BIOLOGIA CELULAR

Cientista estadunidense compartilhou vivências e falou sobre avanços em estudos que podem contribuir para o combate à doença de Parkinson

Movido pela curiosidade por microrganismos, Schekman leciona há 48 anos na Universidade da Califórnia, EUA. Foto: Raquel Aviani/Secom UnB 

 

Do uso de um microscópio de brinquedo na infância à liderança de pesquisas que buscam combater a doença de Parkinson (DP). Randy Schekman compartilhou sua caminhada de professor e pesquisador em biologia celular em palestra, nesta terça-feira (26), no Auditório da Associação dos Docentes da Universidade de Brasília (ADUnB), campus Darcy Ribeiro, Asa Norte. Vencedor do Prêmio Nobel de Fisiologia ou Medicina em 2013, o cientista estadunidense explicou como está organizada a rede de estudos que busca montar o quebra-cabeça biológico contra a DP.

 

O papel dos genes, das células e da ciência básica nas descobertas e nas doenças é o titulo da apresentação, que durou 80 minutos, incluído o tempo para perguntas da plateia. Logo no início, Schekman contou sobre o despertar de sua curiosidade pelo universo da microbiologia. “Por motivos que não consigo entender ou explicar, desenvolvi o interesse por microrganismos quando era criança. Tinha um microscópio de brinquedo que, mais tarde, me fez comprar um profissional”, disse ele, filho de um engenheiro e de uma dona de casa.

 

Na escola, Schekman levava os achados de suas lâminas às feiras de ciência. A carreira na Biologia Celular foi consequência de sua curiosidade na infância. Professor da Universidade da Califórnia em Berkeley, nos Estados Unidos, desde 1976, o cientista ganhou notoriedade com avanços em pesquisas com leveduras desenvolvidas em parceria com Peter Novak, seu ex-aluno e hoje membro da Academia Nacional de Ciência dos Estados Unidos. Eles observavam mutações em membranas celulares que ajudaram a entender o comportamento de genes e proteínas.

 

Da relativa simplicidade das células das leveduras às complexas células humanas, os achados das pesquisas de Randy Schekman avançam para as investigações de doenças neurodegenerativas. Ele é um dos fundadores do grupo Aligning Science Across Parkinson’s (ASAP), entidade que reúne cientistas de mais de 80 instituições em 14 países na busca por mecanismos de combate à doença de Parkinson. O acrônimo ASAP é proposital: significa algo como “o mais rápido possível”, em tradução do inglês, o que reforça a pressa por respostas para a doença.

Cientista apresenta dados e perspectivas sobre o tratamento da doença de Parkinson. Foto: Raquel Aviani/Secom UnB   

 

A DP, como apresentou Schekman, é uma doença com incidência crescente e intriga a comunidade científica. Em 2005, eram 4,1 milhões de acometidos entre indivíduos com mais de 50 anos dos dez países mais populosos do mundo somados aos cinco mais populosos da Europa Ocidental. Esse número deve chegar a 8,7 milhões em 2030. A previsão é de que 4% dessas pessoas estejam no Brasil. As questões biológicas por trás da doença são comparadas pelo cientista a um quebra-cabeça com milhares de peças. Entre as partes que demandam respostas estão disfunções mitocondriais, neuroinflamações e apoptose (morte celular) provocadas nos organismos doentes.

 

Os estudos da DP têm relação com o contexto pessoal de Randy Schekman. A esposa dele foi diagnosticada com a doença em 1996, aos 48 anos, e faleceu duas décadas depois. O cientista apresentou fotos evidenciando a piora do quadro dela, que passou os últimos anos sem conseguir construir raciocínios e sem se comunicar. Para o futuro, ele se mostra esperançoso com a possibilidade de, por meio do avanço das pesquisas, “trazer o fim ou, ao menos, controlar essa terrível doença”.

 

Embora tenha sido a primeira visita de Schekman à UnB, o cientista é Doutor Honoris Causa pela instituição. O título foi concedido no ano passado em sessão remota, e entregue, de forma física, nesta terça, pelas mãos da reitora Rozana Naves e do vice-reitor Márcio Muniz. Ao fim da palestra, o visitante almoçou com estudantes no Salão de Atos da Reitoria. 

 

OPORTUNIDADE PARA A VIDA – Rozana Naves disse ter sido um privilégio receber o vencedor do Nobel e avaliou o momento como marcante para a trajetória acadêmica e científica da Universidade. “Seu trabalho revolucionário na compreensão dos mecanismos de transporte intracelular de proteínas inspirou cientistas em todo o mundo e trouxe avanços inestimáveis para a Biomedicina”, afirmou a reitora.

Comunidade acadêmica tem diálogo inspirador com vencedor do Nobel. Foto: Raquel Aviani/Secom UnB 

 

A chance de ouvir e dialogar com um vencedor do Nobel foi aproveitada ao máximo pela estudante de Biotecnologia Brenda Martins. Com histórico familiar de doenças degenerativas, ela foi uma das que questionaram Schekman ao fim da palestra. “Foi uma excelente oportunidade, principalmente para quem se interessa por Engenharia Genética e Biologia Molecular”, disse. Inspirada pelas circunstâncias, ela quer dar sequência a pesquisas na área e auxiliar no desenvolvimento da Genesys, a empresa júnior de Biotecnologia em que é vice-presidente.

 

A palestra de Randy Schekman foi possibilitada pelo apoio da empresa farmacêutica AstraZeneca e da Fundação Nobel. As organizações foram representadas na palestra, respectivamente, pela diretora executiva de relações corporativas, Marília Gusmão, e pelo chefe científico de divulgação, Adam Smith. A embaixadora sueca Karin Wallensteen também esteve presente e falou sobre a relevância do Prêmio Nobel, atribuído pela Academia Real das Ciências da Suécia.

 

O museu dedicado ao prêmio em Estocolmo, capital do país escandinavo, passou a contar com mais um item. O primeiro microscópio adquirido por Schekman, aquele que sucedeu o de brinquedo, agora faz parte do acervo e pode vir a ser descrito como um equipamento que originou estudos para tratar e melhorar a qualidade de vida de milhões de pessoas.

 

Confira a íntegra da palestra, transmitida pela UnBTV: 

 

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