, mães por adoção, tias-mães, avós-mães, pais que também são mães, e todos aqueles que amam e cuidam de alguém.

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