Quando nasce um bebê, nasce uma mãe. A clássica frase sobre a maternidade é real, mas esconde um romantismo enraizado sobre os papéis cumulativos das mulheres. A verdade é que, por trás da maternidade há lutas e uma sociedade que ainda invisibiliza as dificuldades diárias. Para atender demandas dessa parcela da comunidade acadêmica, a Coordenação de Mulheres (Codim) da Secretaria de Direitos Humanos (SDH) da UnB compôs recentemente o Grupo de Trabalho de Mães na UnB.
A composição do grupo foi aprovada na primeira reunião, em abril, e conta com servidoras técnico-administrativas, docentes, estudantes da graduação e da pós-graduação, além de representantes dos quatro campi e da SDH. “O GT é muito importante para a gente ter maior poder de deliberação, em um trabalho contínuo e permanente, por meio dessa institucionalização. Ele vai nos permitir fazer o mapeamento e acompanhar as demandas até que as políticas sejam efetivamente aplicadas”, afirma a estudante de graduação Tcherry Félix, representante do Coletivo de Mães.
“Nosso primeiro trabalho é a aplicação de um questionário para levantamento de dados sobre a comunidade materna e de cuidadores, para ter um olhar mais completo das necessidades prioritárias”, pontua a coordenadora das Mulheres da SDH, Roberta Cantarela. “Assim, vamos poder acolher as pautas gerais e específicas e dar voz a esse público dentro de cada vivência na Universidade, de forma institucionalizada, que facilita a chegada de demandas até a gestão administrativa."
Reivindicações vindas de muito tempo, voltadas a garantir a permanência das mães na Universidade, vêm sendo atendidas progressivamente. São exemplos a recente inauguração de 41 fraldários no campus Darcy Ribeiro e a construção em andamento da creche, designada de Centro de Ensino da Primeira Infância (Cepi), e do Centro Multidisciplinar de Pesquisa em Primeira Infância. As obras devem ser concluídas até o fim de 2023.
Também foi criado o Programa Auxílio Creche, oferecido a estudantes de graduação em vulnerabilidade socioeconômica. Em 2020, foi aprovada a resolução que acrescenta 12 meses ao período que abarca a produção científica de professoras para comprovar desempenho acadêmico e feita a ampliação dos prazos para que docentes com produções científicas e estudantes de pós-graduação grávidas não tenham prejuízos nos estudos.
Em 2021, foi criada a Câmara de Direitos Humanos e aprovada a política de direitos humanos na UnB. Já em 2022, teve início os trabalhos da Secretaria de Direitos Humanos. Mesmo diante das conquistas, o signo do Dia das Mães, neste segundo domingo de maio (14), reforça o estado de alerta dessas mulheres em suas lutas, diálogos e debates dentro da UnB.
COLETIVO – “Lutar, refletir e propor reflexões é garantir que mães estudantes sejam respeitadas, acolhidas e tenham seu direito de ser mãe, mas também de serem estudantes, assegurado”, diz trecho da carta de demandas escrita pelo Coletivo de Mães, criado em 2016 por estudantes da UnB.
Hoje, o grupo inclui representantes de todas os segmentos da comunidade acadêmica, segundo as integrantes. Entre as demandas apresentadas no documento, está a disponibilização de espaços de cuidado para a amamentação, retirada de leite e descanso, que ofereçam apoio e suporte para crianças e seus cuidadores.
Garantir treinamento em direitos humanos, questões de gênero, maternidade, racismo e lgbtfobia dos servidores da Universidade, para minimizar casos de assédio e violência, é outro ponto. Bem como a adaptação dos espaços para oferecer apoio e suporte às crianças, sem exclusão delas e de suas mães.
Cotas nos editais de pesquisa e bolsas; disponibilização de ensino remoto ou ampliação de atividades domiciliares; projetos de extensão voltados à saúde mental no contexto da maternidade; tarifa especial no Restaurante Universitário para as crianças também estão entre as demandas levantadas pelo Coletivo.
“Sou mãe e uma mulher que por muito tempo da sua vida não foi mãe, além de pesquisadora na área de educação. Me encaixo em diferentes papéis, mas quero melhorar minha atuação como docente e contribuir também em termos de apoiar alunas, para que elas possam se permitir ter um filho, sem renunciar à carreira acadêmica”, expressa a docente da Faculdade de Educação Benedetta Bisol.
