O que podemos fazer, em âmbito individual e coletivo, para alavancar a igualdade de gênero? Como as universidades, em especial as que são lideradas por gestoras mulheres, podem promover a equidade – um dos objetivos do desenvolvimento sustentável (ODS), definidos pela Organização das Nações Unidas (ONU)? Esses foram alguns dos temas debatidos na mesa O papel da mulher na sociedade. Onde estamos e onde queremos chegar? (ODS 5), que integrou a programação da 20ª Semana Universitária.
>> Confira aqui a programação da 20ª Semana Universitária
O evento teve a participação da reitora Márcia Abrahão, que trouxe números relativos à Universidade de Brasília. Na instituição, embora haja uma maioria de mulheres entre os estudantes de graduação e pós e entre docentes, a representação feminina é pequena ao se analisar a direção dos institutos e faculdades. Somente oito das 26 unidades acadêmicas têm mulheres como diretoras. Tal cenário reflete a desigualdade presente na sociedade brasileira, apontou a reitora.
"Na gestão, procuramos fazer o contrário, e a maioria dos decanatos é liderada por mulheres, inclusive os que cuidam da parte financeira", contou Márcia. "Mas, ao analisarmos o contexto nacional, as coisas não vão bem. As condições de trabalho para mulheres ficaram ainda mais adversas com a pandemia", acrescentou ela, trazendo dados de desemprego e sobrecarga feminina.
A professora Manuela Morais, da Universidade de Évora, em Portugal, falou sobre a invisibilidade das mulheres, mencionando o livro Invisible Women, de Cariline Criado Perez (lançado em 2019, ainda sem tradução para o português). Ela também trouxe informações sobre a participação das mulheres na ciência no contexto europeu: 62% das pessoas que têm título de doutorado em ciências naturais, matemática e estatística são mulheres, entretanto, apenas 30,2% dos altos cargos acadêmicos nas áreas de ciências da natureza são ocupados por elas. O percentual cai para 10,6% nas áreas de tecnologia e engenharia.
"Mulheres normalmente recebem menos convites para conferências e são menos citadas em artigos. Também recebem menos financiamento para realizar seus estudos", destacou.
Para a professora Suely Salgueiro Chacon, da Universidade Federal do Ceará (UFC) e ex-reitora da Universidade Federal do Cariri (UFCA), é preciso aumentar a presença de mulheres em espaços de poder, e as eleições municipais deste ano representam uma boa oportunidade para isso. "Este é o momento de agir e esse agir precisa ser político", defendeu.
REPRESENTATIVIDADE – Reitora da Universidade de Cabo Verde, Judite Nascimento (que coordenou o debate) fez uma reflexão sobre a importância da presença de mulheres em cargos de liderança e como isso influencia futuras gerações. "A mulher em cargo de chefia precisa vencer desafios apresentados pelo sistema, que é machista. Enquanto os homens são competentes até que se prove o contrário, nós temos que, a todo momento, provarmos a nossa competência", frisou.
O debate foi organizado pela professora Izabel Zaneti, coordenadora de Extensão do Centro de Desenvolvimento Sustentável (CDS/UnB). A docente assumiu o preparo do evento há cerca de duas semanas, depois que o professor João Nildo Vianna, idealizador da mesa, faleceu.
"É uma honra participar deste evento, com um tema tão relevante para nós, mulheres, mas também para todos que almejam uma sociedade verdadeiramente igualitária. Incluo nesse grupo nosso querido professor João Nildo, que nos deixou precocemente", mencionou a reitora, na fala de abertura. O diretor do CDS, Maurício Amazonas, também prestou homenagem ao colega na fala inicial e houve um minuto de silêncio.
A íntegra da mesa está disponível na Sala 01 da Semana Universitária. Confira:
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