MÉRITO CIENTÍFICO

Projeto para transformar chorume em energia elétrica atesta excelência de time pioneiro na área no Centro-Oeste

UnB/Embrapa Team levou medalha de ouro pela performance na iGEM Design League. Da esquerda para a direita, os integrantes: Lucas, Isabela, Júlia, Maria Victória, Verônica e Ana. Foto: Arquivo pessoal

 

Medalha de ouro pela performance, campeões da categoria Energia, Meio Ambiente e Biodiversidade, indicados às menções especiais por práticas humanas, impacto social e como heróis locais, e única equipe brasileira entre os finalistas. A coleção de prêmios é conquista do UnB/Embrapa Team na versão latino-americana do torneio International Genetically Engineered Machine (iGEM), a iGEM Design League.

 

Pioneiro no Centro-Oeste na área de biologia sintética, o time surgiu em maio de 2021 e, dois meses depois, estreou na competição com o projeto Gilluz, cuja ideia central é utilizar microrganismos vivos modificados geneticamente para transformar em energia elétrica o líquido tóxico gerado pela decomposição do lixo do Aterro Sanitário de Brasília.

 

>> Saiba mais sobre o Gilluz

 

“Não tínhamos experiência nessa área. Então, não havia expectativa de nos tornarmos finalistas. Mas ao longo do desenvolvimento do projeto, passamos a acreditar no potencial da ideia e do nosso trabalho”, conta Maria Victória Luz, integrante da equipe. Iluminada até no sobrenome, como brincam os amigos, a estudante do curso de Biotecnologia relata que até o dia da premiação batia aquela sensação de “pezinho atrás”, acompanhada da dúvida se o projeto era mesmo bom o suficiente.

 

“Mas fomos vendo o reconhecimento dos jurados, das pessoas que anunciavam os prêmios, todos falando que orgulhamos o Brasil, que estavam muito felizes com as entregas que realizamos. Entendemos os frutos dos nossos esforços”, comemora a futura biotecnologista.

 

Seu colega de curso, Lucas Faro, compartilha o sentimento de surpresa e de extrema alegria. “Fiquei muito, muito feliz. A gente esperava ganhar alguma coisa, mas nunca pensamos que fôssemos levar a medalha de ouro e ainda vencer a categoria mais concorrida do torneio. Havia outros times extremamente competentes e engajados, não sei nem descrever esse momento.”

 

O EVENTO – A cerimônia de premiação, ocorrida virtualmente em novembro, foi acompanhada pelo grupo na casa de uma das integrantes da equipe. “Todo mundo já tinha tomado a segunda dose da vacina contra a covid-19. Foi muito emocionante. Assistimos e reagimos, pois eles abriram a câmera para darmos nosso gritinho”, comenta Maria Victória.

Momento do anúncio da premiação na categoria Energia, Meio Ambiente e Biodiversidade. Imagem: Reprodução

 

A estudante ressalta a importância de ter acompanhado o evento do início ao fim, uma forma de reconhecimento do trabalho das outras equipes, sobretudo as brasileiras. “Torcíamos para os demais times do nosso país inscritos no torneio como se fôssemos nós. O CNPEM.Brazil e o Ararinhas UFF ganharam prata pela performance, além de outras categorias. A gente queria prestigiar”, revela.

 

Representante do Team UnB/Embrapa na videochamada de premiação, a professora Cíntia Coelho, do Instituto de Ciências Biológicas (IB), agradeceu a participação de todos e demonstrou bastante orgulho da iniciativa.

 

À reportagem da Secretaria de Comunicação (Secom/UnB), a supervisora complementou que o reconhecimento da iGEM atesta a excelência do corpo discente e docente da Universidade de Brasília na biologia sintética, área relativamente nova na ciência, mas com contribuições relevantes para a bioeconomia mundial.

 

Para a professora, o diferencial do Gilluz reside no potencial para solucionar dois problemas de âmbito global: a biorremediação do chorume descartado, ou seja, o uso de microrganismos para degradar os componentes tóxicos do líquido, e a geração de energia.

 

A preocupação do projeto em propor saídas para o odor decorrente deste material, questão diretamente ligada à qualidade de vida da população local, também merece destaque, assim como o trabalho educacional desenvolvido. “Os alunos disponibilizaram capítulos [de e-book] com linguagem simples e acessível para explicar a ciência e escreveram um Minimanual de Libras para Ciências”, aponta Cíntia, que acompanha a equipe do Gilluz ao lado dos docentes Talita Carmo (IB/UnB) e Luciano Paulino (Embrapa).

