FORMAS DE EXISTÊNCIA DIVERSAS

Professora emérita e coautora da proposta de cotas raciais da UnB, Rita Segato falou de feminismo, direitos humanos e justiça social em um encontro marcado pela emoção

A aula pública da professora emérita da UnB Rita Segato lotou o anfiteatro 9 do ICC. Foto: Luis Gustavo Prado/Secom UnB

 

Com o Anfiteatro 9 do Instituto Central de Ciências (ICC) lotado, a aula pública da professora emérita do Departamento de Saúde Coletiva da Faculdade de Ciências da Saúde (FS/UnB) Rita Segato emocionou quem foi conferir. O Encontro com Rita Segato – por onde segue a história? ocorreu no dia 14. No evento, também houve o lançamento de tiragens impressas do livro Encontro com Rita Segato por sua linhagem: memórias e memorial, organizado pela docente do Departamento de Sociologia (Sol/ICS) Tânia Mara Almeida e publicado pela Editora UnB (EDU).

 

A reitora Márcia Abrahão celebrou o encontro, lembrando que Rita Segato, que atuou na Universidade por 35 anos, é coautora da proposta de cotas raciais na Universidade de Brasília, juntamente com José Jorge de Carvalho. “Temos as cotas raciais, hoje, no Brasil, como consequência do trabalho da professora Rita Segato. A UnB comemorou 20 anos do início das cotas raciais na graduação, e a professora Rita é uma das autoras da proposta defendida e aprovada no Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (Cepe).”

 

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Rita Segato defendeu que a UnB é pioneira nas cotas raciais. A proposta foi apresentada ainda em 1999, discutida e votada internamente, em 2003. Diferente das cotas raciais implementadas em 2002, na Universidade do Estado da Bahia (Uneb), e em 2001, na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), que foram estabelecidas pelo Legislativo dos respectivos estados. “Nas estaduais, não partiram da discussão na própria universidade, mas a partir de uma votação na Câmara Estadual da Bahia e do Rio de Janeiro. Nós, aqui, fomos de baixo para cima, trabalhando até que o Cepe aprovasse as cotas para a UnB”, explicou.

 

Rita Segato é uma das pesquisadoras de maior influência da América Latina por suas contribuições nas Ciências Sociais, Bioética e Direito, tendo orientado diversos estudantes e sendo amplamente citada em artigos científicos. “Rita diz que o papel do professor é o da autorização, estimular a autoria. Rita também fala que todo mestre e toda mestra devem ter a capacidade e a vocação de gerar comunidade. Isso está marcado na minha história. Sinto muito orgulho de fazer parte, professora Rita, da sua comunidade”, disse, emocionado, o representante da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Lourival Carvalho.

A reitora Márcia Abrahão destacou a importância que Rita Segato tem para a implementação do sistema de cotas no Brasil. Foto: Luis Gustavo Prado/Secom UnB

 

Fundador do Programa de Pós-Graduação em Bioética (PPG-Bioética), Volnei Garrafa lembrou a atuação da homenageada no início do PPG. “Quando começamos, em 2008, eu disse: ‘Rita, você tem que vir para cá nos ajudar’. E a Rita nos fez mudar a agenda internacional da Bioética. Criamos uma coisa nova. O ‘bio’ de ‘bioética’ é visto, normalmente, pelas instâncias internacionais, como biotecnologia, biotecnociência, relação profissional de saúde e paciente, e ética em pesquisa com seres humanos. E o ‘bio’, para nós, depois da chegada da Rita, se transformou em ‘vida’. Então, incluímos também na agenda bioética os temas sanitários, sociais e ambientais”, relatou.

 

AULA – Rita Segato abordou diversos temas, como justiça social, ética, violência, colonialismo e gênero, direitos humanos e capitalismo. “Como fazemos quando forças tão potentes, inclusive midiaticamente, falam e propõem um mundo em que as reivindicações das mulheres são o inimigo, como Milei, Bolsonaro?”, instigou Rita, ao falar de feminismo.

 

“A militância das mulheres não é para as mulheres. A militância dos negros não é para os negros. A militância indígena não é para os indígenas. A militância LGBTQIA+ não é para os LGBTQIA+. Cada uma dessas identidades políticas é universal. Temos que sair da armadilha do minoritarismo. Não há minorias, cada uma dessas formas de existência são formas de existência para a humanidade. Cada uma dessas diferenças vem para quebrar o que chamamos de ‘normal’. Essa ideia de ‘normal’ é uma invenção”, disse, ao marcar o tom da aula pública.

 

LIVROS – A obra Encontro com Rita Segato por sua linhagem: memórias e memorial, organizada por Tânia Mara Almeida, é composta por 15 capítulos escritos por docentes, egressos e discentes, bem como todas e todos os ex-orientandos de mestrado e doutorado de Rita Segato. “Estamos junto com ela diariamente com seu potente pensamento incômodo, o qual marca nossas reflexões acadêmicas e práticas feministas, antirracistas e em direitos humanos. Construímos essa coletânea que expressa esses encontros. Foi publicado em e-book, em 2023, pela Editora UnB, disponível em acesso aberto. Agora, lançamos a versão impressa com o apoio da OAB”, comemorou Tânia Mara.

 

“Tivemos a felicidade de editar esse livro, que veio por meio de edital. Depois de um longo trabalho, publicamos em acesso aberto, disponível no site da Editora e no Portal de Livros da UnB, que é uma iniciativa da Biblioteca Central (BCE). Nossa homenageada tem uma verdadeira legião de estudantes, pesquisadores e jovens que foram motivados pelo seu elã em busca da verdade na luta cotidiana”, complementou a diretora da EDU, Germana Pereira.

 

Também participaram da mesa de abertura a presidente eleita para o mandato 2025-2027 da Associação Brasileira de Antropologia, Luciana Oliveira; a presidente da regional Distrito Federal da Sociedade Brasileira de Bioética e docente da Faculdade UnB Ceilândia, Marianna Holanda; e a coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Direitos Humanos e Cidadania (PPGDH), Vanessa Castro.

 

A aula está disponível no canal da UnBTV, no YouTube. Confira: 

 

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