A depredação dos livros da Biblioteca Central (BCE) da Universidade de Brasília, há pouco mais de um mês, motivou a criação de um espaço permanente de reflexões sobre a temática dos direitos humanos, em sentido amplo. Inaugurado nesta terça-feira (20), na BCE, o Espaço Direitos Humanos tem como objetivo oferecer suporte informacional e propiciar a produção e difusão de conhecimento.
Além da disponibilização de livros e outros tipos de obras, a sala conta com exposição permanente de fotos e ambiente para convivência. “Trata-se de um local para manter viva a memória da construção dos direitos humanos, compartilhar saberes e estimular a reflexão sobre o tema”, informa o diretor da BCE, Fernando Leite.
A sala ASS-17/30(154) está localizada no primeiro subsolo, em frente ao salão de estudos do Multimeios e funcionará nos períodos da manhã e da tarde. Além da estrutura física, também integra a iniciativa a coleção digital Para não esquecer: UnB e a ditadura militar, que contém recortes de jornais sobre a repressão sofrida durante o regime.
Antes ocupado pelo acervo do maestro e professor Cláudio Santoro, o local abriga o piano do músico. Uma das paredes é utilizada como quadro negro para provocar troca e reflexão de ideias. Também estão em exposição, do lado externo, as obras da BCE que foram alvo de vandalismo.
MOBILIZAÇÃO – A criação do espaço surgiu por iniciativa da própria BCE, sendo comunicada em informe durante reunião do Conselho de Direitos Humanos da UnB em outubro, e tornou-se realidade em menos de um mês. "A ideia já estava sendo desenvolvida anteriormente”, esclarece o diretor.
Estudante do quinto semestre de História, Ana Carolina Santos acredita que a novidade irá facilitar a pesquisa em direitos humanos, uma vez que reúne importantes obras num único ambiente. “A mutilação dos livros nos sensibilizou muito. Agora é importante unir forças para não deixar que isso se repita.”
A cerimônia de inauguração contou com diversas autoridades da UnB. Estudantes, professores e servidores técnico-administrativos também participaram. Em sua fala, a reitora Márcia Abrahão considerou que a depredação das obras no ano em que se celebra os 70 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos não é mera coincidência.
Ela lembrou o lema da campanha institucional de 2018, UnB Mais Humana. “O Conselho de Direitos Humanos, criado nessa gestão, manifestou repúdio à intransigência e intolerância. Mas vamos continuar a defender nossos valores e a liberdade de cátedra”, afirmou. Após os discursos, o público pôde conferir a sala e uma apresentação musical.
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SÍMBOLO DE RESISTÊNCIA – Entre as presenças que marcaram o evento de abertura do espaço estava o ex-reitor José Geraldo de Sousa Junior. Ao citar episódios históricos nos quais também houve depredação de livros, ele deixou uma mensagem de resistência e esperança. “Ao longo da história, o pensamento foi queimado. Mas a cada vez estamos mais experientes, esclarecidos e dispostos a nos manter solidários”, defendeu.
“Essa iniciativa vai muito além da demarcação física, reflete um posicionamento crítico de um momento de muitas complexidades”, expressou a decana de Extensão, Olgamir Amancia. Em seu ponto de vista, a Universidade é um ambiente plural, de insurgência do desafio e da crítica.
Pioneira em oferecer formação continuada na área, a UnB conta com o Programa de Pós-Graduação em Direitos Humanos (PPGDH).
Coordenador do PPGDH, o professor Alexandre Costa mencionou o fascismo e o ódio à intelectualidade. “A reação da Biblioteca e da comunidade foi muito forte, sendo dada uma resposta de amor à sabedoria, aos livros e às pessoas”, elogiou.
A inauguração da nova sala da BCE no dia da Consciência Negra, comemorado em 20 de novembro, foi destacada pela professora Renísia Garcia, da Faculdade de Educação.
“É muito importante que este tipo de ação não fique apenas no meio acadêmico, restrito a produções científicas. Precisamos estar atentos aos segmentos mais vulneráveis.”