É possível tornar as tecnologias instrumentos favoráveis para as melhorias na mobilidade urbana? Um grupo de deputados distritais acredita que sim e quer tornar a ideia realidade com a Frente Parlamentar em Defesa da Utilização de Aplicativos para Transporte Individual de Passageiros. A comissão foi lançada na manhã desta terça-feira (14), no auditório da Faculdade de Tecnologia da Universidade de Brasília. Evento contou com a presença de professores e estudantes da instituição que têm participado dos debates sobre o assunto.
“Nós estamos falando da modernização da mobilidade urbana. Precisamos incentivar o uso de automóveis por mais pessoas e por mais tempo”, justificou a criação da frente, o relator da proposta, deputado Professor Israel. Segundo ele, são necessárias soluções criativas que dialoguem com a utilização das tecnologias, uma realidade já presente no dia a dia das pessoas, para otimização do uso de automóveis, em defesa dos interesses públicos e do consumidor, e não somente de categorias.
A tentativa da frente é a de aprovar na câmara o projeto de lei para regulamentar aplicativos que oferecem serviço de transporte individual, como o Uber e outros que incentivam o compartilhamento de veículos. Estudos realizados pela UnB apontam que, em Brasília, cada automóvel é utilizado por 1,2 passageiros. Atualmente, a cidade possui uma frota de quase 1,7 milhão de veículos em circulação. “Se otimizarmos o uso do automóvel para dois passageiros, retiramos das ruas meio milhão de veículos”, afirmou Israel.
A deputada Celina Leão, atual presidente da câmara, reforçou que o projeto de número 777/2015 foi amplamente debatido com a sociedade e será colocado em votação entre os parlamentares no dia 21 de junho. Um terço da câmara – oito deputados – integra a comissão e é favorável à proposta.
Também presente na ocasião, o reitor da UnB, Ivan Camargo, ressaltou a necessidade de “pensarmos a mobilidade urbana na cidade” de forma a evitar que o trânsito de Brasília se torne ainda mais caótico como o das grandes capitais. “Não podemos frear o progresso”, alegou.
Esse também foi o ponto de vista do deputado Cláudio Abrantes, integrante da frente, ao afirmar que “o espírito corporativista não pode se sobrepor ao interesse maior da sociedade”.
ALTERNATIVA - O Centro Interdisciplinar de Estudos em Transportes (Ceftru) da UnB tem contribuído no enriquecimento do debate por meio de pesquisas e desenvolvimento de soluções para a mobilidade urbana na capital federal. Um desses projetos, concebido por estudantes da UnB membros de uma start up incubada no Ceftru, é o aplicativo Carona Phone. A plataforma propõe uma maneira criativa de facilitar as caronas solidárias, mas também de incentivar melhorias na dinâmica do trânsito não só dentro da UnB, como em toda Brasília.
Após baixar o aplicativo e se cadastrarem, os usuários recebem informações em tempo real sobre o trajeto de motoristas logados, podem enviar mensagens, solicitar e receber instantaneamente as caronas. “Nós defendemos o avanço da tecnologia em benefício da sociedade. E o uso de aplicativos para a mobilidade é uma necessidade como também uma oportunidade”, argumentou o coordenador do Ceftru, Pastor Gonzales, que acredita que iniciativas como essa podem tornar a cidade exemplo para todo o país.
Egresso do curso de Ciências da Computação, Márcio Batista é o idealizador do Carona Phone, apresentado ao público durante o evento. Lançado recentemente em versão beta, o aplicativo já teve mais de sete mil downloads e duas mil caronas solicitadas. A plataforma foi o segundo projeto com melhor avaliação no Programa Start Up Brasília, do Governo do Distrito Federal, que selecionou 38 start ups com projetos inovadores e disponibilizou 8,5 milhões em recursos, por meio da Fundação de Apoio à Pesquisa do DF.
“Com o aumento da taxa de pessoas nos veículos, nós vamos reduzir significativamente o número de carros nas ruas. É uma mudança de cultura que estamos imprimindo”, considerou Batista. Além disso, apontou como principais impactos do aplicativo melhoria do fluxo nas vias, redução de congestionamentos, do estresse e de conflitos no trânsito. No entanto, ponderou ser essencial a regulamentação desses tipos de aplicativo perante a lei, como já ocorre em São Paulo, já que, segundo Batista,“ainda existe uma cultura das pessoas terem receio de ser penalizadas pela carona. Precisamos desmistificar isso”.