 

PREPARAÇÃO – Os estudantes enfatizam que os meses de participação na competição foram intensos e difíceis. Desde o início do torneio, em julho, eles precisavam cumprir etapas e realizar “entregas”, seguindo o cronograma proposto pela organização.

 

“Chegamos a trabalhar mais de 40 horas semanais dedicadas ao projeto. Foram noites sem dormir, literalmente, nos esforçando da melhor forma e contando com feedbacks dos professores para evoluir”, lembra Maria Victória.

Ideia sustentada pelo projeto é utilizar microrganismos vivos para transformar chorume do Aterro Sanitário de Brasília em energia elétrica. Foto: SLU/Divulgação

 

A cada etapa, um novo desafio era colocado para o time. O primeiro passo foi planejar e construir o desenho do projeto, mostrando a situação problema e como ela poderia ser resolvida por meio da biologia sintética. “A ideia precisava, por exemplo, ter impacto nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU, ser segura biologicamente e possuir design integrado aos problemas da comunidade”, resume ela.

 

Além do mapa detalhando todo o caminho percorrido pelos estudantes, o grupo entregou um vídeo promocional e outro técnico, elaborou um infográfico educativo e projetou computacionalmente a “engenharia biológica” do protótipo que pretende transformar o chorume em energia.

 

“É nesta parte que entra, de fato, a biologia sintética. Selecionamos os microrganismos, desenhamos seu DNA, padronizamos de acordo com os critérios estabelecidos pela competição, otimizamos a proposta e realizamos os testes no computador”, enumera a estudante de Biotecnologia.

 

Ainda constam no planejamento todas as técnicas a ser usadas desde a coleta do chorume, possivelmente no aterro, até as testagens em laboratório. Maria Victória exemplifica que dentro do quesito de biossegurança foi pensado um sistema de kill switch para fazer com que o microrganismo seja eliminado no caso de contato com a luz, evitando assim mais contaminações.

 

A equipe também precisava incluir aspectos de empreendedorismo, inovação, criatividade, arte e as chamadas práticas humanas, tais como as visitas in loco, a colaboração com a comunidade e a busca de feedbacks de especialistas para validar o que foi proposto pelo grupo de forma independente.

 

“Conversamos com especialistas de várias partes do mundo para saber se estávamos indo no caminho certo. Foi uma experiência ótima porque muitas vezes confirmamos que as nossas propostas eram condizentes com a realidade”, opina Maria Victória.

 

APRENDIZADO – Na avaliação dos membros do Gilluz, a participação trouxe amadurecimento científico e pessoal. Lucas Faro menciona a oportunidade de conhecer uma área na qual ele ainda não tinha atuado durante a graduação. “Não é só uma competição legal. Tive que estudar e aprendi muita coisa. Era preciso pensar no que íamos fazer, com quem tínhamos que falar, no que estava faltando, onde era necessário melhorar, no impacto da nossa ciência para a vida das pessoas. Tudo isso mudou como eu enxergo a minha vida profissional e acadêmica.”

 

“Falamos sobre empoderamento feminino na ciência, acessibilidade, divulgação científica para leigos, publicamos com outras equipes do Brasil e da América Latina. O projeto deu visibilidade para estudantes de graduação que querem fazer pesquisa de impacto social”, sintetiza Maria Victória.

 

A convivência no projeto com integrantes de vários cursos – além da Biotecnologia, o time contou com alunos de Farmácia, Administração, Biologia e Agronomia – revelou ainda a dimensão do aprendizado humano. “Convivemos com pessoas distintas, de áreas, idades e momentos diferentes. Aprendemos a comunicar e a confiar uns nos outros, conhecer os nossos limites e conviver com backgrounds diversos. Foi fantástico”, comenta Lucas.

 

Os próximos passos do projeto ainda não estão delineados pelo grupo, que irá se reunir em 2022 para dar continuidade à ideia. Mas a vontade de vê-lo virar realidade é praticamente unânime. Cíntia Coelho testemunhou a evolução da capacidade de avaliação crítica científica dos integrantes, característica que, na visão da professora do IB, é essencial para se produzir ciência de qualidade.

 

“Eles modificaram o projeto diversas vezes, sempre em busca de aperfeiçoamento e embasados por uma extensa revisão de literatura. Estão preocupados com os próximos passos, consideram o recurso financeiro a ser despendido e o retorno que podem trazer para a sociedade. Pontos que só demonstram o amadurecimento desses alunos”, analisa a supervisora do time.

  

Conheça o projeto:

  

 

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