Um estudo da Universidade de Brasília, em parceria com o Ministério da Saúde (MS), pretende avaliar a efetividade de armadilhas desenvolvidas para captura do Aedes aegypti no monitoramento e controle do mosquito, transmissor de doenças como dengue, chikungunya e zika vírus. Um dos objetivos da iniciativa é incorporar metodologias inovadoras nas estratégias dos Programas Nacionais de Controle e Prevenção da Malária e das Doenças Transmitidas pelo Aedes. Pesquisadores do Instituto de Ciências Biológicas (IB) e técnicos de órgãos de saúde discutiram as primeiras etapas do projeto em reunião no auditório do IB, na última sexta-feira (27). A iniciativa, com duração de um ano, tem financiamento de mais de R$ 1 milhão do Centers for Disease Control and Prevention (CDC). Os recursos serão administrados pela Fundação para o Desenvolvimento Científico e Tecnológico em Saúde (FIOTEC).
De acordo com o coordenador da pesquisa e professor do Departamento de Zoologia do Instituto de Ciências Biológicas, José Roberto Pujol Luz, a ideia é reunir a experiência de profissionais e estudiosos da área para contribuir nas políticas de controle de epidemias relacionadas ao vetor. “Uma iniciativa dessa, que propõe um trabalho que coaduna a pesquisa em epidemiologia e a expertise que temos em ecologia, é muito rara”, avalia Pujol, que considera ser essa a novidade do estudo.
Quatro modelos de armadilhas – três importadas e uma de fabricação caseira – serão avaliados por pesquisadores do IB, estudantes de iniciação científica do instituto e dos programas de pós-graduação em Ecologia e em Zoologia. Duas das ferramentas serão testadas pela primeira vez no Brasil para vigilância epidemiológica do Aedes aegypti, mas já mostraram eficácia em estudos realizados em outros países.
A pesquisadora do núcleo de Minas Gerais do Ministério da Saúde e integrante do projeto, Ima Aparecida Braga, explica que os dispositivos a serem analisados foram desenvolvidos com base em diferentes formas de coleta de exemplares do vetor, seja com o uso de substâncias que atraem a fêmea quando necessita se alimentar ou na fase em que produz os ovos, seja pela captura somente dos ovos. “Em um estudo anterior, comparamos a armadilha caseira com as demais a partir do levantamento de índice amostral dos vetores. Esse estudo agora é mais amplo. Esperamos poder ajudar o Ministério da Saúde a tomar decisões com base nesses dados”, comenta a especialista.
COLETA – A equipe da pesquisa conta ainda com agentes de saúde e técnicos do MS e das secretarias de Estado da Saúde do Distrito Federal e do Amazonas. Eles estarão envolvidos na implantação de 3.200 armadilhas em três cidades do Distrito Federal, Paraná e Amazonas, que serão definidas em função dos índices relevantes de infestação do mosquito. O experimento deverá se iniciar no mês de março e as amostras obtidas serão encaminhadas para análise dos pesquisadores da Universidade.
"A UnB poderá executar um trabalho de ponta na área técnica e na área de pesquisa, pois vamos conseguir centralizar informações de três estados da federação com três biomas diferentes, o que é interessante na formação de recursos humanos e desenvolvimento de novas pesquisas", avalia o coordenador do projeto.
A pesquisa também busca obter informações sobre a diversidade de mosquitos das áreas urbanas e comparar os custos para implantação das metodologias em programas de vigilância em saúde. Segundo o coordenador-geral dos Programas Nacionais de Controle e Prevenção da Malária e das Doenças Transmitidas pelo Aedes, Divino Valero Martins, é necessário ampliar e modernizar os indicadores para coleta de dados sobre os vetores no Brasil. “Nossa expectativa é poder recomendar ou adotar em um futuro próximo o uso dessas ferramentas como indicadores de distribuição espacial e de infestação dos mosquitos”, afirma.