Após longos 21 dias, sendo cerca de sete em um navio do Rio de Janeiro à Antártica, a equipe do projeto BryoAntar chegou ao continente gelado em 27 de outubro e ocupou pela primeira vez a Estação Antártica Comandante Ferraz (EACF), inaugurada em 2020. Junto a outras quatro instituições científicas do Brasil, a UnB participou do retorno às atividades em campo do Programa Antártico Brasileiro (Proantar), paralisadas por quase dois anos devido à pandemia de covid-19. Os pesquisadores que estrearam a estrutura permanecerão no local até 22 de fevereiro.
O retorno marca o aniversário de 40 anos do Proantar, a retomada das pesquisas brasileiras na nova estação e a nomeação do seu primeiro coordenador científico, Paulo Câmara, professor do Instituto de Ciências Biológicas da UnB. A EACF é uma das três maiores estações dedicadas à pesquisa antártica no mundo e a maior da região da Península Antártica – com 17 laboratórios.
“Estamos fazendo um pouco de história. Não digo porque fui eu, mas porque acho que é a UnB fazendo história. O primeiro coordenador científico [da EACF] foi um professor da UnB, abrindo essas novas fronteiras”, ressalta Paulo Câmara, coordenador do projeto BryoAntar, que esteve na Antártica de outubro a dezembro de 2021.
A 40ª Operação Antártica (Operantar) acontece de uma forma diferente em relação às que a precederam. Antes da pandemia, o tempo de permanência dos pesquisadores na Antártica era limitado a um mês e dividido em seis fases, cada uma com um grupo de cientistas. Agora, a expedição teve que se adaptar a três meses no continente e a apenas duas fases.
O percurso era feito em quatro dias e contava com estadia no Chile, na cidade de Punta Arenas, de onde partiam de avião ou de navio para o destino. O Chile estava fechado devido à covid-19, por isso a equipe embarcou no Rio de Janeiro e cumpriu quarentena a bordo do navio de apoio oceanográfico da Marinha, o Ary Rongel, para depois seguirem à terra gelada. Todos foram testados antes do embarque, estavam vacinados com as duas doses da vacina e também fizeram testes antes do desembarque na EACF.
Devido às mudanças, principalmente na extensão do período, muitos docentes e estudantes de outras instituições não puderam participar do atual Operantar. “Mas nós conseguimos cumprir a missão, nossos alunos estão lá, apesar das dificuldades. Isso é legal porque mostra que o pessoal é guerreiro e não desiste fácil”, destaca Paulo Câmara.
A UnB realiza pesquisas na Antártica desde 2013, com o projeto Evolução e dispersão de espécies antárticas bipolares de briófitas e líquens – que envolvia o Ártico e a Antártica.
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TEMPO DESCONGELADO – A EACF foi inaugurada e logo veio a pandemia. Em 2020, Paulo Câmara e o professor Luiz Henrique Rosa, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), colaboraram com a escolha e montagem dos equipamentos que iriam integrar os laboratórios na nova estrutura. Na inauguração, a dupla recebeu e testou os novos materiais, que permaneceram sem uso por um longo período.
Nas atribuições de coordenador científico da EACF, Paulo Câmara testou, novamente, todos os equipamentos dos 17 laboratórios. Além disso, coube a ele organizar dinâmica de uso dos espaços, saídas de campo, mediar relações humanas e verificar permissões dos pesquisadores para operar alguns equipamentos.
Os alunos de pós-doutorado que integravam o projeto da UnB já defenderam suas teses, por isso a equipe presente na estação inaugura uma nova turma de pesquisadores. “Além de ser uma época difícil, quem foi é um pessoal mais inexperiente. Existe o desafio de formar uma nova geração”, avalia o docente.
A nova equipe está realizando estudos com o DNA ambiental da Antártica no âmbito do projeto BryoAntar: Conquistando a terra inóspita, que visa compreender como o continente gelado é colonizado. Com uma superfície de 14 milhões de quilômetros quadrados, a paisagem não se restringe a gelo e mar, existe vegetação – entender como essas plantas crescem ali e a origem delas faz parte do trabalho do grupo.
“Está sendo incrível, é minha primeira vez aqui e essa euforia se encontra com a de colegas que já vieram, e estão, como eu, sentindo que voltamos com tudo”, aprecia Dafne Anjos, estudante do décimo semestre do curso de Ciências Biológicas, envolvida com pesquisas sobre musgos antárticos desde 2018.
RELEVÂNCIA DAS PESQUISAS – A Antártica é quase dez por cento do planeta e possui a maior reserva de água doce do mundo. Tudo o que acontece no território afeta o nosso clima, como o regime de chuvas e de marés. Por sua relevância, é regida pelo Tratado Antártico, de 1º de dezembro de 1959. Hoje, somente 29 países têm poder sobre ela por realizarem pesquisas científicas no local, os chamados membros consultivos – o Brasil é um deles.
“Fazemos pesquisa. Essa pesquisa é uma geopolítica para que a gente mantenha o direito de voz, voto e veto nessa que é a maior reserva de água doce do planeta, de carboneto. É uma reserva para o futuro da humanidade do qual nós não podemos abrir mão, de jeito nenhum. O futuro do mundo está na Antártica. O último reduto de recursos naturais vai ser a Antártica”, enfatiza Paulo Câmara.
A equipe do projeto extrai amostras do solo, de diferentes tapetes de musgos, da neve e da água (congelada e marinha). O ar também é material de estudo. A coleta é feita por meio de bombas que puxam o ar e suas partículas, como, por exemplo, esporos de plantas. Assim, o DNA da membrana agarrada aos filtros é extraído para investigação.
“Esse material que está chegando [pelo ar] pode se desenvolver ou não pode? Isso vai dar uma noção para gente de como será a vegetação antártica nas próximas dezenas de anos, digamos assim”, aponta o coordenador do BryoAntar.
A maior prioridade era voltar a campo e reunir dados. Por exemplo, a coleta de ar é realizada anualmente e a equipe ficou um ano sem essas informações. “Sem pesquisadores por todo esse tempo a estação perde o sentido, trazer ele de volta é um prazer e uma honra para nós, ao contribuir com o papel do Brasil diante do Tratado Antártico e com a ciência como um todo”, frisa Dafne Anjos.
A estudante segue no continente gelado e retorna em fevereiro. No momento, há outro coordenador científico presente na estação, o professor Marcelo Ramada, da Universidade Católica de Brasília (UCB), egresso da UnB.
ACOMPANHE – Recortes do cotidiano das pesquisas da UnB na Antártica são compartilhados pelos estudantes no perfil do projeto no Instagram: @bryoantar.
*Estagiária de Jornalismo na Secom/UnB.
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