DEMOCRATIZAÇÃO

Evento promovido nesta quinta-feira (27) pela Diretoria da Diversidade integra comemorações do dia de visibilidade a esta população

Debate contou com a participação de estudantes da UnB e acadêmicos trans de diferentes instituições do país. Imagem: Reprodução/DEX

 

Neste sábado (29), é celebrado o Dia Nacional da Visibilidade Trans, marco da luta por cidadania, respeito e valorização de travestis e transexuais. Anualmente, a Universidade de Brasília realiza eventos para destacar a data. Como parte da programação da Semana da Visibilidade Trans da UnB, nesta quinta-feira (27), o debate Cotas para pessoas trans na Universidade destacou os desafios para a efetivação do direito e a importância do acesso à graduação e à pós-graduação por esta comunidade.

 

A UnB já possui um histórico de atuação em ações afirmativas, sendo a primeira instituição de ensino superior no Brasil a decidir implantar autonomamente um plano de metas de inclusão racial, étnica e social. Agora, esse é mais um passo para reforçar o seu compromisso com a democratização do acesso ao ensino superior.

 

“A perspectiva de cotas para trans vem nessa ideia de mudar um mecanismo social que nos exclui tanto da educação quanto do emprego e da possibilidade de uma vida digna de várias formas”, afirmou Klaus Antônio Miranda, estudante de Turismo e diretor político do Centro de Excelência em Turismo (CET) da UnB.

 

Jaqueline Gomes de Jesus foi a primeira trans a se formar como doutora na UnB. Na opinião dela, promover esse diálogo em uma universidade “reforça o seu papel como espaço democrático, de produção de saberes e de frente à própria sociedade, para reavaliar como tem investido na população trans, por tudo que ela tem contribuído para esta cultura”. A egressa foi a primeira gestora do Sistema de Cotas para Negras e Negros da UnB, é professora de Psicologia do Instituto Federal do Rio de Janeiro (IFRJ) e tem protagonismo acadêmico com pesquisas voltadas para educação, estudos sociais e transvestigêneres.

 

A Universidade de Brasília já possui algumas ações afirmativas que incluem a população LGBTQIA+, realizadas por meio da Diretoria da Diversidade (DIV). O avanço em políticas institucionais é marcado pela garantia do uso do nome social e pela criação de uma unidade dedicada a cuidar das questões deste grupo – a Coordenação da Diversidade Sexual (Codsex).

 

“Eu vejo que a UnB tem muitas potencialidades, mas que a gente precisa virar a chave, no sentido de querer fazer essa mudança de uma forma efetiva, e não de uma forma confortável”, destacou Klaus Antônio Miranda. O estudante sugeriu a criação de um conselho participativo de pessoas trans para colaborar com a implementação dos direitos desse público “de uma forma que nós sejamos protagonistas”.

 

Também foi tópico principal do debate as ações afirmativas para permanência de estudantes trans na instituição. “A gente é expulso a partir do momento que as escolas e universidades não garantem políticas para a nossa permanência”, mencionou Maria Eduarda Krasny, estudante de Letras/Português da UnB e coordenadora da pasta de Mulheres e Gênero no Diretório Central de Estudantes (DCE).

Jaqueline Gomes de Jesus incentivou os estudantes a participarem de discussões na academia, “ainda mais na UnB, em que temos um lugar de voz muito importante”. Imagem: Reprodução/DEX

  

Jaqueline Gomes de Jesus defendeu que é preciso, ainda, pensar nas questões de acesso e permanência aplicadas aos docentes trans, fato que foi reforçado por Maria Eduarda Krasny. “Ter professoras como você é fundamental para a nossa formação e para a nossa identificação dentro do espaço acadêmico, institucional e do parlamento”, disse a estudante, dirigindo-se à doutora.

  

PENSAR ALÉM – O evento visou promover reflexões acerca da temática e divulgar argumentos para embasar sua relevância, justificada pelo contexto de vulnerabilidade da população trans às múltiplas violências social e familiar às quais está submetida.

