Em um grupo de quase 20 docentes de um programa de pós-graduação, como identificar, por critérios objetivos, qual deve ter prioridade em uma licença pós-doutoral? Ou em uma liberação de carga horária? Ou até quem deve ser indicado ao cargo de chefia de departamento? Foi com perguntas como essas em mente que, em 2016, o professor Alan Ricardo da Silva e o graduando João Victor Freitas, do Departamento de Estatística (EST) da UnB, propuseram um sistema de indicadores baseado no currículo Lattes dos docentes da pós-graduação da Estatística (PGEST).
Foi ali que o professor vislumbrou a possibilidade de aplicar o indicador a outras questões, inclusive ligadas à área de gestão da Universidade. Depois de apresentar a proposta à decana de Pós-Graduação, Helena Shimizu, foi exatamente isso que Alan fez, de julho a dezembro de 2017. Como resultado, o projeto batizado de Sistema de Gerenciamento dos Cursos de Pós-Graduação da UnB ganhou o primeiro lugar na Exposição de Aplicações Institucionais da Base Lattes (EXPO Lattes) 2018, na temática integração com sistemas institucionais.
O evento aconteceu em setembro e foi promovido pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e pelo Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE/MCTIC), para revelar soluções que utilizam o banco de dados da Plataforma Lattes.
FUNCIONAMENTO – O sistema basicamente faz a leitura dos currículos Lattes dos docentes da pós-graduação da Universidade. A partir daí, são construídos diversos indicadores relativos a produção científica, participação em bancas, orientação, bolsas de produtividade, internacionalização da produção, entre outros. Os dados também são cruzados com os Lattes dos alunos da pós-graduação, para avaliar a produção discente. Dessa forma, o programa permite que o Decanato de Pós-Graduação (DPG) e os programas de pós-graduação (PPG) meçam o nível de desenvolvimento e planejem ações. “É um termômetro”, resume Alan.
A alimentação do sistema tornou-se possível a partir de uma permissão concedida pelo CNPq para que os currículos fossem baixados em arquivos XML, diretamente de um servidor local. Isso dá celeridade ao processo. Alan conta que, para atualizar os 2.035 currículos Lattes existentes hoje no sistema, são necessários apenas 50 minutos.
“O sistema é uma ferramenta de estratégia global para avaliação de produção e de desenvolvimento de projetos”, comenta a decana Helena Shimizu. Ela explica que a iniciativa está conectada com os esforços do DPG para ampliar o conhecimento sobre os programas, com a finalidade de subsidiar a elaboração de políticas de aprimoramento.
Os dados serão usados para ajudar a elaborar o planejamento futuro dos programas, que terão condições de propor perspectivas de desempenho e identificar aspectos positivos e desafios a serem enfrentados. As informações também serão indicadores sobre áreas com maior necessidade de investimento e de auxílio. “Podemos ajudar os programas a alcançar excelência e a buscar agências de fomento”, exemplifica Shimizu.
O aperfeiçoamento do desempenho dos discentes também está em pauta. “Cada vez mais precisamos focar a formação do estudante”, observa a decana. “Desde o início do curso, o aluno será incluído no processo de produção acadêmica, vai ter de aprender a fazer pesquisa e publicar em bons periódicos.” Esse tende a ser um dos fatores mais valorizados pela Capes nas avaliações futuras. Outro elemento em destaque é a internacionalização, que poderá ser melhor quantificada, por exemplo, a partir das análises das produções dos programas, da colaboração de docentes e de coorientações com parceiros de instituições no exterior.
O sistema evidencia a necessidade de manter o Lattes atualizado. “É importante que professores e estudantes revisem o currículo com frequência, para que o sistema seja o mais acurado possível”, reforça Shimizu.
Além desse sistema central com todos os programas de pós-graduação, o professor Alan desenvolveu uma versão customizada para noventa programas de pós-graduação da Universidade, que foi disponibilizada aos coordenadores. “O objetivo é que possam monitorar os indicadores de seus respectivos programas”, explica o estatístico.
Para viabilizar as análises, os PPGs precisam informar dados atualizados dos docentes, isso possibilita o resgate dos currículos Lattes que abastecem o sistema. “Cinquenta e dois programas já mandaram essas informações, receberam os relatórios e já estão usando os dados para planejar suas ações”, afirma Alan. Para atualizar as informações que já existem ou incluir dados dos programas que ainda não foram sistematizados, basta o PPG enviar um e-mail para o decanato: Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo..
ALÉM DA UnB – O sistema premiado permite que a Universidade de Brasília olhe para dentro. Mas, e quanto ao desempenho da UnB em relação a outras instituições de ensino superior? O professor Alan também pensou nesta questão e desenvolveu outra ferramenta, desta vez para comparação interinstitucional dos programas de pós-graduação no país. A base de dados é alimentada por informações disponíveis de forma pública na plataforma Sucupira.
O relatório comparativo entre a UnB e outras 28 instituições de ensino superior (ano base 2017) está sendo apresentado aos coordenadores de PPGs durante oficinas das grandes áreas promovidas pelo DPG ao longo do mês de outubro. No fim do ano, será feito o relatório com as informações de 2018.
Os dados oferecidos pela ferramenta ajudam a UnB a compreender quais são as áreas que precisam de maior estímulo, tendo em vista que a avaliação quadrienal da Capes é desenvolvida com base na comparação entre programas semelhantes. “Para termos um melhor desempenho, precisamos conhecer os pares: o que fazem e o quanto produzem”, diz Shimizu. “É uma forma de analisarmos as linhas de tendência ano a ano”, comenta Alan.
Os dados informados pelo sistema também podem ser úteis para a detecção de desempenhos que precisam ser aprimorados, já que os programas de fomento à pesquisa (cada vez mais escassos e concorridos) consideram índices de performance. “Aqueles que têm resultados inferiores a programas de outras instituições correm o risco de perder financiamento”, alerta a decana do DPG.
“O que queremos é ampliar a excelência dos nossos programas, manter as avaliações daqueles que têm nota 6 e 7 e ajudar a aumentar as notas dos outros”, projeta. O DPG também tem como meta evitar o fechamento de programas. “Temos maturidade para alcançar notas superiores”, aponta Shimizu.
RAIO-X – O sistema premiado disponibiliza uma série de informações como a quantidade de professores por programa, se são permanentes ou colaboradores, a naturalidade (informação relevante quando se fala em internacionalização) e a data da última atualização do Lattes, por exemplo. Também permite analisar a quantidade de periódicos em que cada docente do PPG publicou e o percentual de colaboração do professor no conjunto de produções do programa. Além disso, serve para a checagem de informações declaradas nos Lattes.
Há também indicadores sobre os discentes orientados por cada professor. Dessa forma, é possível saber se o estudante está atrasado no fluxo, como foi o desligamento (por abandono, por conclusão) e a data da defesa dos trabalhos. Gráficos comparativos são outro recurso oferecido. Um deles exibe a quantidade de PPGs dos quais o docente participa: 78% dos professores estão em um programa; 19% em dois e 3% em três. Do quadro de professores, 56% são homens, 82% são da UnB, 9% de outras instituições e pouco mais de 8% são colaboradores.