No atual período de chuvas, os brasilienses andam desatentos com relação aos perigos do Aedes aegypti – mosquito vetor de doenças como dengue, chikungunya e zika vírus. De acordo com o último Boletim Epidemiológico da Secretaria de Saúde do DF (n. 2, janeiro de 2022), houve um aumento de 89,3% de casos notificados e 189,9% de casos prováveis. Para driblar este crescimento, o projeto ArboControl, da Universidade de Brasília (UnB), desenvolveu um inseticida natural para eliminar o mosquito.
O produto foi gerado a partir de compostos de origem vegetal no Laboratório de Farmacognosia. Segundo a professora da Faculdade de Ciências da Saúde (FS) e pesquisadora do ArboControl Laila Espíndola as expectativas são altas. “Esperamos, com este inseticida natural, nos livrarmos destes mosquitos resistentes que não morrem com os inseticidas sintéticos convencionais”, explica.
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A equipe do projeto realizará os primeiros testes de eficácia do produto na UnB. A previsão é que ainda em fevereiro seja iniciada a aplicação do inseticida em focos de água parada – principais criadouros do mosquito – no Instituto Central de Ciências (ICC). “Como iremos jogar o inseticida direto na água para matar ovo, larva e pupa, esperamos acabar com o ciclo do mosquito”, detalha a professora.
Anteriormente à aplicação, a iniciativa irá monitorar durante três semanas as fêmeas do Aedes aegypti no ICC. Para isso, no final de janeiro foram instaladas 150 armadilhas ao longo do prédio para capturar os mosquitos. De acordo com Laila Espíndola, as armadilhas possuem um composto natural que atrai o inseto, e simulam um reservatório perfeito para as fêmeas colocarem seus ovos.
Após esse período, tem início a aplicação do inseticida, que ocorrerá durante cinco semanas seguidas. Nesta fase, será possível acompanhar o ciclo de eclosão dos ovos do inseto e analisar a eficácia do produto. Caso os pesquisadores percebam um crescimento no quantitativo de mosquitos ao longo das semanas, a dosagem do inseticida será aumentada.
Concluído o processo, as armadilhas serão monitoradas para observar se houve ou não redução na circulação do Aedes aegypti no local com o uso do inseticida. “Nós instalamos as armadilhas nos dias 27 e 28 de janeiro e já iniciamos o monitoramento. Dependendo do número de mosquitos presos na armadilha, vamos saber a quantidade naquela região. Essa etapa é importante porque somente com as armadilhas podemos analisar a quantidade de mosquitos antes, durante e após a aplicação do nosso produto”, afirma.
Por enquanto, os pesquisadores não preveem o uso da armadilha e do inseticida em outros pontos da Universidade. O foco agora é aplicar o produto e monitorar os dados até junho deste ano.
ENTENDA – O mosquito fêmea coloca os ovos em locais que podem acumular água, principalmente neste período de chuvas, como em tampas, calhas e ralos. Após a oviposição, isto é, a colocação dos ovos, dentro de dois dias acontece a eclosão, com a saída da larva. Esta passa por quatro ciclos até virar a pupa. Cerca de um a dois dias depois emerge o mosquito adulto.
Como o inseticida do ArboControl será aplicado na água, a expectativa é eliminar ovos, larvas e pupas antes que estes atinjam a fase adulta. Já com as armadilhas, será possível quantificar e monitorar o ciclo do mosquito antes, durante e após a aplicação do inseticida.
APOIO – Vários setores da UnB estão envolvidos na organização e realização da atividade de controle do mosquito, que tem o apoio da administração superior. Participam dessa ação, por parte da Prefeitura da UnB, a Coordenação de Parques e Jardins (CPJ), vinculada à Diretoria de Administração e Logística, e a Diretoria de Manutenção (Dimap).
A CPJ dá suporte à aplicação dos insumos de combate aos vetores; já a Dimap apoia no processo de instalação das armadilhas que permitirão o controle das populações e verificação do sucesso da ação.
Segundo o técnico administrativo da Prefeitura da UnB Claudimar Rodrigues Lima a iniciativa é de suma importância para a Universidade. “A Prefeitura da UnB trata esse assunto com a maior responsabilidade, pois sabe que atualmente o combate aos vetores transmissores é a única forma de reduzir o risco de contaminação da comunidade universitária e da população em geral. Não podemos menosprezar a capacidade de contaminação. Cada ponto de acúmulo de água deve ser evitado, cada potencial criadouro precisa ser combatido”, afirma o servidor.
João Ricardo Morales, que também é técnico administrativo na PRC, ressalta a necessidade de a população participar de forma ativa e mobilizada no combate ao mosquito.
“As orientações sobre como atuar e eliminar os focos são de conhecimento de todos, o que nos falta agora é agir! Se todos atuarmos na redução dos potenciais focos de proliferação do mosquito, reduzimos a transmissão das arboviroses a patamares mínimos que deixarão de representar riscos de saúde para a população”, enfatiza.
Outro apoio fundamental para a realização do ArboControl foi o financiamento de R$ 30 milhões do Ministério da Saúde. Por meio do Termo de Execução Descentralizada (TED) 74/2016, os pesquisadores realizaram testes de monitoramento e controle do vetor, implementaram novas tecnologias e obtiveram capacitação profissional para o projeto.
ARBOCONTROL – O projeto ArboControl é uma iniciativa da Faculdade de Ciências da Saúde (FS/UnB) e do Núcleo de Estudos de Saúde Pública do Centro de Estudos Avançados Multidisciplinares (Nesp/Ceam/UnB) para desenvolver soluções contra o mosquito Aedes aegypti e diminuir a propagação de dengue, zika, chikungunya e febre amarela. O projeto busca produtos da biodiversidade do Brasil e do mundo para controle do vetor.
A iniciativa possui quatro frentes de trabalho, focadas na pesquisa para controle de vetor; em novas tecnologias em saúde; na educação, informação e comunicação para o controle do vetor; e na formação e capacitação profissional para lidar com a questão.
>> Saiba mais sobre o projeto ArbolControl
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