 

Tal fato é corroborado pelos alarmantes dados sobre homicídios deste grupo no Brasil. O país ainda é o que mais mata pessoas trans no mundo, segundo o relatório de 2021 da Transgender Europe (TGEU), rede europeia que apoia os direitos desta comunidade. O documento aponta que 70% de todos os assassinatos registrados aconteceram na América Central e do Sul, sendo 33% no Brasil.

 

Em relação ao acesso à educação, apenas 0,02% das pessoas trans estão nas universidades, 72% não possuem o ensino médio completo e 56% não terminaram o ensino fundamental. Os dados são do Projeto Além do Arco-Íris, do Afro Reggae, publicados no dossiê Assassinatos e violência contra travestis e transexuais brasileiras em 2020, da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra). 

 

Para Thomas Cardoso, coordenador do Instituto Brasileiro De Transmasculinidades (Ibrat) de Sergipe, nesse contexto, embasado pelos números, também é indispensável pensar ações afirmativas para o ensino básico. “Precisamos falar não só de uma reparação para as universidades, é necessário entender que a nossa população não tem nem chegado às universidades. Precisamos falar de políticas de reparação e de acesso dentro das escolas”, ressaltou no debate.

 

Indo além das políticas de cotas, Thomas Cardoso frisou a importância de existir fomento a um ambiente acolhedor, que promova uma “rede de alianças e de afeto” para a população trans.

 

”Há uma aspereza na construção da burocracia e das relações interpessoais dentro das instituições de ensino superior que nos colocam para fora de um modo muito explícito”, explicou Izzie Amâncio, pós-graduanda na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). 

Klaus Antônio Miranda sugeriu que fossem oferecidas oportunidades profissionais aos estudantes trans da UnB, para assim garantir uma renda digna e a permanência na instituição, sem a necessidade de se submeterem a trabalhos arriscados. Imagem: Reprodução/DEX

 

O cuidado na elaboração de bancas avaliadoras também foi abordado. “Averiguar a identidade de um sujeito é muito complexo. É fundamental a garantia da lisura desse processo, que não pode ser de forma nenhuma pensado para facilitar à cisgeneridade outro espaço”, elucidou a estudante, que já foi avaliadora em bancas da UFSC.

 

“Podemos fazer com que as mesas avaliadoras sejam formadas por um conselho de pessoas trans que não busquem sistematizar os candidatos, mas sim ouvir suas histórias, acolher e entender que se não fosse pelas políticas de cotas, não conseguiriam entrar na universidade”, reiterou Klaus Antônio Miranda.


OUTRAS AÇÕES – 
A programação da Semana da Visibilidade Trans da UnB foi idealizada pela DIV e as propostas foram baseadas, especialmente, no protagonismo acadêmico das pessoas trans, com a valorização de suas produções. A construção das atividades envolveu a Coordenação LGBT e a Coordenação de Mulheres, por meio de reuniões ampliadas com a comunidade universitária, e teve apoio do Diretório Central de Estudantes (DCE) e do Decanato de Extensão (DEX).

 

O evento desta quinta-feira (27) foi transmitido pelo canal do DEX no YouTube. Houve emissão de certificado mediante inscrição prévia no Sistema Integrado de Gestão de Atividades Acadêmicas (Sigaa).

 

Além do debate, outras atividades marcaram a efeméride. Na manhã desta sexta-feira (28), a bandeira trans foi hasteada no mastro da Reitoria, no campus Darcy Ribeiro, e à tarde, o I Encontro de Pesquisadoras e Pesquisadores Trans da UnB fechou a programação da semana celebrativa. A transmissão do evento foi realizada pelo canal da UnBTV no YouTube.

 

Confira o debate Cotas para pessoas trans na Universidade:

 

*Estagiária de Jornalismo na Secom/UnB.

 

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