É preciso aprimorar o sistema de avaliação da pós-graduação utilizado hoje no país. A opinião foi unânime durante o debate ocorrido na última sexta-feira (15), no auditório da Reitoria, na segunda sessão deste ano da comissão UnB.Futuro. De acordo com os três convidados, Elizabeth Balbachevsky, Jose Antonio Rocha Gontijo e Sylvio Roberto Accioly Canuto (veja perfil abaixo), o Qualis – instrumento fornecido pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e bastante utilizado – funciona, mas ainda tem de melhorar.
Sylvio Canuto, professor do Instituto de Física da Universidade de São Paulo (USP), membro titular da Academia Brasileira de Ciências e coordenador da área de Astronomia e Física junto à Capes, reforçou que o processo de avaliação busca sempre a excelência. E, para isso, deve ser melhorado. “Não é uma tarefa fácil fazer avaliação. A Capes tem um sistema que tem funcionado bem, mas certamente precisa ser aprimorado, e isso tem sido discutido. Estamos ansiosos para receber um relatório com sugestões de avaliação”, revela.
O professor Jose Antonio Rocha Gontijo, pesquisador da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e coordenador da área de Medicina I na Capes, explica que existem outros meios de avaliação da pós-graduação no Brasil, mas o Qualis tem trabalhado para classificar a produção dos estudantes e para estimular a qualificação das pessoas vinculadas à pesquisa.
“Qualificar é um processo dinâmico, que tem que ser melhorado no sentido do indivíduo (o que ele incorporou em sua qualificação) e da publicação. O Qualis é um instrumento que avalia a produção publicada em revistas ou livros. Podemos melhorá-lo, tornando-o mais homogêneo dentro de uma área ou mais comparável entre as grandes áreas do conhecimento. Um desafio é torná-lo mais compreensível entre os profissionais das diversas áreas”, afirmou Gontijo.
Elizabeth Balbachevsky, professora associada da USP que desenvolve pesquisas na área de Políticas de Ciência, Inovação e Ensino Superior, garantiu que a pós-graduação do país está entre as melhores do mundo. “A pós-graduação brasileira impressiona em termos de números e de qualidade, o que é um feito raro nos países em desenvolvimento. Temos uma pós densa, ligada à pesquisa, que forma o profissional com qualidades reconhecidas internacionalmente. Mas precisamos aprimorar o processo de avaliação e considerar outras avaliações que não apenas a da Capes”, diagnosticou.
O decano de Pesquisa e Pós-graduação da UnB, Jaime Santana, ressaltou que uma boa avaliação é aquela que não só diz se o curso está bom ou ruim, mas que aponta caminhos para se melhorar e atingir a excelência. “Aqui fizemos uma reflexão profunda sobre a avaliação da pós-graduação no país. Os três convidados são pessoas que realmente entendem do assunto, têm propostas, preocupações e trabalham para melhorar o sistema”, declarou Santana.
DEBATEDORES – Jose Antonio Rocha Gontijo possui graduação em Medicina pela Universidade de Brasília (1981), mestrado e doutorado na mesma área pela Universidade de São Paulo (1986 e 1990, respectivamente) e fez estágio de pós-doutoramento na Universidade de Iowa (EUA) entre 1992 e 1994. Foi coordenador de programas de pós-graduação e participou ativamente da diretoria da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp até 2010. Atualmente, é professor e pesquisador da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e coordena a área de Medicina I da Capes.
Bacharel (1971) e mestre (1974) em Física pela UnB, com doutorado em Química Quântica pela Universidade de Uppsala (Suécia) em 1979, Sylvio Canuto hoje é professor titular do Instituto de Física da USP. Antes, foi docente do Departamento de Física da Universidade Federal de Pernambuco e professor visitante em mais de 20 diferentes instituições internacionais. Foi chefe de departamentos de Física e atualmente é membro titular da Academia Brasileira de Ciências e da Academia de Ciências do Estado de São Paulo, além de coordenar a área de Astronomia e Física junto à Capes e participar do Conselho Superior da Capes.
Já Elizabeth Balbachevsky se formou em Ciências Sociais pela USP (1981), cursou mestrado (1987) na mesma área pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e doutorado (1995) em Ciência Política pela Universidade de São Paulo, onde hoje é professora associada e atua como livre docente. Elizabeth desenvolve pesquisas na área de Políticas de Ciência, Inovação e Ensino Superior, e tem estudos na área de comportamento político. É vice-coordenadora do Núcleo de Pesquisa sobre Políticas Públicas na USP, e associada ao Higher Education Group (grupo de educação superior) da Universidade de Tampere, na Finlândia.
UnB.FUTURO – A Comissão UnB.Futuro é um espaço de reflexão, conduzido pelo Decanato de Pesquisa e Pós-Graduação (DPP) em parceria com o Núcleo de Estudos do Futuro da UnB (n-Futuros/CEAM), em que se propõem ideias e ações para construir um modelo de universidade compatível com a realidade e com as demandas da sociedade contemporânea.
Ao longo do ano, são promovidas diversas reuniões para debater temas ligados à educação, cultura e ciência e tecnologia. A partir do assunto escolhido, faz-se o convite para que um especialista do assunto ministre conferência introdutória à comunidade acadêmica, seguida de debate.