Ela conta que se tornou mãe aos 45 anos, "tarde para os padrões da sociedade" e enfrenta todas as dificuldades da maternidade, principalmente pela falta de rede de apoio, já que a família mora em sua terra natal, na Itália. "Acredito que o GT vai servir para discutir e dar visibilidade a vários temas ligados à maternidade, inclusive de pesquisas e até mesmo ao fato de a gente ter que justificar ter que sair de uma reunião para buscar o filho; como se ser mãe atrapalhasse ser pesquisadora", desabafa.
SOLICITAÇÕES – Dentre as técnicas administrativas, outras demandas surgem. A dificuldade em conciliar a carga horária, os horários e calendários da Universidade com os das escolas, o tempo de locomoção entre casa e trabalho, a falta de uma creche/escola dentro da Universidade e de rede de apoio com as rotinas da maternidade estão entre as principais queixas.
“Sinto que após nos tornarmos mães, ficamos de lado, sem nenhum tipo de incentivo em um momento de tantas mudanças. Eu senti na pele a falta de apoio para seguir no posto que trabalhei e tanto me dediquei durante todo período que nele estive, inclusive na gestação”, relata Andrea Campos, mestranda em Engenharia Mecatrônica e servidora de Tecnologia da Informação na Faculdade de Ciências da Saúde.
“Cuidar de uma criança com necessidades especiais, não verbalizada, que faz 16 horas de terapia por semana, que é o meu caso, é ainda pior do que todo o trabalho que já têm as mães de crianças típicas”, pontua Susana Xavier, técnica administrativa da Faculdade de Ceilândia e cuidadora do neto autista.
Além de fazer parte do GT de mães, Susana compõe um grupo de mulheres técnicas administrativas que se articula por WhatsApp. O grupo pretende enviar à reitoria uma carta com demandas e reivindicações específicas para melhorar as condições de trabalho da categoria.
Elaborado em conjunto por mais de 50 mulheres signatárias, o documento defende a flexibilização da jornada de trabalho para os cuidadores de crianças, cita sobrecargas, falta de sensibilidade e empatia por parte dos colegas de trabalho, dificuldades para manter qualidade de vida e saúde mental após a maternidade. “Vimos solicitar à gestão superior analisar as especificidades das mulheres mães, construindo conosco caminhos e possibilidades que garantam uma universidade inclusiva, participativa e atuante no sentido de fazer valer direitos iguais para as desiguais”, diz parte do texto.
Reportagem da UnBTV aborda desafios das mães na UnB e apresenta o Grupo de Estudos e Pesquisa sobre Maternidade, Parentalidade e Sociedade (Gmater):
Leia também:
>> Pesquisa de mestrado mapeia aspectos socioculturais das tranças afro
>> Estudantes oferecem a artesãos curso gratuito de empreendedorismo em mídia social
>> Bolsas para atuar com esporte, arte e cultura têm inscrições abertas
>> Comunidade se envolve na retomada da prática de canoagem na UnB
>> Gestão ouve demandas da FAV em encontro com técnicos, professores e estudantes
>> Altaci Rubim assume coordenação no Ministério dos Povos Indígenas
>> TST doa mais de 600 equipamentos de informática para a UnB
>> CAD aprova criação de Administração de Compossuidores para prédios residenciais da UnB
>> Auxílio socioeconômico terá reajuste de 7,5%
>> UnB e startup francesa vacinam macacos contra toxoplasmose
>> Conselho Diretor da UnB é apresentado a dados sobre a BCE e sobre o Relatório de Gestão 2022
>> Escultura no campus Darcy Ribeiro homenageia o fundador da UnB
>> UnB e Universidade Católica de Brasília planejam formalização de parceria
>> Consuni especial pelos 61 anos da UnB é marcado por homenagens
>> Edward John Hinch recebe título de Professor Honoris Causa
>> Hospital Universitário realiza maior número de transplantes renais no DF em 2022
>> Iniciativas lançam olhares sobre literatura de autoras negras
>> Lançamento da nova edição da Darcy traz debate sobre a fome no Brasil