Mudanças climáticas, conflitos internacionais e imigração foram alguns dos temas apresentados pela ex-presidente do Chile Michelle Bachelet em aula magna realizada na manhã desta quarta-feira (28) na Universidade de Brasília. A preleção Desafios Regionais e Globais foi pontuada por observações dos cenários latino-americanas e pelas vivências de Bachelet na Organização das Nações Unidas (ONU).
Ao lado da reitora Márcia Abrahão e do embaixador do Chile no Brasil, Sebástian Depolo Cabrera, a ex-chefe de estado falou em português e foi ovacionada pelas mais de 300 pessoas que lotaram o Anfiteatro 9 do campus Darcy Ribeiro, Asa Norte.
“Alegro-me em estar de novo nesta instituição onde há muitos anos me concederam o Honoris Causa”, iniciou Bachelet em menção ao título recebido em 2006. Ao anunciar o tema, informou que não seria “fácil porque não atravessamos um momento fácil na humanidade”. A chilena elencou as mudanças climáticas, a poluição e a perda de biodiversidade como grandes desafios globais. Também mencionou o aumento da pobreza e os conflitos armados na Ucrânia, na Palestina e no Sudão do Sul entre as atuais questões humanitárias que causam instabilidade geopolítica.
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Em relação às alterações climáticas, a ex-mandatária chilena lembrou que muitas vezes os países mais atingidos por secas prolongadas, inundações e incêndios não são os que mais degradam. Defendeu “transições ecológicas justas” e disse que “devemos resguardar e proteger a floresta amazônica” ao manifestar preocupação pelo aquecimento global que fez do ano passado o mais quente já registrado em diferentes biomas.
Quanto ao contexto latino-americano, a apreensão paira sobre as desigualdades sociais, a segurança e a imigração. Bachelet informou que 54% dos trabalhadores da região atuam na informalidade e que as mulheres têm menos acesso ao mercado de trabalho. Sobre a segurança, enfatizou que é um direito humano e pregou “confiança e solidariedade” para o enfrentamento do crime organizado “que se move por todos os países”.
Ao falar sobre os fluxos migratórios, demonstrou angústia pelas “mais de 7,7 milhões de pessoas que abandonaram a Venezuela desde 2018”. A ex-presidente criticou as possíveis manipulações nas eleições do país vizinho e evocou a necessidade de cooperação internacional para enfrentar uma situação humanitária que se “deteriorou extraordinariamente”.
Já perto do fim do encontro de pouco mais de uma hora, Bachelet lamentou estatísticas que apontam a queda pelo apreço à democracia no continente. “Nossas democracias precisam cumprir suas promessas”, disse, antes de criticar o avanço da extrema direita, que traria a “mentalidade do nós contra eles” e que não aceitaria os “direitos das minorias”. Ao término da aula magna, a ex-presidente defendeu “um novo espírito de colaboração internacional”, que precisaria ser “inclusiva, de maneira que ninguém fique para trás”.
PIONEIRISMO E PALCO HISTÓRICO – A trajetória profissional e política de Michelle Bachelet foi destacada no anúncio da convidada e na breve fala do embaixador chileno. Sebástian Depolo Cabrera lembrou que além de ter sido a primeira mulher eleita em seu país, o qual governou por dois mandatos, ela também foi a primeira ministra da defesa entre países da América do Sul e foi pioneira na ONU Mulheres. Na organização, ocupou ainda a liderança do Alto Comissariado para os Direitos Humanos. “Um símbolo de liderança na América do Sul e no Caribe”, classificou o diplomata.
A reitora Márcia Abrahão avaliou a convidada como “uma inspiração para todas nós mulheres da América Latina”. A gestora comentou com preocupação as turbulências políticas e movimentos extremados que “corroem a democracia” e disse ser uma felicidade receber Bachelet em auditório que simboliza “a resistência de nossa Universidade, que muito sofreu na ditadura militar”.