Representantes discentes e docentes da Universidade de Brasília, reunidos nesta quinta-feira (5), em encontro do Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (Cepe), lembraram a morte de Luiz Carlos Cancellier, reitor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), ocorrida na última segunda-feira (2).
O reitor em exercício Enrique Huelva abriu a reunião sugerindo aos conselheiros presentes o respeito de minuto de silêncio em homenagem a Cancellier, à comunidade da UFSC e em defesa das universidade públicas brasileiras. Huelva relembrou a reunião da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior no Brasil (Andifes) em que esteve presente, no fim de setembro.
Na oportunidade, representantes da UFSC teriam detalhado a situação em torno das investigações sobre o ensino a distância na instituição catarinense, que culminou na prisão e no afastamento de Cancellier do espaço físico daquela universidade.
"O acontecimento em si é triste e surpreendente, mas também preocupante, porque vem em um contexto que compreende um momento complicado, de gestão da universidade pública em tempos de crise", disse, antes de abrir o microfone para outros conselheiros.
Emocionada, a coordenadora do curso de licenciatura em Línguas de Sinais Brasileira/Português como Segunda Língua, professora Enilde Faulstich, relatou a parceria que UnB e UFSC firmaram para viabilizar a graduação em Libras.
“A UFSC foi pioneira na área, em 2006. Eu acompanhei todo o esforço de Santa Catarina na formação de um Brasil preocupado com a língua de sinais. Portanto, apesar de não ter conhecido pessoalmente o reitor, não posso deixar de falar da seriedade do trabalho daquela instituição”, afirmou, ao ressaltar que a federal catarinense se destacou na área justamente na modalidade de ensino a distância.
Representando a área do Direito, à qual Cancellier também pertencia, a vice-diretora da FD, professora Gabriela Neves Delgado, considerou desrespeitosa a conduta demonstrada em relação ao reitor da UFSC, logo que o caso veio à tona.
"Fiquei muitíssimo mal impressionada com o encaminhamento processual dado ao caso, porque se tratava ali da figura mais importante da gestão pedagógica e administrativa da instituição. Todos podemos ser submetidos a processos de investigação, mas não desta maneira, com falta de respeito à pessoa e, neste caso específico, ao simbolismo do seu cargo”, enfatizou.
A decana de Extensão da UnB, professora Olgamir Amancia, fez coro com a consternação geral e entendeu a morte de Cancellier como "evidência do atual momento vivido pelo ensino superior público no Brasil". "Precisamos fazer uma leitura desse acontecimento na perspectiva da defesa da universidade pública, em relação às medidas que estão sendo tomadas para descredenciar a seriedade e o respeito desse espaço", formulou.
Com voz embargada, a professora da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (Face), Adriana Amado, também repudiou a condução do caso, contemplando a questão da ameaça à universidade pública. "Há fronteiras perigosas sendo rompidas neste momento. O simbolismo que há na prisão de um reitor é um limite que foi ultrapassado contra nós, colocando em xeque a idoneidade da universidade e o seu papel. Atropelou-se a moral de uma pessoa, sem que fosse dado direito de defesa", disse.
"Há ataques contra a universidade vindo de todos os lados e a capacidade de resposta e mobilização da instituição é mínima diante dessa situação”, lamentou. "Não conheci Cancellier, infelizmente não vou conhecer, mas espero que essa atitude desesperada sirva como um alerta para nos acordar e para que esse cerceamento não se repita", finalizou a docente, sendo aplaudida pelos mais de 30 membros presentes à reunião.
Logo após, todos levantaram-se e prestaram um minuto de absoluto silêncio em tributo a Luiz Carlos Cancellier, a quem o reitor em exercício Enrique Huelva definiu como "pessoa com carreira pública e acadêmica bastante ampla, e responsável por grandes contribuições à construção da universidade pública no Brasil”.
*Estagiária de Jornalismo na Secom/UnB.