Professor da Universidade da Califórnia, doutor em biologia celular e renomado pesquisador na área da biologia molecular, Randy Schekman recebeu o título de Doutor Honoris Causa da Universidade de Brasília. O trabalho do homenageado tem fortes contribuições no sistema de transporte de proteínas em células, incluindo a identificação de genes que controlam a formação de vesículas intracelulares e os mecanismos que regulam a fusão dessas vesículas com a membrana celular.
“Esses estudos figuram hoje como fonte inesgotável de avanço para a ciência nas áreas de biologia e medicina”, afirmou a vice-diretora da Faculdade de Ciências da Saúde (FS), Solange Baraldi, oradora responsável por apresentar a trajetória do agraciado. Schekman levou o Nobel de Medicina em 2013. A proposta da entrega do título foi feita pela FS em 2020. A cerimônia on-line aconteceu na tarde de quarta-feira (17).
“A compreensão do sistema de transporte de proteínas pode auxiliar no desenvolvimento de novas terapias para doenças neurodegenerativas, imunológicas e metabólicas, como o Alzheimer, esclerose múltipla, Parkinson e diabetes, por exemplo”, explicou a professora.
Segundo ela, além dos possíveis avanços para a área da medicina, os estudos de Schekman contribuem também na área de biotecnologia e agricultura. “As técnicas desenvolvidas a partir de suas pesquisas podem melhorar a eficácia e qualidade da produção de proteínas recombinantes, permitindo a criação de novos medicamentos e a produção de plantas mais resistentes a doenças, também”, salienta Baraldi.
“Espero estar presencialmente na UnB em breve para conversas mais aprofundadas e assuntos de interesse mútuo em biologia celular", disse o agraciado ao iniciar o discurso. Dizendo-se muito honrado, o doutor compartilhou em sua apresentação de 20 minutos uma aula inspiradora, para apreciação mais profunda de como a ciência básica levou à revolução da saúde humana e da tecnologia, com aplicações e exemplos.
O pesquisador abordou o histórico desde a descoberta do DNA e a definição dos 23 cromossomos. Também apresentou novas tecnologias e fez apontamentos de que, no futuro, será fácil carregar nosso sequenciamento genético em um chip ou cartão, o que facilitaria intervenções médicas no tratamento de doenças genéticas. Além disso, levantou questões éticas que deverão ser abordadas para que alterações nos genes possam ser realidade.
“O desafio para nós ao redor do mundo é como aplicar as novas tecnologias para a cura de doenças genéticas, por meio da alteração de genes. Atualmente, ainda há o banimento do uso dessa tecnologia para mudança de embriões, porque ela ainda não é perfeita. Mas, quando esses problemas forem resolvidos, como a sociedade lidará com isso?”, provocou o professor.
Durante a cerimônia, além de destacadas as realizações notáveis de Randy Schekman, que continuam a ter impacto na compreensão dos processos fundamentais das células, também foram citadas a relevância do investimento em ciência e fortalecimento das instituições acadêmicas para produção e divulgação dos resultados de pesquisas científicas.
O reitor em exercício Enrique Huelva destacou a falta de reconhecimento da ciência brasileira. “Nos últimos sete anos, mais de 10 bilhões de reais em financiamento de ciência no Brasil deixaram de ser aplicados. O que afeta principalmente as instituições públicas, onde se produz mais de 95% do conhecimento científico”, observou.
Ele disse ainda que a biografia do professor mostra a importância da ciência básica e colabora para mostrar o equívoco que é exigir respostas rápidas para problemas complexos: “A ciência tem sua temporalidade própria, não é imediata, mas tem ampla aplicabilidade, como é o caso do trabalho do professor.”
BIOGRAFIA – Randy Schekman nasceu nos Estados Unidos, em 1948. É professor da Universidade da Califórnia desde 1976. O especialista em biologia celular venceu o Prêmio Nobel de Fisiologia ou Medicina em 2013, ao lado de James Rothman e Thomas Südhof, com o registro de mais de 17 mil pessoas on-line para a audiência de entrega do prêmio.
“Partilhar a experiência de um laureado com Nobel é reverenciar a ciência e o conhecimento científico. Em uma sociedade civilizada, madura e socialmente justa, não há maior patrimônio que o conhecimento e a cultura", disse o diretor da Faculdade de Saúde, Laudimar Oliveira.
O trabalho do cientista revolucionou a compreensão sobre a forma como as células secretam suas proteínas para o exterior, sendo um dos pioneiros na identificação e caracterização dos genes responsáveis pela via de transporte vesicular, um mecanismo crucial para o tráfego intracelular de proteínas.
Suas descobertas levaram à identificação de diversos genes envolvidos nesse processo, conhecidos como genes de transporte vesicular, e lançaram as bases para o entendimento de doenças relacionadas a disfunções nessa via, como diabetes e distúrbios de coagulação.
Doutor Schekman também ajudou a fundar a revista de acesso livre e revisão aberta, eLife. Uma das publicações científicas mais respeitadas em todo o mundo, tem como objetivo acelerar o processo de publicação e tornar a ciência mais ampla e acessível.
Após perder sua esposa para a doença de Parkinson, em 2017, o ganhador do Nobel foi convidado a liderar uma grande linha de pesquisa, alinhando a ciência básica com a doença. O projeto conta atualmente com uma rede internacional de pesquisa colaborativa de 34 equipes, compreendendo 163 pesquisadores principais, em 80 instituições, de 14 países e mais de meio milhão de dólares investidos, para entender as origens e meios de progressão da doença.
Os presentes salientaram como a carreira exemplar e o compromisso com a pesquisa científica de Schekman servem de inspiração para gerações futuras de cientistas e deixam um legado importante no avanço do conhecimento e na busca por soluções para problemas complexos.
Confira a cerimônia de outorga do título:
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