Um plano de contingência tem o objetivo de prever crises, riscos, desastres e os mais diversos cenários que possam ter impacto significativo na realidade de uma instituição. A partir dessas previsões, faz-se um planejamento com as ações a serem executadas em determinados momentos por cada um dos atores envolvidos. A UnB já tinha um documento como esse desde janeiro de 2019, mas foi em fevereiro de 2020 que construiu seu Plano de Contingência de Saúde do Coronavírus, o qual acaba de ser atualizado e inclui mais atores – hoje há 15 listados.
“Ele é fundamental, porque organiza a capacidade de resposta da Universidade, que tem uma lógica colegiada e que, num cenário de emergência, precisa se organizar de maneira mais ágil e muito mais proativa para garantir a resposta a determinado evento que aconteça. Também disciplina as fases desse evento e como cada ator envolvido nesse plano vai responder em cada fase”, explica o professor do Departamento de Saúde Coletiva da Faculdade de Ciências da Saúde (FS) e membro do Comitê Gestor do Plano de Contingência em Saúde da Covid-19 (COES) da UnB, Jonas Brant.
“Vejam como conseguimos nos organizar para reforçar a capacidade técnica do Laboratório de Saúde Pública do Governo do Distrito Federal; também temos reforçado a colaboração da Sala de Situação da UnB com as salas de situação do GDF, de outros estados e até de outros países, ajudando a orientação da construção dos planos dessas instituições – seja para a fase de preparação e alerta, contenção e transmissão sustentada", detalha o epidemiologista.
"Todos esses planos dessas diferentes instituições estão sendo apoiados com ajuda da Sala de Situação da FS”, conta o docente, que ainda cita como exemplo a maneira em que a rotina da força de trabalho na Universidade foi alterada para que a equipe que analisa dados pudesse ser reforçada neste momento.
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Brant adianta que em breve – ainda em abril – uma terceira versão do plano de contingência já estará disponível ao público. “Conforme estão avançando o conhecimento e a integração das diferentes áreas da Universidade, percebemos ações a mais que devem ser consideradas neste plano, para esta fase e para as próximas. Então, já estamos detalhando isso para termos tudo pronto e podermos orientar nossa comunidade. Daí a importância de ir soltando versões”, esclarece.
O docente afirma que apesar de no Brasil ainda não ser forte a cultura de se ter um plano de contingência nas instituições, é crucial tê-lo. Brant destaca que o material é importante não apenas em instituições, mas também nas casas das pessoas, para que possam se prevenir de determinadas situações.
“Agora, nesse cenário de emergência, fica evidente o quanto precisamos avançar para que, no futuro, eventos como esse [da pandemia] tenham menos impacto na nossa vida cotidiana, porque já teremos pensado em como responder. Assim, não responderemos conforme o evento. Quem se planeja tem mais chances de realizar escolhas, e não ser guiado pelo evento ou pelo pânico”, ensina Brant.
AUTORIA E PARCERIAS – O plano de contingência da UnB foi elaborado, desde a primeira edição, pela estudante do sétimo semestre do curso de Saúde Coletiva Cecília Balbino Reis, com apoio da Diretoria de Atenção à Saúde da Comunidade Universitária (Dasu/DAC). Inicialmente, ela criou um plano voltado para surto de sarampo e, depois, usou o conhecimento que adquiriu em sala de aula para desenvolver um material específico para o combate ao novo coronavírus, com a coordenação de Jonas Brant e de Marcela Lopes Santos, epidemiologista colaboradora da UnB.
“Tivemos várias etapas desde a estruturação do plano, tendo em vista as fases de surto da doença até a parceria entre a Sala de Situação, na qual hoje sou bolsista, e a Dasu. Desde então, os processos vêm aumentando, com a criação do COES e seus subcomitês. O plano de contingência é um documento vivo, então, a cada semana, eu venho atualizando com novos dados, novas referências, novas ações,” conta a estudante de 20 anos da idade, que pretende seguir a área de epidemiologia voltada a emergências em saúde pública.
Cecília destaca que o plano leva em consideração fontes oficiais, como Secretaria de Saúde, Ministério da Saúde e Organização Mundial da Saúde (OMS).
Marcela Santos participou da construção e da atualização do Plano de Contingência de Saúde do Coronavírus da Universidade. Ela explica que a primeira versão do documento era mais teórica, e que adaptações comumente são necessárias com o passar do tempo e o desenvolvimento da epidemia.
“Planos de contingência podem ser construídos em diversos cenários e para diversos locais de interesse. O da Universidade de Brasília pode servir como base para outras realidades fazerem as devidas adaptações e implantarem também o plano na sua realidade. Temos que lembrar que essa situação de crise não tem impacto isolado na UnB e, sim, em todo o DF, o Brasil e o mundo”, detalha.
Na versão atual, há uma contextualização do surgimento da doença Covid-19, causada pelo novo coronavírus (SARS-Cov2) e descoberta em dezembro de 2019, na China. Há informações breves sobre os sinais e sintomas, as formas de transmissão e o tratamento recomendado àqueles que suspeitem estar ou de fato estejam infectados – como até o momento não há remédios ou vacinas adotados formalmente para prevenir ou curar a enfermidade, recomenda-se o isolamento domiciliar. Ali, fala-se ainda sobre as fases desta epidemia.
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No Plano de Contingência da UnB também é possível encontrar uma descrição de cenários de risco, dentro da Universidade de Brasília, e uma listagem das estruturas envolvidas no combate ao coronavírus. Por exemplo, entre os atores mencionados, estão desde a Sala de Situação de Saúde da FS, a Dasu e a Reitoria, até as equipes de limpeza e de segurança da UnB, bem como o setor de Educação a Distância e a Assessoria de Assuntos Internacionais (INT).
“Um dos principais destaques desse plano é que ele determina atividades e atribuições para vários setores da Universidade, para os principais atores. Deixa bem claro o que é para cada um fazer, de forma que possamos agir de maneira coordenada”, afirma a professora Larissa Polejak, diretora da Dasu e também membro do COES.
“Permite que a instituição se organize para as diferentes fases da epidemia e tenha estratégias de ação, prevenção e de cuidado em cada um dos momentos do processo, porque cada fase exige ações diferentes. Dessa maneira, a instituição também consegue transmitir tranquilidade à comunidade, mostrando que estamos agindo conforme cada necessidade de cada momento”, complementa a docente.
SAÚDE MENTAL – Larissa informa ainda que a UnB acaba de criar um grupo de trabalho em saúde mental visando o bem-estar da comunidade universitária. “É uma coisa importante para que possamos colocar as ações de maneira transversal no nosso plano de contingência, entendendo que, da mesma maneira que precisamos cuidar da nossa saúde física, a saúde mental é fundamental para um bom enfrentamento dessa situação de crise sanitária que estamos vivendo”.
A docente adianta que o grupo de trabalho é formado por equipe multidisciplinar com experiência em saúde mental. Integrado por professores dos quatro campi da UnB, estudantes e técnicos administrativos da Dasu, o grupo está trabalhando a construção de um plano de contingência robusto, voltado para saúde mental. Ademais, tem a participação do Hospital Universitário de Brasília (HUB) e está em articulação com o Conselho Regional de Psicologia (CRP) e a Secretaria de Saúde do Distrito Federal.
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